Quarta-feira, 26 de março de 2025
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Há 31 anos, em 19 de fevereiro de 1994, falecia o franco-atirador soviético Ivan Sidorenko, um dos snipers mais letais da história.

Lutando pelo Exército Vermelho durante a Segunda Guerra Mundial, Sidorenko foi responsável por eliminar mais de 500 soldados nazistas, além de contribuir com a formação de centenas de atiradores de elite — feitos que lhe valeram o título de Herói da União Soviética.

Trocando o pincel pelo fuzil

Ivan Mikhailovich Sidorenko nasceu em 12 de setembro de 1919, no povoado de Chantsovo, no extremo-oeste da Rússia, já na fronteira com Belarus. Ele pertencia a uma família humilde de trabalhadores rurais de Smolensk.

Na década de 1920, Sidorenko se mudou com os pais para a região de Donbass, na Ucrânia, onde frequentou a escola primária. Ele não chegou a concluir o ensino secundário, tendo de trabalhar desde cedo para ajudar a sustentar a família.

Demonstrando um grande talento para o desenho desde a infância, Sidorenko se matriculou na Escola de Arte de Penza em 1938. Fundada como uma academia de belas artes no século 19, a instituição foi transformada em uma escola técnica especializada em artes após a Revolução de Outubro.

Sidorenko frequentou o curso de pintura por pouco mais de um ano, mas teve de abandonar a escola após o início da Segunda Guerra Mundial. Antecipando-se à convocação, ele se apresentou ao alistamento do Exército Vermelho ainda em 1939. Foi enviado então para a Escola de Infantaria de Simferopol, na Crimeia, onde concluiu o treinamento militar em 1941.

Nesse mesmo ano, a União Soviética seria invadida pelas tropas da Alemanha nazista, mobilizadas na Operação Barbarossa. A campanha alemã é considerada a maior operação militar da história, envolvendo quase 4 milhões de soldados, distribuídos em uma gigantesca frente de batalha com 2.900 quilômetros. Seu impacto foi devastador: cerca de 5 milhões de soviéticos foram mortos durante a invasão.

As tropas do Eixo avançaram sobre o território soviético em três ofensivas distintas: o Grupo de Exércitos Norte partiu rumo a Leningrado; o Grupo de Exércitos Sul avançou rumo à Ucrânia e o Cáucaso; e o Grupo de Exércitos Centro tentou tomar Moscou.

Trajetória no Exército Vermelho

Sidorenko foi um dos milhares de soldados enviados para defender a capital soviética. Ele atuou como subtenente de uma companhia de morteiros na Batalha de Moscou, ajudando a suprir a munição para a artilharia.

Insatisfeito com o fato de que sua função não lhe permitia atuar no embate direto contra os alemães, Sidorenko usava seu tempo livre para treinar suas habilidades como atirador. Equipado com um fuzil Mosin-Nagant, ele começou a caçar soldados nazistas, tornando-se um sniper autodidata.

A mira certeira de Sidorenko e sua grande habilidade no manuseio das armas impressionou os oficiais do Exército Vermelho. O soldado foi então removido da companhia de morteiros e, mesmo sem receber treinamento específico, passou a atuar como franco-atirador.

Ivan Siderenko
Fotógrafo desconhecido / Projeto ‘Heróis do País’ – Rússia
Ivan Siderenko retratado em 1946

Em pouco tempo, Sidorenko se destacou como o sniper mais letal de sua companhia, acumulando uma enorme contagem de inimigos abatidos e fazendo jus ao lema pelo qual era conhecido: “um tiro, uma morte”. Ele também foi incumbido de treinar outros snipers, passando a liderar sua própria equipe de atiradores nas batalhas da Frente Oriental.

Em dezembro de 1942, Sidorenko foi condecorado com a Ordem da Estrela Vermelha. O documento de premiação afirma que ele havia “matado 129 soldados nazistas e treinado dois atiradores-aprendizes, que foram responsáveis pela morte de outros 71 inimigos”.

Sidorenko foi nomeado como subcomandante do quartel-general do 1122º Regimento de Infantaria, unidade integrante da Primeira Frente Báltica. O destacamento participou de algumas das campanhas mais importantes da Segunda Guerra Mundial, nomeadamente a Operação Bagration — a grande contraofensiva do Exército Vermelho que logrou a neutralização de parte substancial das tropas do Eixo.

Além de causar centenas de baixas ao Exército nazista, Sidorenko foi responsável por outros feitos impressionantes nas batalhas da Frente Báltica. Conforme o relato de um de seus aprendizes, o franco-atirador teria conseguido destruir um caminhão-tanque e três tratores utilizando munição incendiária, impedindo o envio de suprimentos para uma base inimiga.

Herói da URSS

Em 4 de junho de 1944, Sidorenko foi agraciado com o título de Herói Nacional da União Soviética. No documento de nomeação, ele foi apontado como “o melhor atirador do regimento, responsável por matar 349 soldados alemães”.

O documento também registra atos de coragem do franco-atirador, como o fato de ter sido o primeiro a atacar uma instalação inimiga durante a Batalha de Shitiki.

Incomodados com os estragos causados pelo sniper soviético, os oficiais nazistas despacharam um time de atiradores para tentar neutralizá-lo. Durante uma missão na Estônia em 1944, Sidorenko foi gravemente ferido, permanecendo hospitalizado quase até o fim da guerra.

Sidorenko conseguiu se recuperar dos ferimentos, mas seus superiores não permitiram que ele retornasse para o campo de batalha. Ele passou a atuar exclusivamente como instrutor de tiro, formando franco-atiradores para o Exército Vermelho.

Ele ingressou no Partido Comunista da União Soviética e recebeu seguidas promoções, sendo alçado à patente de major.

Até 1945, Sidorenko acumularia mais de 500 inimigos abatidos, tornando-se um dos franco-atiradores mais bem sucedidos da história. Ele também foi responsável por formar mais de 250 snipers para o Exército Vermelho.

Após o término da guerra, Sidorenko requisitou dispensa do Exército. Ele se estabeleceu no Oblast de Cheliabinsk, nos Montes Urais, onde trabalhou como supervisor em uma mina de carvão.

Em 1974, mudou-se para o Daguestão, onde viveu com sua família até o fim da vida. Faleceu em 19 de fevereiro de 1994, aos 74 anos.