Terça-feira, 13 de maio de 2025
APOIE
Menu

Há 267 anos, em 6 de maio de 1758, nascia Maximilien de Robespierre, líder dos Jacobinos durante a Revolução Francesa. Inspirado pelos ideais iluministas, Robespierre se tornou uma das figuras centrais do processo revolucionário que derrubou a monarquia absolutista e instaurou a Primeira República Francesa.

Alcunhado de “Incorruptível Defensor do Povo”, ele implementou uma série de políticas avançadas quando esteve à frente do governo provisório, incluindo a abolição da escravidão nas colônias francesas e a instituição do sufrágio universal.

Não obstante, sua repressão intransigente às forças contrarrevolucionárias e aos opositores de seu governo alimentou os abusos e as execuções em massa do chamado “Período do Terror”, levando-o ao isolamento e precipitando sua queda. Em julho de 1794, Robespierre seria guilhotinado, encerrando o governo dos Jacobinos.

Receba em primeira mão as notícias e análises de Opera Mundi no seu WhatsApp!
Inscreva-se

Juventude e formação

Maximilien de Robespierre nasceu em uma família da pequena burguesia de Arras, no departamento francês de Pas-de-Calais. Ele era o filho mais velho do advogado François de Robespierre e de Jacqueline Marguerite Carraut. Aos seis anos de idade, perdeu a mãe, vitimada por complicações de um parto. Em seguida, foi abandonado pelo pai, passando a ser criado pelos avós maternos.

Aluno aplicado, Robespierre estudou no Colégio Arras, onde aprendeu latim e oratória. Recebeu posteriormente uma bolsa de estudos e ingressou no Colégio Luís, o Grande, vinculado à Universidade de Paris. Nessa instituição, foi colega de Camille Desmoulins e Stanislas Fréron e estudou direito, filosofia e literatura clássica.
Robespierre foi profundamente influenciado pelas ideias do Iluminismo —sobretudo pelo pensamento de Jean-Jacques Rousseau e D’Alembert, que moldaram sua percepção sobre soberania popular, igualdade natural e virtude cívica.

O contato com as ideias iluministas levou Robespierre à radicalização política. Ele se convenceu de que a sociedade havia se degradado e submetido o homem à escravidão. Ao mesmo tempo, o estudo de autores clássicos como Cícero e Tácito nortearam sua percepção crítica acerca da moralidade dos governantes.

Robespierre se formou em Direito em 1780 e retornou à sua cidade natal. Ele angariou uma reputação bastante positiva por advogar para as classes marginalizadas e criticar constantemente os abusos das autoridades. Em 1781, o jovem advogado seria admitido como membro do Conselho Provincial de Artois.

Os discursos de Robespierre já revelavam o estilo retórico que o tornaria famoso, impregnado de fervor e convicção moral. Ele denunciou a desigualdade dos cidadãos perante a lei, repreendeu a exclusão das mulheres dos círculos acadêmicos e criticou as prisões arbitrárias e a pena de morte.

A Revolução Francesa

A partir de 1789, a França vivenciou um período de turbulência e transformação política e social sem precedentes — a Revolução Francesa. Assolado pelas péssimas colheitas, o país havia mergulhado em uma grave crise econômica, que resultou no aumento do desemprego e da miséria.

A despeito da crise fiscal, a monarquia não fazia qualquer esforço para conter seus gastos excessivos e os aristocratas seguiam esbanjando uma vida de luxo.

A conta da crise recaía somente sobre o Terceiro Estado (trabalhadores e burguesia, que somavam 98% da população), submetido a recorrentes aumentos de impostos, ao passo que o clero (Primeiro Estado) e a nobreza (Segundo Estado) seguiam isentos e cobertos de privilégios.

O descontentamento popular era impulsionado ainda pelo avanço das ideias iluministas, que questionavam a autoridade da igreja e a legitimidade do poder absoluto dos monarcas. O clamor popular por reformas políticas forçou o rei Luís XVI a convocar a Assembleia dos Estados Gerais para discutir a crise política e econômica da França.

Eleito deputado em abril de 1789, Robespierre participou da Assembleia dos Estados Gerais como representante do Terceiro Estado da região de Artois. Ele também integraria a Assembleia Nacional, formada após a dissolução dos Estados Gerais.

Alinhando-se ao clima de radicalização das massas, Robespierre se destacou por sua defesa intransigente da revolução. Ele apoiou o fim da monarquia e a Tomada da Bastilha e defendeu a abolição dos privilégios feudais. Também propôs a extensão do direito ao voto a todos os homens, independentemente da renda ou do status social.

Robespierre também ganhou destaque em janeiro de 1790, quando fez um discurso inflamado sobre a igualdade, defendendo que todos os franceses deveriam ter direito a ingressar no serviço público sem quaisquer distinções além de seus talentos e virtudes.

Líder dos Jacobinos

Em março de 1790, Robespierre foi eleito como presidente do Clube dos Jacobinos — o grupo político que reunia os revolucionários radicais.

Os Jacobinos defendiam a derrubada imediata da monarquia e a instauração de uma república baseada na igualdade e na soberania popular. A eles se contrapunham os Girondinos, o grupo da burguesia moderada, que defendia reformas mais conservadoras.

Dono de uma retórica enérgica, Robespierre atraiu um número crescente de seguidores, tornando-se o líder inconteste das alas radicais e um dos principais organizadores da jornada revolucionária. Ele foi um dos principais agitadores da insurreição do Campo de Marte, exigindo a deposição imediata de Luís XVI após o monarca tentar fugir da França.

Robespierre também era admirado por sua reputação de integridade pessoal. Vivia de forma modesta e denunciava publicamente as tentativas de suborno — o que lhe valeu o epíteto de “Incorruptível Defensor do Povo”.

Liderando os Jacobinos na Assembleia Constituinte, Robespierre combateu energicamente o discurso de moderação de Jacques Pierre Brissot, opondo-se igualmente ao modelo parlamentar pretendido pelos Girondinos. Em agosto de 1792, Robespierre conquistou um assento na primeira Comuna de Paris — o governo revolucionário da capital francesa, que havia sido instituído logo após a Tomada da Bastilha.

robispierre
Retrato de Maximilen de Robespierre, por um pintor anônimo
Museu Carnavalet / Wikimedia Commons

A Convenção Nacional

Ainda em 1792, a Revolução Francesa começou a se encaminhar para sua fase mais radical, iniciada após a abolição da monarquia e a proclamação da Primeira República.

Para além das reformas políticas, o período seria marcado por outros desafios. Os revolucionários tiveram de enfrentar a agressiva reação das monarquias europeias, que enxergavam os acontecimentos na França como uma ameaça à ordem estabelecida. Ao mesmo tempo, a economia estava em frangalhos e uma seria de rebeliões contrarrevolucionárias começavam a eclodir.

Em setembro de 1792, Robespierre foi eleito como deputado da Convenção Nacional, a nova assembleia incumbida de governar o país e de redigir uma constituição republicana. O líder Jacobino se alinhou aos chamados “Montanheses” — o grupo mais radical do parlamento, que incluía figuras como Georges Danton e Louis Antoine de Saint-Just.

Na Convenção, Robespierre intensificou o combate aos Girondinos. Ele atuou ativamente nos processos da nobreza, defendendo a condenação e execução do rei Luís XVI, argumentando que a sobrevivência da revolução dependia da eliminação física da monarquia. O rei seria guilhotinado em janeiro de 1793.

A radicalização do processo revolucionário enfraqueceu o domínio dos Girondinos sobre a Convenção Nacional. A hesitação em adotar medidas contra a nobreza, a persistência da crise econômica e o mal desempenho nas campanhas militares contra inimigos externos minaram o apoio popular aos moderados.

Os Jacobinos, por sua vez, seguiam capitalizando o apoio das massas. Entre maio e junho de 1793, os setores radicais organizaram uma série de insurreições populares, que culminaram na invasão da Convenção Nacional. Em 2 de junho, um grupo de 80 mil homens da Guarda Nacional cercou o parlamento e exigiu a prisão dos líderes Girondinos.

O Comitê de Salvação Pública e o Terror

Com a queda dos Girondinos, Robespierre assumiu a chefia do Comitê de Salvação Pública, órgão criado para centralizar o poder e coordenar a defesa da revolução, tornando-se o líder efetivo do governo provisório.

Sob o comando de Robespierre, a revolução encamparia a defesa de ideais avançados, como abolição da escravidão nas colônias francesas, a instituição do sufrágio universal masculino e a adoção de uma série de medidas para aliviar a miséria e combater a fome.

O líder Jacobino teve papel essencial para debelar as ofensivas das monarquias europeias, mobilizando a população através dos “Levée en masse” — a política nacional de conscrição que combateu as invasões estrangeiras e garantiu a continuidade do processo revolucionário.

Robespierre também promoveu políticas de renovação cultural, incluindo o Culto ao Ser Supremo — uma religião cívica inspirada pelas ideias de Rousseau, que buscava substituir o catolicismo e unir os franceses em torno de valores republicanos.

Não obstante, a ascensão de Robespierre também foi acompanhada pela repressão implacável aos seus opositores políticos, aristocratas e contrarrevolucionários (reais ou imaginários). Insuflando a perseguição aos “inimigos do regime” estava Jacques-René Hébert, líder dos “hebertistas” — uma facção tão radical que gerava incômodo até entre os Jacobinos.

O assassinato de Jean-Paul Marat em julho de 1793 ensejou uma nova onda de represálias contra os Girondinos e os monarquistas. A conivência dos Girondinos com o general Charles François Dumouriez, o mais notório traidor da revolução, também serviria de justificativa para os processos que culminaram com a proscrição das lideranças moderadas.

A repressão se agravou em setembro de 1793, quando o Comitê de Salvação Pública promulgou a “Lei dos Suspeitos”, que autorizava a prisão de qualquer pessoa julgada “desleal”. O governo provisório também suspendeu o direito à defesa e instaurou tribunais de exceção, dando início a uma perseguição generalizada.

Entre setembro de 1793 e julho de 1794, a revolução seria marcada pelo chamado “Período do Terror”, em que milhares de pessoas foram guilhotinadas — com números estimados entre 16 mil e 40 mil vítimas. Outras 300 mil pessoas foram presas.

As execuções não se limitaram aos contrarrevolucionários. Até mesmo Jacobinos mais moderados ou críticos à repressão e antigos aliados de Robespierre foram enviados para guilhotina — a exemplo de Georges Jacques Danton, executado sob a acusação de “corrupção”.

Declínio e queda de Robespierre

O Reinado do Terror começou a perder apoio em meados de 1794. A vitória francesa na Batalha de Fleurus havia afastado a ameaça de invasão estrangeira — eliminando também os pretextos para as medidas de exceção. Além disso, a repressão havia sido tão indiscriminada e violenta que até os aliados mais próximos de Robespierre temiam acabar na guilhotina.

Vendo seu governo ameaçado, Robespierre se afastou dos hebertistas e buscou cooptar apoio popular, aprovando uma série de medidas de promoção da igualdade social (decretos de fevereiro e março de 1794).

Não obstante, o líder Jacobino passou a enfrentar forte oposição no Comitê de Salvação Pública, entrando em conflitos constantes com dirigentes como Robert Lindet e Lazare Carnot. Outros nomes como Joseph Fouché e Paul Barras passaram a defender a ideia de que Robespierre era uma ameaça ao equilíbrio de poder.

A insistência de Robespierre em denunciar “facções” e “traidores” sem nomear alvos específicos só contribuiu para ampliar seu desgaste. Em julho de 1794, ele faria um discurso vago na Convenção prometendo punir seus inimigos, o que foi interpretado como uma ameaça direta a todos.

A imposição do culto ao Ser Supremo também lhe rendeu a desconfiança dos anticlericais. Por fim, o cansaço com a continuidade dos tumultos, as privações e dificuldades materiais inerentes ao processo revolucionário começaram a corroer o apoio popular ao governo dos Jacobinos.

Os adversários de Robespierre no Comitê de Salvação Pública aliaram-se então aos antigos dantonistas e iniciaram uma conspiração para depor o líder montanhês.

Em 27 de julho de 1794, Robespierre foi preso após a consumação de um golpe organizado por seus adversários na Convenção — girondinos, Jacobinos mais moderados e os deputados do chamado “grupo de pântano”.

Durante a captura, ele sofreu um ferimento no rosto, possivelmente por um tiro ou uma tentativa de suicídio.
Membros da Comuna de Paris ainda se mobilizaram para tentar defendê-lo, mas fracassaram. No dia seguinte, em 28 de julho de 1794, Robespierre foi guilhotinado juntamente com seu irmão Augustin, também membro do Comitê de Salvação Pública, e outros dezessete colaboradores, incluindo Louis Antoine Léon de Saint-Just e Georges Couthon.

A execução de Robespierre marcou o fim do domínio Jacobino na Revolução Francesa e deu início à fase moderada da revolução, conhecida como Reação Termidoriana.