Há 103 anos, em 1º de julho de 1921, era fundado em Xangai o Partido Comunista da China (PCCh). Com mais de 95 milhões de filiados, o PCCh é o segundo maior partido político do mundo.
Arquiteto da Revolução Chinesa e fundador da República Popular da China, o PCCh se mantém no poder desde 1949, em conjunto com outros oito partidos que compõem a Frente Unida. O partido detém 70% dos assentos do Congresso Nacional do Povo — aproximadamente 2.100 cadeiras. Os deputados são eleitos pelos congressos populares, formados pelo voto direto, e se reúnem a cada cinco anos para eleger o Comitê Central.
O PCCh se organiza com base no centralismo democrático — sistema que combina discussão livre à unidade na manutenção das políticas acordadas. Seu órgão central é o Comitê Permanente do Politburo do PCCh (CPP), responsável pelos atos legislativos quando o Congresso Nacional não está em sessão.
A fundação do PCCh é fruto de um contexto atribulado, marcado por profundas mudanças políticas. Em 1911, Sun Yat-Sen liderou uma sublevação que depôs a Dinastia Qing, desgastada pela corrupção e pelas constantes intervenções estrangeiras. A instauração da República encerrou quase 2.000 anos de regime imperial, mas não conseguiu conter as forças centrífugas, o processo de militarização das províncias e as disputas políticas entre os “senhores da guerra”.
Após o triunfo da Revolução de Outubro de 1917 na Rússia, os ideais socialistas e anarquistas ganharam força entre os estudantes e intelectuais chineses, nomeadamente Chen Duxiu e Li Dazhao, professores da Universidade de Pequim. Ao mesmo tempo, crescia o sentimento nacionalista e anti-imperialista entre os chineses. Em 1919, eclodiu o Movimento de Quatro de Maio, motivado pelo descontentamento popular com a ocupação japonesa nos territórios de Shandong.
Enquanto o pensamento marxista se expandia na China, era fundada na Rússia a Internacional Comunista (Comintern) — organização voltada a impulsionar a difusão do ideário socialista e concretizar a revolução mundial. O dirigente bolchevique Grigori Voitinsky foi enviado para Xangai, onde fundou o Secretariado do Extremo Oriente da Comintern e estabeleceu contato com grupos marxistas em toda a China.
Com apoio do Comintern, esses grupos se fundiram para formar o Partido Comunista da China. O congresso de fundação do PCCh foi sediado em Xangai em julho de 1921, contando com a presença de 13 delegados, incluindo Mao Tsé-Tung. Chen Duxiu foi eleito como primeiro secretário-geral do partido.
Após a fundação, o PCCh buscou estabelecer uma aliança com o Kuomintang (KMT) — o Partido Nacionalista Chinês, fundado por Sun Yat-Sen após a deposição da Dinastia Qing. Cooptando o apoio da ala esquerda do Kuomintang, os comunistas deram início ao movimento revolucionário armado, organizando uma campanha militar bem sucedida nas províncias setentrionais da China. Vitoriosa, a expedição enfraqueceu o domínio feudal e o poderio dos “senhores da guerra” no norte chinês, mas a aliança com o Kuomintang foi comprometida após a morte de Sun Yat-Sen.
Avesso à ideia de luta de classes, o comandante Chiang Kai-Shek assumiu a liderança dos nacionalistas e rompeu com o PCCh. Em 1927, Chiang Kai-Shek ordenou o massacre de 5.000 comunistas em Xangai. O expurgo anticomunista foi levado a cabo também por seus correligionários em outras cidades. Em Pequim, Zhang Zuolin ordenou a execução de 20 dirigentes comunistas, incluindo Li Dazhao, ao passo que as tropas de He Jian fuzilaram centenas de guerrilheiros comunistas em Changsha. Posto na ilegalidade, o PCCh perdeu cerca de 50 mil membros durante esse período de repressão brutal.
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O general Zhu Du liderou a reação das forças comunistas e tentou tomar Nanchang em agosto de 1927, mas não obteve sucesso. Mao Tsé-Tung assumiu então a direção das tropas, renomeadas como “Exército Vermelho dos Trabalhadores e Camponeses da China”. Derrotado durante a Revolta da Colheita de Outono, retirou-se com os sobreviventes para o leste, em direção às montanhas de Jiangxi.
Liderou então um contingente de 100 mil homens durante a chamada “Grande Marcha”, percorrendo 9.600 quilômetros pelo interior do território chinês, consolidando a identidade do movimento e conscientizando os camponeses sobre os ideais socialistas. Paralelamente, o PCCh foi inteiramente reformulado. A criação do Politburo permitiu maior centralização das decisões na cúpula. Chen Duxiu foi expulso do partido em função de sua gestão desastrosa, passando a liderar o movimento trotskista chinês. O Comintern também interveio no partido para remover o seu sucessor, Li Lisan, considerado igualmente inepto.
Mao Tsé-Tung, Zhou Enlai e Zhang Wentian ascenderam então como principais lideranças da agremiação.
Com o advento da Segunda Guerra Sino-Japonesa e a ocupação da Manchúria, o PCCh e o Kuomintang selaram uma trégua e se dedicaram a expulsar os invasores japoneses. O PCCh aproveitou o armistício para expandir seu domínio e criar novas bases de operação. Esse processo se manteve ao longo da Segunda Guerra Mundial, beneficiando os comunistas, que consolidaram seu controle sobre uma vasta extensão do território chinês.
Com o auxílio de tropas japonesas e norte-americanas, o Kuomintang conseguiu retomar algumas das áreas sob controle do PCCh. Apoiados pelos soviéticos, os comunistas reagiram lançando uma bem sucedida campanha militar na Manchúria. O PCCh também incitou sublevações populares e protestos de estudantes nas regiões sob domínio dos nacionalistas. Desgastado pelo controle autocrático de Chiang Kai-Shek, fragmentado pelas disputas internas e enfraquecido por deserções em massas, o Kuomintang também perdeu o que lhe restava de apoio popular, erodido pela insatisfação com o autoritarismo e com a corrupção endêmica da instituição.
Após três anos de combates intensos, o PCCh obteve a vitória. Mao Tsé-Tung assumiu a liderança do governo revolucionário e os nacionalistas se refugiaram em Taiwan.
Em 1º de outubro de 1949, a República Popular da China foi oficialmente proclamada. Os primeiros anos do governo revolucionário foram dedicados à reconstrução do país, devastado por décadas de guerra civil e conflitos com forças externas. A União Soviética forneceu importante auxílio econômico.
Foram instituídos os planos quinquenais e a estratégia de formação de grandes complexos industriais. Em 1958, Mao Tsé-Tung lançou a campanha do “Grande Salto Adiante”, iniciando a coletivização das terras e a criação das comunas populares. O período foi marcado por disputas políticas. A autoridade de Mao Tsé-Tung foi contestada por Liu Shaoqi e outros dirigentes do PCCh, favoráveis a uma política econômica mais ortodoxa. No campo das relações exteriores, as divergências programáticas culminaram no rompimento das relações com a União Soviética.
Objetivando consolidar a revolução e debelar os intentos revisionistas, Mao Tsé-Tung lançou em 1966 a “Grande Revolução Cultural Proletária”. O movimento visava impulsionar mudanças políticas tornando a administração chinesa menos elitista e estimulando os jovens à experiência revolucionária. O movimento se espalhou pelo país e foi apoiado pela juventude urbana (organizada em torna da Guarda Vermelha), mas foi repleto de excessos e eivado por perseguições e expurgos injustos, ao mesmo tempo em que fomentou conflitos entre os dirigentes e disputas de facções que acabaram por ampliar o ambiente de instabilidade política.
Dois grupos majoritários emergiram dessas disputas — os “centristas”, agrupados em torno de Zhou Enlai e Deng Xiaoping, e os “radicais” (ou “Bando dos Quatro”), composto por Jiang Qing (esposa de Mao Tsé-Tung), Zhang Chunqiao, Wang Hongwen e Yao Wenyuan. Malgrado as divisões internas, a China logrou consolidar suas relações diplomáticas com as potências ocidentais e ingressar nos organismos internacionais ao longo dos anos 70. Reaproximou-se igualmente da União Soviética após o fim da Guerra Sino-Vietnamita.
Após a morte de Zhou Enlai em janeiro de 1976, teve início uma nova crise política e eclodiram manifestações a favor e contra Deng Xiaoping. A crise se aprofundou após o falecimento de Mao Tsé-Tung, em setembro de 1976. Nomeado primeiro-ministro, Hua Guofeng iniciou uma campanha contra os “radicais” e ordenou a prisão do “Bando dos Quatro”.
Com sua cúpula renovada, o PCCh deu início a um projeto focado no desenvolvimento econômico, instituindo a “Política das Quatro Modernizações”, ampliando os investimentos em indústria, agricultura, defesa, ciência e tecnologia. Reabilitado, Deng Xiaoping ampliou seu poder, ao passo que Hua Guofeng foi gradualmente isolado, sendo eventualmente substituído por Zhao Ziyang no governo e Hu Yaobang na direção do partido. Dando continuidade às reformas econômicas, o governo chinês abandonou o modelo de comunas populares, privilegiando o processo de abertura econômica e a atração de capitais estrangeiros como estratégias de desenvolvimento das forças produtivas. Também autorizou o estabelecimento controlado de empresas privadas. No campo das relações externas, Deng Xiaoping conduziu com sucesso sua estratégia de reunificação da China, acordando com o Reino Unido a devolução de Hong Kong, sob o princípio “um país, dois sistemas”.
Em 1982, uma nova Constituição foi promulgada e Li Xiannian assumiu a Presidência da China. A insatisfação de parte dos membros do PCCh com as reformas econômicas, aliada à crise inflacionária dos anos 80, insuflou novamente as disputas entre reformistas e conservadores, causando a queda de Hu Yaobang, substituído na direção do partido por Zhao Ziyang. Em 1988, Li Peng assumiu o cargo de primeiro-ministro e teve a missão de debelar os intentos contrarrevolucionários e tentativas de desestabilização ocorridos durante os protestos da Praça da Paz Celestial no ano seguinte.
Li Peng foi reeleito para um segundo mandato em março de 1993. No mês seguinte, a Assembleia Nacional do Povo elegeu Jiang Zemin para a Presidência da República. O mandatário acumulou ainda a chefia da Comissão Militar Central e o cargo de secretário-geral do PCCh. O período foi marcado pelo crescimento econômico acelerado e pela expansão das relações diplomáticas e comerciais com as nações do Sudeste Asiático.
Eleito presidente em 2002, Hu Jintao reverteu algumas medidas excessivamente liberalizantes empreendidas nas gestões anteriores, ao mesmo tempo em que iniciou a estratégia de “desenvolvimento pacífico”, buscando ampliar a influência e o protagonismo internacional da China na Ásia, África e América Latina. Seu sucessor, Xi Jinping, tem buscado intensificar os esforços na criação de uma política externa mais assertiva e consolidar a China como potência global.
Internamente, Xi Jinping introduziu medidas para reforçar a disciplina do partido e expurgar a corrupção na cúpula do PCCh, destacando-se simultaneamente pelos excepcionais resultados econômicos e sociais. Em 2020, seu governo anunciou a erradicação da pobreza absoluta em todas as províncias e regiões da China.