Há 49 anos, o revolucionário socialista moçambicano Samora Machel, líder da FRELIMO, proclamava a independência de Moçambique e assumia a Presidência do país.
A independência de Moçambique foi fruto de um movimento anticolonial iniciado décadas antes, influenciado pelo desenvolvimento de diversas organizações autonomistas no período pós-Segunda Guerra Mundial. A disparidade econômica entre os colonos portugueses e a população nativa, exploração econômica baseada na imposição de metas abusivas de produtividade, autoritarismo da metrópole portuguesa e as péssimas condições de vida fomentaram um crescente descontentamento da população moçambicana — que atingiu o seu ápice após o Massacre de Mueda, quando um protesto dos manifestantes macondes organizado pela União Nacional Africana (MANU) foi brutalmente reprimido, resultando em dezenas de mortes.
Em 25 de junho de 1962, como fruto desse contexto, foi fundada, na vizinha Tanzânia, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), congregando guerrilheiros e políticos moçambicanos forçados ao exílio, sob a coordenação dos revolucionários socialistas Eduardo Mondlane e Samora Machel.
Nos primeiros dois anos, a FRELIMO buscou articular alianças e conduzir ofensivas diplomáticas, ao mesmo tempo em que articulava a criação de brigadas para uma eventual ação armada. Com a recusa das autoridades portuguesas em abrir negociações, a FRELIMO se engajou na Guerra de Independência, lançando um ataque ao posto administrativo de Chai, na província de Cabo Delgado, em 25 de setembro de 1964.
A FRELIMO recebeu apoio dos países socialistas em sua guerra de libertação, sobretudo da União Soviética, da Alemanha Oriental e de Cuba, que forneceram auxílio financeiro, treinamento militar e armamentos ao longo de todo o conflito. A organização optou por priorizar a estratégia de guerrilha contra as forças militares portuguesas, obtendo o controle de aproximadamente 30% do território moçambicano após quatro anos de luta.
À medida em que ocupava os territórios, a FRELIMO implementava redes de serviços básicos, como creches, escolas e centros de saúde, e iniciava uma campanha de mobilização junto à população, o que ajudou a consolidar o apoio popular à causa independentista. No plano internacional, crescia a percepção de legitimidade da luta anticolonial travada pela organização. A morte de Eduardo Mondlane em 1969 fomentou o surgimento de rupturas internas na organização, mas Samora Machel conseguiu assegurar a unidade do movimento e liderou a heroica resistência às investidas portuguesas.
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No início dos anos 1970, com cooperação técnica do governo dos Estados Unidos, o regime ditatorial de Salazar intensificou a repressão aos guerrilheiros moçambicanos, passando a utilizar bombardeios aéreos, artilharia terrestre pesada e os protocolos da estratégia de “search and destroy”, empregada pelos militares norte-americanos na Guerra do Vietnã.
O general Kaúlza de Arriaga, comandante do Exército português, lançou em Moçambique a maior ofensiva na história das guerras coloniais: a Operação Nó Górdio, que reuniu 70 mil soldados e despejou mais de 15 mil toneladas de bombas sobre Moçambique. Visando intimidar a população moçambicana, as tropas coloniais cometeram inúmeros crimes de guerra — nomeadamente o assassinato de centenas de civis no Massacre de Wiriyamu.
A FRELIMO respondeu mudando o foco das operações, coordenando uma grande ofensiva com 8 mil combatentes nas províncias de Tete, Niassa e Cabo Delgado. Blefando um plano de ataque à enorme barragem em construção em Cahora Bassa, os moçambicanos conseguiram fazer com que os portugueses deslocassem seus efetivos para essa localidade, permitindo aos guerrilheiros ocuparem a província de Mania e Sofala. Ao mesmo tempo em que resistia ao incremento da violência colonial, a FRELIMO ganhava importantes aliados em Portugal. Organizações como a Ação Revolucionária Armada, o braço armado do Partido Comunista Português, e as Brigadas Revolucionárias passaram a fazer forte oposição à ditadura militar portuguesa e à guerra colonial, conduzindo operações de sabotagem e ataques a alvos militares.
O ataque à Base Aérea de Tancos resultou na destruição de vários helicópteros. O mesmo ocorreu no ataque à base da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) em Oeiras. Também foram alvo de sabotagens os navios Cunene, Vera Cruz e Niassa. A oposição à guerra colonial ganhou o apoio de parte da imprensa, dos artistas, universitários e setores progressistas da sociedade portuguesa, ao mesmo tempo em que os militares começam a julgar o conflito e a manutenção das colônias como insustentáveis.
Essa impressão se acentuaria em abril de 1974, quando a FRELIMO recebeu da União Soviética um importante incremento ao seu arsenal bélico, armando-se com o SAM-7, um míssil terra-ar de grande precisão, capaz de ameaçar a supremacia da Força Aérea Portuguesa.
Em 25 de abril de 1974, sob a liderança do Movimento das Forças Armadas (MFA), ocorreu em Portugal a Revolução dos Cravos, que depôs o governo de Marcelo Caetano, o sucessor de Salazar, removendo os últimos obstáculos à independência de Moçambique. O Movimento das Forças Armadas declarou seu apoio oficial à autonomia da antiga colônia e um acordo de cessar-fogo foi assinado.
Milhares de colonos portugueses se retiraram de Moçambique. Em 7 de setembro, lideranças da FRELIMO e do MFA assinaram os acordos de Lusaka, na Tanzânia, formalizando a transferência de soberania para a organização moçambicana. Por fim, em 25 de junho de 1975, no 13º aniversário de fundação da FRELIMO, a independência de Moçambique foi proclamada, e Samora Machel tornou-se o primeiro presidente do novo país.
Em seu governo, Samora Machel instituiu os sistemas universais de saúde e educação e criou um abrangente programa de reforma agrária e de coletivização das terras. Também nacionalizou bancos e criou a gestão estatal do patrimônio imobiliário nacional, visando garantir o direito universal à moradia. Não obstante, o governo moçambicano encontrou forte resistência das elites locais, dos regimes segregacionistas de minorias brancas na África do Sul e Rodésia e dos governos norte-americano e britânico.
Visando derrubar a experiência socialista de Moçambique, as potências ocidentais passaram a financiar a criação de milícias de extrema direita do país, encabeçadas pela Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), dando início à Guerra Civil Moçambicana. O conflito se estendeu por 16 anos e resultou na morte de um milhão de pessoas. A persistência da guerra civil, a morte de Samora Machel em 1986 e colapso do bloco socialista impediram a concretização de muitas reformas sociais e econômicas idealizadas nos anos 70 e levaram a FRELIMO a abandonar seu programa socialista em 1993.