Há 204 anos, em 28 de novembro de 1820, nascia o filósofo e teórico revolucionário prussiano Friedrich Engels. Autor de uma obra vasta e diversificada, Engels é amplamente reconhecido por sua parceria intelectual com Karl Marx.
Ele foi o cofundador do socialismo científico (ou marxismo) e ajudou a formular parte substancial dos fundamentos teóricos que guiaram a ação das organizações de esquerda — e que seguem moldando boa parte do pensamento político e social desde então.
Friedrich Engels nasceu em Barmen, em uma família rica de industriais protestantes, dona de grandes fábricas de tecidos de algodão localizadas na Alemanha e Inglaterra. Aos 17 anos, após concluir o ensino básico em Elberfield, Engels foi pressionado pelo pai a trabalhar como aprendiz mercantil nas empresas da família.
Em Bremen, interessou-se pelo estudo da filosofia de Friedrich Hegel e passou a frequentar as reuniões dos hegelianos de esquerda, que influenciariam suas críticas ao cristianismo e ao Estado prussiano. Logo começou a escrever artigos para jornais criticando os males da industrialização, utilizando o pseudônimo “Friedrich Oswald”. Seu ateísmo e suas atividades políticas causariam crescentes atritos com seus pais.
No ano de 1842, Engels foi enviado para Manchester, na Inglaterra, para trabalhar nos escritórios de uma fiação da família, num esforço empreendido por seu pai para afastá-lo dos hegelianos e fazê-lo reconsiderar suas críticas. Em meio à viagem, Engels fez uma parada em Colônia, onde visitou os escritórios da Gazeta Renana e conheceu o editor-chefe, Karl Marx.
Já em Manchester, iniciou um relacionamento com Mary Burns, uma operária irlandesa com opiniões radicais que trabalhava na fábrica da sua família.
Na cidade britânica, Engels iniciou sua pesquisa a respeito dos efeitos perniciosos do capitalismo sobre o operariado inglês. Contou para isso com a ajuda de Burns, que lhe mostrou os guetos e a pobreza dos bairros operários, onde ele testemunharia os descalabros do trabalho infantil, da exploração e da miséria.
A pesquisa consubstanciou a obra A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, que seria lançada em 1845 — um estudo detalhado sobre as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores na sociedade industrial.
Reencontro com Marx
Dois anos depois, em 1844, Engels reencontrou Marx em Paris, na França, dando início a uma grande amizade e prolífica parceria intelectual, que duraria pelo resto da vida. Os dois se envolveram nas atividades de militância do movimento operário, criando laços profundos com as organizações dos trabalhadores locais.
Em colaboração com Marx, Engels escreveu A Sagrada Família, criticando a linha de pensamento dos jovens hegelianos, e A Ideologia Alemã.
O teórico revolucionário seguiu Marx rumo ao seu exílio em Bruxelas, na Bélgica, em 1845, onde aprofundaram sua atuação junto movimento operário. Juntos tomaram parte do congresso da Liga dos Justos, que se transformaria na Liga dos Comunistas.
Por solicitação da agremiação, escreveram juntos o Manifesto do Partido Comunista, que se tornaria um dos tratados políticos mais influentes da história. Engels auxiliou Marx a elaborar a concepção de materialismo histórico e dialético, os pilares teóricos do socialismo científico.
Em 1848, Marx e Engels participaram da Insurreição Alemã durante a Primavera dos Povos. Após o fracasso do levante, Marx foi banido e perdeu sua cidadania prussiana e Engels refugiou-se na Suíça. A insurreição seria objeto da obra Revolução e Contra-Revolução na Alemanha, escrita por Engels entre 1851 e 1852.
Ameaçado por um mandado de prisão das autoridades da Prússia, Engels aceitou a proposta da sua família para dirigir a fiação da empresa “Ermen e Engels” em Manchester. Passou a ajudar financeiramente Marx e sua família, que viviam na miséria em Londres, onde se refugiaram após serem perseguidos pelas polícias da Europa continental.
Engels buscou conciliar seu trabalho na gerência da fábrica com sua produção intelectual. Nesse período, publicou A Guerra Camponesa Alemã e outras obras sobre Martinho Lutero e a Reforma Protestante. Denunciou o golpe de Luís Bonaparte contra o governo francês, abordado de forma aprofundada por Marx no ensaio intitulado O 18 de Brumário de Luís Bonaparte. Em 1864, o prussiano ajudou fundar a Associação Internacional dos Trabalhadores, a Primeira Internacional (1866-1872), organização de apoio às lutas operárias, movimentos sindicais e de resistência, reunindo membros da Europa e dos Estados Unidos.
Luta revolucionária
Já em 1870, Engels vendeu as ações da empresa que dirigia para se dedicar exclusivamente à luta revolucionária. Mudou-se para Londres, onde passou a conviver com Marx e se aprofundou na análise das formas de desenvolvimento do modo de produção capitalista. Suas conclusões foram utilizadas por Marx em O Capital.
Engels também publicou artigos versando sobre as guerras de colonização, os conflitos no campo e a constituição dos partidos operários e deu importante contribuição para a Nova Enciclopédia Americana, para a qual escreveu textos abordando a história das guerras, dando continuidade às análises de Carl von Clausewitz e influenciando os futuros aportes de Vladimir Lenin e Mao Zedong. Escreveu ainda O anti-Dühring e A Dialética da Natureza.
Após a morte de Marx, Engels publicou os volumes II e III de O Capital. Ele elaborou o prefácio desses volumes, sintetizando com maestria a importância científica das contribuições teóricas de seu colega. Também organizou as notas de Marx sobre a teoria da mais-valia, que mais tarde foram publicadas como o “quarto volume” de O Capital.
Em 1884, Engels publicou A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, com base nas pesquisas antropológicas de Marx, abordando as influências que as relações de produção exercem sobre as formas de parentesco e organização familiar.
Até o fim de sua vida, Engels teve participação fundamental na organização do movimento operário internacional. Em seus últimos anos, deu contribuições teóricas à formação dos partidos socialistas (Crítica aos Programas de Gotha e Erfurt, escrita em colaboração com Marx em 1875) e ajudou a viabilizar a Segunda Internacional (1889-1916), frequentada por nomes como Lenin e Émile Vandervelde, responsável por encampar bandeiras como a bem sucedida campanha internacional pela redução da jornada de trabalho para oito horas diárias, a instituição do 1º de maio como Dia Internacional dos Trabalhadores e do 8 de março como Dia Internacional da Mulher.
Friedrich Engels faleceu em Londres, em 5 de agosto de 1895, aos 74 anos. Em sua nota biográfica sobre Engels, Lenin o descreveu, ao lado de Marx, como “o mais notável cientista e professor do proletariado moderno”.
Conforme Lenin: “Marx e Engels foram os primeiros a esclarecer que o socialismo não é uma invenção de sonhadores, senão o objetivo final e o resultado necessário do desenvolvimento das forças produtivas da sociedade moderna. Toda a história registrada até os dias de hoje tem sido a história da luta de classes, da sequência da dominação e da vitória de certas classes sociais sobre outras. E isso continuará sendo assim até que os fundamentos da luta de classes e da dominação de classe – a propriedade privada e a desordenada produção social – desapareçam.”