Há 13 anos, em 4 de dezembro de 2011, falecia o jogador de futebol Sócrates. Considerado um dos maiores jogadores dos anos 80, notabilizou-se por sua desenvoltura, estilo elegante e habilidade em armar jogadas. Consagrou-se como ídolo da torcida do Corinthians, conquistando três títulos para o clube paulistano, e foi o capitão da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982.
Notabilizou-se ainda por sua intensa atividade política. Sócrates foi militante do Partido dos Trabalhadores (PT), liderou o movimento da Democracia Corinthiana e tomou parte da campanha das Diretas Já.
Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira nasceu em Belém do Pará, em 19 de fevereiro de 1954, como primogênito dos seis filhos de seu Raimundo e dona Guiomar. O irmão caçula, Raí, também se destacaria como jogador de futebol, atuando pelo São Paulo, onde ganhou o epíteto de “Terror do Morumbi”.
Estudou no Colégio Marista e desenvolveu interesse pela prática esportiva, sobretudo pelo futebol. E também ficou um torcedor apaixonado pelo Santos, time que o rei Pelé atuava.
Carreira de Sócrates nos gramados
A carreira de Sócrates no futebol começou no time juvenil do Botafogo de Ribeirão Preto. Ingressou aos 17 anos no curso de medicina na Universidade de São Paulo (USP) e conseguiu conciliar os estudos com o esporte, profissionalizando-se como jogador em 1973. Graduou-se em medicina quatro anos depois, mas optou por seguir carreira nos gramados.
Ao lado de Zé Mário, destacou-se como um dos principais nomes do Botafogo, integrando a equipe histórica que em 1977 conquistou a Taça Cidade de São Paulo — correspondente à primeira fase do Campeonato Paulista — derrotando o São Paulo no Estádio do Morumbi.
Artilheiro do campeonato, Sócrates ganhou destaque nacional e passou a ser cotado para integrar a Seleção Brasileira. Ainda atuando pelo Botafogo, brilhou no Campeonato Brasileiro, marcando um célebre gol de calcanhar contra o Santos na Vila Belmiro.
Em 1978, Sócrates deixou o Botafogo e ingressou no elenco do Corinthians. Já formado, começou a se dedicar integralmente ao futebol. No clube paulistano, o jogador se destacou pelas parcerias com Geraldão, seu ex-companheiro no Botafogo, e pelas duplas formadas com Palhinha e Casagrande.
Pelo Corinthians, Sócrates atuou por seis anos, participando de 297 jogos e marcando 172 gols. Estava na conquista de três edições do Campeonato Paulista (1979, 1982 e 1983), sendo alçado à condição de ídolo da torcida corintiana. Ainda pelo Alvinegro, ele venceria a Copa da Feira de Hidalgo e a Taça Cidade de Porto Alegre.
Foi em 1979 que Sócrates estreou na Seleção Brasileira, disputando um amistoso contra o Paraguai. Em 1983, foi eleito “Melhor Jogador Sul-Americano” pelo jornal El Mundo e “Craque do Ano” pela Revista Placar.
A Democracia Corinthiana
Ao lado de Wladimir, Casagrande e Zenon e sob a liderança de Adilson Monteiro Alves, Sócrates se tornou um dos idealizadores da chamada “Democracia Corinthiana”, um dos maiores movimentos políticos da história do futebol.
O movimento preconizava a instauração de uma gestão coletiva e democrática do clube, onde todos os integrantes da equipe — do presidente ao roupeiro, passando pelos técnicos e jogadores — tinham o mesmo peso nas decisões importantes, das quais participavam com voto igualitário.
Esse método inovador de gestão duraria até 1985 e renderia ótimos frutos. Além das conquistas no gramado, o Corinthians conseguiu sanear suas finanças, quitando todas suas dívidas e deixando um caixa de três milhões de dólares.
A “Democracia Corinthiana” se vinculou estreitamente ao movimento pela redemocratização do Brasil, que então vivia sob ditadura militar (1964-1985). Os jogadores do Corinthians usavam camisas estampadas com palavras de ordem como “Eu Quero Votar Para Presidente”, em apoio às campanhas pelo fim do regime e à pressão popular pela redemocratização do país.
As mensagens políticas exibidas pelos jogadores incomodaram o regime, que passou a pressionar o time exigindo “moderação”.
Diretas Já e a redemocratização
Filiado ao PT e amigo pessoal de Lula, Sócrates se destacou pela intensa atuação política em prol da redemocratização. Integrou os palanques de diversas manifestações realizadas no âmbito da campanha das Diretas Já, exortando a população a reivindicar a extinção do Colégio Eleitoral e o restabelecimento do voto direto.
Sua atuação política fez com que fosse fichado pela ditadura militar, juntamente com seu colega de equipe, Casagrande.
Sócrates também atuou em atividades artísticas no início dos anos 80. Ele gravou um LP de música sertaneja intitulado Casa de Caboclo e participou das gravações do LP Aquarela, de Toquinho, além de atuar como produtor teatral da peça Perfume de Camélia, exibida no Teatro Ruth Escobar.
Jogando pela Seleção Brasileira, Sócrates conquistou a Taça da Inglaterra e a Taça da França. Foi o capitão da seleção durante a Copa do Mundo de 1982, disputada na Espanha, tendo marcado dois gols contra as equipes da União Soviética e Itália.
Em 1983, sagrou-se vice-campeão na Copa América e, três anos depois, disputou uma nova edição da Copa do Mundo, sediada no México. Sua atuação ficou marcada pelo desperdício de um pênalti nas quartas de final contra a França, levando o Brasil à desclassificação.
Sócrates teve uma conturbada passagem pela equipe italiana Fiorentina, onde jogou entre 1984 e 1985, atuando em 25 partidas e marcando 6 gols.
O retorno de Sócrates ao Brasil
De volta ao Brasil, Sócrates atuou no Flamengo, onde conquistou a Taça Rio e o Campeonato Carioca de 1986, mas logo deixou a equipe carioca em função de problemas lombares. Jogou ainda pelo Santos em 1988.
Encerrou sua carreira de jogador no ano seguinte, retornando ao mesmo time em que começou, o Botafogo de Ribeirão Preto. Participou ainda de um amistoso entre os ídolos históricos do Corinthians e os jogadores da equipe inglesa Corinthian-Casuals, que inspirara o nome do time paulistano quase um século antes.
Já em 1992, abriu seu consultório médico em Ribeirão Preto, dedicando-se paralelamente à carreira de treinador, ocupando a função de técnico do Botafogo, da equipe equatoriana LDU e da Associação Desportiva Cabofriense.
Em 2002, em parceria com o jornalista Ricardo Gozzi, Sócrates lançou o livro Democracia Corinthiana: A Utopia em Jogo, em que narra as experiências vividas durante a vigência do movimento político-desportivo nos anos 80. Nesse mesmo ano, o ex-jogador foi listado pela CNN Sports como um dos “100 Maiores Jogadores da Copa”. Também integrou a lista dos “100 Craques do Século XX” publicada pela World Soccer e a lista dos 100 melhores jogadores vivos da elaborado pela Fifa em 2004.
Sócrates trabalhou como colunista da Carta Capital e do jornal Agora São Paulo e foi comentarista esportivo do programa Cartão Verde, exibido pela TV Cultura.
Em 2011, recebeu um convite para treinar a Seleção de Futebol de Cuba, mas não pôde exercer o cargo em função de seus problemas de saúde.
Sócrates faleceu em São Paulo aos 57 anos de idade, em 4 de dezembro de 2011, vitimado por uma infecção generalizada. Foi postumamente homenageado com o lançamento do documentário Ser Campeão é Detalhe.
Em 2012, ganhou um busto no Parque São Jorge.