146 anos de Pancho Villa: a saga épica de um herói popular mexicano
Um dos mais destacados chefes da Revolução Mexicana, liderou Exércitos populares contra oligarquias e em prol dos camponeses
Há 146 anos, em 5 de junho de 1878, nascia o revolucionário mexicano Pancho Villa. Considerado um dos mais destacados chefes da Revolução Mexicana, Pancho Villa liderou os Exércitos populares e a Divisão do Norte no combate às tropas de Porfirio Díaz, Victoriano Huerta e Venustiano Carranza. Sua luta contra as oligarquias e sua a atuação em prol dos camponeses e da reforma agrária o transformaram em uma das figuras mais icônicas do México, onde segue até hoje reverenciado com o status de herói popular.
Batizado José Doroteo Arango Arámbula, Pancho Villa nasceu em San Juan del Río, no estado de Durango, em uma família humilde de trabalhadores rurais. A morte precoce do pai o levou a interromper os estudos, obrigando-o a trabalhar desde a infância para ajudar no sustento dos quatro irmãos. Aos 16 anos, fugiu para as montanhas do norte do México, após ser acusado de matar um fazendeiro que havia estuprado sua irmã. Iniciou então uma trajetória errante, juntando-se a um grupo de bandoleiros que praticava assaltos e furtos nas propriedades da região. Detido pelo roubo de mulas, foi forçado a ingressar no Exército — uma punição que costumava ser aplicada aos jovens delinquentes à época. Enquanto servia, teve um grave desentendimento com um oficial, a quem acabou assassinando. Desertou e fugiu para Chihuahua, adotando o pseudônimo Pancho Villa, pelo qual seria conhecido desde então. Nesse período, travou contato com Abraham González, que se tornaria seu mentor político. Foi González que convenceu Villa a abandonar a vida errante e a participar da luta por reformas políticas.
Em 1910, atraído pela promessa de implementação da reforma agrária, Villa apoiou a rebelião armada convocada por Francisco Madero contra o ditador Porfírio Díaz. Após formar um Exército revolucionário no norte do país, Villa venceu as tropas do governo em Naica, Camargo e Pilar de Conchos. A vitória de Villa na Batalha de Ciudad Juárez e a tomada de Cuautla pelos homens de Emiliano Zapata forçaram Porfírio Díaz à abdicação e Francisco Madero foi instituído na Presidência.
Logo após assumir o governo, entretanto, Madero abandonou a promessa de reforma agrária, buscando aproximar-se dos latifundiários e dos oligarcas. Mesmo contrariado, Villa seguiu apoiando Madero e acatou a ordem de debelar a rebelião antigovernamental liderada por Pascual Orozco, auxiliando as tropas do Exército sob comando do general Victoriano Huerta.
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A insubmissão de Villa causaria uma série de atritos com Huerta, que logo escalonaram para um confronto físico. Após ferir Huerta com um tiro, Villa foi condenado à morte, mas teve sua pena comutada em prisão por intervenção de Madero. Na cadeia, tomou conhecimento sobre a conspiração golpista engendrada por Huerta e foi informado sobre o Plano de Ayala, elaborado por Zapata, que pretendia distribuir um terço das terras agricultáveis do México aos camponeses. Em dezembro de 1912, Villa fugiu da prisão rumo aos Estados Unidos, refugiando-se em El Paso, no Texas, de onde tentou, em vão, avisar Madero sobre o golpe iminente.
Em fevereiro de 1913, Madero foi assassinado e Huerta assumiu a Presidência do México. Visando depor Huerta, Villa retornou ao México e estabeleceu uma aliança com Venustiano Carranza, governador de Coahuila. Em seguida, reorganizou as forças revolucionárias, integrando milhares de combatentes às tropas paramilitares e ao Exército Constitucionalista. Brilhante estrategista militar, Villa logrou uma série de vitórias contra as tropas de Huerta em Ciudad Juárez, Tierra Blanca, Chihuahua e Ojinaga.
Nomeado governador provisório de Chihuahua, Villa forçou os oligarcas do estado a aceitaram uma política de contribuições compulsórias para financiar o movimento revolucionário. Também limitou os juros, inaugurou escolas e serviços públicos, criou programas de apoio aos órfãos e viúvas da revolução, instituiu a distribuição gratuita de alimentos, iniciou o projeto de reforma agrária e ordenou a desapropriação dos bens dos apoiadores de Huerta, dividindo-os entre os despossuídos. As medidas lhe granjearam enorme apoio popular e a crescente adesão dos civis ao processo revolucionário, fortalecendo o efetivo da Divisão do Norte.
Incomodado com a popularidade de Villa, Carranza passou a boicotar o apoio à Divisão do Norte, incumbido Álvaro Obregón de chefiar as missões estratégicas. Foi Villa, entretanto, quem obteve as vitórias militares mais importantes, dizimando as tropas governistas em Gómez Palacio, Torreón e Zacatecas. Acossado pelas forças villistas, zapatistas e constitucionalistas, Huerta viu sua situação se deteriorar ainda mais após a tomada do Porto de Vera Cruz pelos fuzileiros navais dos Estados Unidos, em resposta ao Incidente de Tampico.
Em julho de 1914, Huerta foi deposto. A Convenção de Aguascalientes ratificaria Venustiano Carranza como presidente, mas, assim como Madero, o novo mandatário também traiu seus apoiadores, abdicando da promessa de reforma agrária.

Francisco Villa, montando seu cavalo Siete Leguas, liderando os combatentes em Ojinaga, em 1914
Buscando o apoio das elites, Carranza aliou-se a Obregón na tentativa de articular um governo autoritário. Villa e Zapata romperam com Carranza, dando início a uma guerra civil. As tropas revolucionárias lograram ocupar a temporariamente a Cidade do México, mas as forças de Obregón, mais numerosas, melhor equipadas e apoiadas pelos militares norte-americanos, conseguiram impor derrotas significativas a Villa nas batalhas de Celaya e Agua Prieta. Villa recuou para as montanhas de Chihuahua, de onde coordenou a guerrilha contra Carranza.
Necessitando de armamentos e visando retaliar o apoio dos Estados Unidos ao novo governo, Villa realizou um ataque ao Novo México, saqueando a cidade de Columbus e atacando o 13º Regimento de Cavalaria. O ataque — o primeiro perpetrado por um estrangeiro em solo norte-americano — resultou na morte de 18 pessoas e enfureceu a opinião pública nos Estados Unidos. Em retaliação, o presidente Woodrow Wilson incumbiu John Pershing de chefiar uma expedição punitiva para capturar Villa, mas não obteve sucesso.
Villa retomou a guerrilha contra Carranza, realizando uma série de ações armadas, incluindo um novo ataque contra Ciudad Juárez e o cerco a Ascensión. Após a morte de Carranza, Villa negociou um acordo de paz com o presidente interino, Adolfo de la Huerta, cessando as hostilidades em troca da concessão do indulto e de um lote de terras em Canutillo. Temendo que Villa retomasse suas ações revolucionárias ou tentasse ingressar na política, seus adversários tramaram sua morte.
Em 23 de julho de 1923, durante uma visita a Parral, Villa foi assassinado em uma emboscada. A autoria do crime nunca foi esclarecida, mas a maioria dos historiadores acredita que a conspiração tenha sido planejada por Plutarco Elías Calles, Joaquín Amaro e apoiada por Obregón. Seu túmulo foi posteriormente violado e o crânio furtado. A historiografia oficial tentou desqualificá-lo atribuindo-lhe toda sorte de características desabonadoras. Não obstante, o respeito por Villa no imaginário popular continuou incólume e o revolucionário segue até hoje reverenciado como um herói popular e um símbolo da revolta e da luta dos oprimidos.