Há 156 anos, em 26 de fevereiro de 1869, nascia a educadora e revolucionária socialista Nadejda Krupskaya. Esposa de Vladimir Lenin, Nadejda foi uma figura central no esforço pela erradicação do analfabetismo e ajudou a construir o sistema educacional da União Soviética.
Da juventude ao POSDR
Nadejda Krupskaya nasceu em São Petersburgo, em uma família empobrecida da pequena nobreza russa. Frequentou o ginásio feminino até os 14 anos, interrompendo os estudos após a morte de seu pai. Retomou os estudos alguns anos depois, cursando pedagogia numa escola de ensino superior feminina.
Já graduada, Nadejda começou a lecionar em uma escola dominical noturna, frequentada por operários. Tornou-se admiradora das ideias filosóficas de Tolstói e teve seus primeiros contatos com o marxismo, passando a frequentar círculos de discussão clandestinos sobre as ideias socialistas.
Nadejda conheceu Lenin em uma dessas reuniões, em 1894. No ano seguinte, os dois fundariam a União de Luta pela Emancipação da Classe Operária, tornando-se alvos da polícia política czarista. Lenin seria preso em 1895 e Nadejda em 1896.
Os dois se reencontraram durante o exílio na Sibéria e se casaram em julho de 1898. Em 1901, o casal emigrou para a Alemanha e depois para a Inglaterra. De volta à Rússia, Nadejda tornou-se secretária do Comitê Central após a Revolução de 1905, mas saiu novamente do país após a insurreição ser abafada, mudando-se para a França.
Nadejda foi uma das mais destacadas colaboradoras de Lenin nas atividades do Partido Operário Social-Democrata Russo (POSDR), coordenando todo o trabalho burocrático e administrativo da agremiação. Paralelamente, dedicou-se ao estudo dos problemas pedagógicos e concebeu ideias para a reorganização do ensino em um hipotético Estado proletário, publicando diversos artigos sobre essa temática no jornal Pravda.
A Revolução de Outubro e o sistema educacional soviético
Nadejda retornou à Rússia em abril de 1917, em meio à agitação política que havia derrubado o czar Nicolau II. Nas eleições municipais de junho, ela obteve um assento no Conselho dos Trabalhadores de Viburgo, ajudando a compor a maioria bolchevique.
Após o triunfo da Revolução de Outubro, em 1917, Nadejda passou a integrar o Comissariado do Povo para a Instrução Pública, onde colaborou com Anatóli Lunatcharski na definição das bases do sistema educacional a ser instituído pelo governo revolucionário.
Nadejda defendeu a unificação do sistema de ensino, a universalização do acesso ao ensino superior gratuito e a erradicação do analfabetismo. Também teve participação fundamental na criação da Komsomol (União da Juventude Comunista) e da Organização dos Pioneiros.
Após a morte de Lenin, em 1924, Nadejda seguiu possuindo forte atuação na coordenação do sistema educacional e nas atividades do Comitê Central do Partido Comunista. Nas lutas internas pelo comando da União Soviética, ela apoiou Josef Stalin e se opôs a Leon Trotsky, a quem enxergava como um traidor da causa revolucionária, interessado em “restabelecer a ordem burguesa e a exploração capitalista das massas trabalhadoras”.

Nadejda Krupskaya fotografada na década de 1890
Nadejda exerceu o cargo de Ministra da Educação da União Soviética entre 1929 e 1939. Também se tornou integrante do Soviete Supremo em 1931. Como ministra, ela coordenou os esforços para a eliminação do analfabetismo, liderando uma Comissão Extraordinária que mobilizou centenas de milhares de estudantes, professores e intelectuais, num esforço nacional que tinha com lema “Aqueles que sabem ler e escrever devem ensinar os que não sabem”.
Entre 1920 e 1940, cerca de 60 milhões de adultos foram alfabetizados, ao passo que a escolarização de crianças e adolescentes foi universalizada.
Na educação básica, Nadejda propôs o ensino das ciências naturais e sociais sob uma perspectiva de estímulo à capacidade crítica e analítica. Ela defendia a difusão de uma concepção materialista dos fenômenos naturais e do uso dos recursos, de forma a combater o misticismo e a superstição. Também era favorável ao enfoque crítico na compreensão das relações de classe e das formas de desenvolvimento social, visando aguçar o senso crítico e a conscientização política do povo soviético.
Últimos anos
Além de suas contribuições para o sistema de ensino, Nadejda teve papel fundamental na expansão e democratização das redes de bibliotecas públicas na União Soviética. Ela inaugurou bibliotecas em quase todas as cidades, renovou os acervos públicos com a inclusão de livros adequados às necessidades dos trabalhadores e estudantes e incentivou o treinamento dos funcionários, criando escolas profissionalizantes para bibliotecários.
Nos década de 30, Krupskaya publicou suas “Memórias de Lenin”, abordando aspectos biográficos sobre sua vida ao lado do líder da Revolução de Outubro e notas sobre a interpretação leninista do marxismo. Em seus últimos anos, Nadejda se dedicou à defesa da igualdade de gênero e criticou muitas das reformas promovidas por Stalin, em especial a reforma educacional, por considerar que havia enfraquecido o ensino politécnico.
Nadejda Krupskaya faleceu em Moscou, em 27 de fevereiro de 1939, aos 70 anos. Uma compilação com seus artigos e discursos sobre educação foi publicada postumamente pelo governo soviético em 1957. Ela também foi homenageada emprestando seu nome a um prêmio concedido pela Unesco para pessoas e organizações que se destacam na luta contra o analfabetismo.