Há 241 anos, em 24 de julho de 1783, nascia o revolucionário venezuelano Simón Bolívar. Influenciado pelo ideário iluminista, Bolívar liderou uma série de campanhas militares contra as forças colonialistas espanholas, tornando-se o principal expoente dos movimentos autonomistas latino-americanos.
Suas ações conduziram Venezuela, Colômbia, Equador, Panamá, Peru e Bolívia à independência, granjeando-lhe o epíteto de “El Libertador”. Foi também o mais destacado promotor dos esforços em prol da integração latino-americana, presidindo por mais de 10 anos a Grã-Colômbia.
Simón Bolívar nasceu em Caracas, na Capitania-Geral da Venezuela, então uma colônia da Espanha. Descendia de uma rica família de origem basca, estabelecida na Venezuela desde o século 16. Seu pai, Juan Vicente Bolívar, faleceu quando tinha três anos de idade. Aos nove, perdeu a mãe, María de la Concepción Palacios. Foi então entregue aos cuidados do tio, Carlos Palacios, que confiou sua educação a tutores eminentes. Tornou-se aluno do pedagogo Simón Rodrigues e do humanista Andrés Bello, que o apresentaram à obra de Jean-Jacques Rousseau e à filosofia iluminista.
Ainda adolescente, ingressou como cadete no Batalhão de Milícias de Valles de Aragua. Em 1799, então com 16 anos, foi enviado à Espanha a fim de prosseguir com seus estudos. Em Madri, teve aulas de história, literatura e matemática e conheceu María Teresa del Toro Alayza, com quem se casaria em 1802.
Bolívar retornou a Caracas logo após o casamento, mas em 1803 sua esposa faleceu, vitimada pela febre amarela. O jovem voltou então à Europa. Em Paris, Bolívar testemunhou a coroação de Napoleão Bonaparte, alçado ao poder ao término da Revolução Francesa, e travou contato com o naturalista alemão Alexander von Humboldt. Aprofundou suas leituras sobre a filosofia iluminista, terminando por aderir às ideias revolucionárias.
Em Roma, proferiu o “Juramento do Monte Sacro”, comprometendo-se a lutar pela libertação da Venezuela do domínio espanhol. Aderiu à franco-maçonaria e visitou os Estados Unidos, buscando inspiração no movimento autonomista recém liderado por George Washington.
De volta a Caracas em 1807, Bolívar declarou apoio ao incipiente movimento independentista liderado por Francisco de Miranda, que seria fortalecido com o início da Guerra Peninsular. Após ordenar a invasão da Espanha, o imperador francês Napoleão Bonaparte forçou o rei espanhol Carlos IV e seu herdeiro, Fernando VII, a abdicarem do trono em favor de seu irmão, José Bonaparte. A crise gerada pela deposição dos monarcas enfraqueceu o Império espanhol e inflamou a luta independentista nas colônias.
Apoiado por outros membros da aristocracia criolla, Bolívar se engajou nas juntas de resistência e passou a usar a fortuna da família para financiar o movimento pela independência na Venezuela. Em 1810, após a dissolução da Junta Suprema da Espanha e a expulsão dos dirigentes da metrópole, os rebeldes formaram um governo provisório. Bolívar partiu para a Inglaterra, visando obter apoio diplomático à independência venezuelana.
Em 5 de julho de 1811, a independência da Venezuela foi proclamada e Miranda assumiu a Presidência do país. A violenta reação da Espanha, entretanto, acuou os rebeldes e levou Miranda à rendição. Bolívar viu-se forçado a se exilar em Cartagena, na Nova Granada (atual Colômbia), onde analisou de forma crítica o revés dos independentistas, explicado em seu “Manifesto de Cartagena”. Nomeado chefe do Exército revolucionário, Bolívar logrou neutralizar as ofensivas espanholas em Nova Granada.
Em seguida, declarou “guerra de morte” ao regime colonial e liderou as tropas rebeldes na invasão à Venezuela, triunfando sobre as forças espanholas em Taguanes. Bolívar conquistou Caracas e proclamou a Segunda República Venezuelana, sendo alçado à Presidência do país. Sem embargo, José Tomas Boves e Francisco Tomás Morales articularam a oposição dos “llaneros” interioranos, reconciliando-os com a monarquia espanhola e exortando a resistência contra a aristocracia criolla.
A disputa evoluiu para uma guerra civil e Caracas foi retomada pelas tropas espanholas. A metrópole europeia reprimiu violentamente os rebeldes, deixando um saldo de milhares de mortos.
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Bolívar buscou refúgio na Jamaica, onde elaborou a “Carta da Jamaica”, em que defendia a criação de uma confederação hispano-americana, formada por nações independentes, republicanas e guiadas por princípios humanistas. Partiu em seguida para o Haiti, onde foi recebido pelo presidente Alexandre Pétion, que se comprometeu a ajudá-lo em troca do compromisso com a abolição da escravatura nos territórios libertados. Contando com quatro batalhões e 6.000 armas fornecidas pelo governo haitiano, Bolívar organizou o retorno para a Venezuela em 1816. Fixou-se no leste do país, estabelecendo um governo paralelo sediado em Angostura (hoje Ciudad Bolívar). Organizou então o Congresso de Angostura, onde lançou as bases do projeto de unificação das nações hispanoamericanas, que seria concretizada com a criação da Grã-Colômbia, abrangendo os territórios do antigo Vice-Reino de Nova Granada.
Em 1819, após fortalecer a aliança com os nacionalistas colombianos liderados por Francisco de Paula Santander e assegurar o apoio dos camponeses, Bolívar lançou uma grande ofensiva contra Nova Granada. A operação contou com apoio crucial de um contingente de mercenários ingleses e irlandeses, reunidos na Legião Britânica. Lideradas por Bolívar, as tropas rebeldes cruzaram a Cordilheira dos Andes, venceram os espanhóis na Batalha de Boyacá e capturaram Bogotá, assegurando a independência colombiana.
Em 1821, Venezuela e Colômbia se unificaram para formar a Grã-Colômbia, da qual Bolívar se tornou presidente. Pouco tempo depois, o Panamá, também liberto, optou por se unir à Grã-Colômbia. Ainda em 1821, as forças leais à Espanha remanescentes na Venezuela foram definitivamente derrotadas na Batalha de Carabobo.
Consolidada a emancipação das colônias de Nova Granada, Bolívar se voltou ao Equador, enviando reforços, armas e provisões para o Exército libertador comandado por Antonio José de Sucre, que logrou subjugar as tropas espanholas nas batalhas de Bomboná e Pichincha. As forças de Sucre tomaram Quito em junho de 1822, assegurando a independência do Equador e sua união à Grã-Colômbia.
Em seguida, Bolívar tratou de auxiliar no movimento independentista do Peru. A independência do país já fora formalmente proclamada por José de San Martín, mas a inércia da elite local seguiu alimentando a resistência espanhola. A partir do quartel general instalado em Trujillo, Bolívar comandou a campanha militar de independência e foi nomeado presidente do Peru.
Em 1824, as últimas tropas colonialistas foram debeladas por Bolívar em Junín e por Sucre em Ayacucho. Sucre ainda articulou a criação de um novo país na província do Alto Peru, com apoio da Assembleia Geral dos Deputados. A nova nação foi batizada como Bolívia, em homenagem a Bolívar. Em 1825, Bolívar outorgou a primeira Constituição do país, onde também exerceu o cargo de presidente, permanecendo na função por um período de quatro meses.
Ao término de 1825, Bolívar estava no auge de seu poder político. Ele ocupava simultaneamente o cargo de presidente de três nações (Grã-Colômbia, Peru e Bolívia) e havia assegurado a derrota das últimas tropas coloniais da Espanha. Seu objetivo, no entanto, era ainda mais ousado: a criação de uma grande confederação de Estados latino-americanos, se estendendo do México até a Argentina. Em 1826, visando aprofundar a integração das nações do continente, Bolívar convocou o Congresso do Panamá.
O encontro reuniu delegados do México, Federação Centro-Americana, Grã-Colômbia, Peru e Bolívia e resultou na assinatura de acordos de defesa mútua e cooperação militar e na aprovação de uma proposta em favor do fim do tráfico de escravos africanos. Embora seja um marco da diplomacia latino-americana, o congresso teve poucos efeitos práticos e a maior parte das cláusulas acordadas jamais foram implementadas.
A partir de 1827, Bolívar enfrentou crescentes dificuldades políticas e uma sucessão de crises e divergências internas. As disputas entre as elites locais fomentaram um clima de tensão e instabilidade política, ao passo que os caudilhos, insatisfeitos com o governo centralizado de Bolívar, iniciaram uma série de rebeliões. Na tentativa de manter a unidade do país, Bolívar se autoproclamou ditador da Grã-Colômbia, mas medida gerou ainda mais descontentamento e o acirramento da oposição. Em setembro de 1828, Bolívar foi alvo de uma tentativa de assassinato durante a chamada “Conspiração Setembrina”, mas conseguiu escapar graças à intervenção de sua companheira, Manuela Sáenz.
As disputas políticas e as tensões entre os grupos regionais evoluíram para movimentos separatistas. Em 1830, Venezuela e Equador declararam sua independência e a Grã-Colômbia foi dissolvida. Desiludido e frustrado diante da fragmentação de seu projeto integracionista, Bolívar renunciou à Presidência da Grã-Colômbia em maio de 1830.
Planejava se exilar na Europa, mas não conseguiu concretizar tais planos. Simón Bolívar faleceu em 17 de dezembro de 1830, aos 47 anos de idade, vitimado pela tuberculose.
Simón Bolívar deixou um legado de grande impacto na política latino-americana. Foi reivindicado como símbolo e patrono por diversas correntes políticas ao longo do século 19, abrangendo desde a esquerda radical até a direita nacionalista. Tanto na Venezuela quanto na Colômbia, a adesão ou oposição às ideias de Bolívar serviram de base para a consolidação dos principais partidos políticos.
No século 20, o ideal bolivariano de uma América Latina unida, solidária e liberta das interferências externas inspirou diversos movimentos da esquerda revolucionária. Nos anos 80, os movimentos armados colombianos criaram a Coordenação Guerrilheira Simón Bolívar. E no fim dos anos 90, Hugo Chávez lançou na Venezuela as sementes do bolivarianismo — movimento socialista, nacionalista e pan-hispânico fundamentado em ideais de justiça social, soberania política e luta contra o imperialismo.