Há 80 anos, em 27 de janeiro de 1945, o Exército Vermelho libertava os prisioneiros de Auschwitz, o maior e mais letal dos campos de extermínio da Alemanha nazista.
Equipamento central da política genocida do Terceiro Reich, Auschwitz viabilizou o extermínio em escala industrial, vitimando mais de 1,3 milhão de pessoas.
A descoberta de Auschwitz revelou ao mundo a verdadeira dimensão dos horrores nazistas. Cerca de 7 mil prisioneiros foram libertados do campo pelos soldados soviéticos.
A Operação Bagration
A libertação de Auschwitz ocorreu ao término de uma potente contraofensiva lançada pela União Soviética. A Batalha de Stalingrado havia marcado um ponto de inflexão no conflito da Frente Oriental, com o Exército Vermelho — as forças militares da União Soviética — impondo um grande número de baixas e enorme desgaste às tropas da Alemanha nazista.
Em seguida, Josef Stalin incumbiu seus generais de elaboraram uma campanha militar que assegurasse de forma definitiva a derrota dos invasores.
Lançada pelo Exército Vermelho em junho de 1944, a Operação Bagration foi a campanha militar mais decisiva da Segunda Guerra Mundial. Tão massiva era operação que o desembarque aliado na Normandia, em comparação, mais pareceria um modesto exercício militar. As forças soviéticas mobilizaram 1,2 milhão de soldados — 10 vezes o montante empregado no “Dia D”.
A campanha resultou na maior derrota militar sofrida pela Alemanha, ferindo de morte o Terceiro Reich. O Exército Vermelho destruiu 28 das 34 divisões do Grupo de Exércitos Centro, dizimando a capacidade ofensiva alemã. Os soldados soviéticos libertaram Belarus e avançaram sobre a Polônia Oriental.
A libertação de Majdanek
À medida em que avançavam pela Europa Oriental, os soviéticos se depararam com os campos de concentração e extermínio mantidos pelos nazistas. O primeiro campo a ser descoberto e libertado pelo Exército Vermelho foi Majdanek, localizados nos arredores de Lublin.
O campo havia sido evacuado pelos nazistas, mas milhares de prisioneiros ainda estavam no local. No interior do local, os soviéticos se encontraram câmaras de gás, crematórios, pilhas de roupas e tanques de gás Zyklon B, usados nas execuções em massa.
A descoberta de Majdanek foi divulgada pelo governo soviético, mas muitos ficaram incrédulos. Os Aliados ocidentais, em particular, subestimaram a gravidade das evidências apresentadas e colocaram em dúvida os relatos do Exército Vermelho.
Em janeiro de 1945, a União Soviética lançou a Ofensiva de Vístula-Oder. Liderada por Georgy Júkov e Ivan Konev, a operação mobilizou soldados do Exército Vermelho e do Exército Popular da Polônia. Em três semanas, os militares soviéticos asseguram a retomada da maior parte do território polonês, libertando a capital Varsóvia e encerrando a ocupação nazista em cidades como Cracóvia e Poznán.
Durante a ofensiva, o Exército Vermelho se deslocou por mais de 400 quilômetros, cobrindo a distância entre a linha polonesa paralela ao Rio Vístula e o Rio Oder, já na Alemanha. Durante o trajeto, os soviéticos encontraram mais um campo de concentração nazista — o campo de Plaszow, nos arredores de Cracóvia.

Soldados soviéticos conversam com crianças libertadas de Auschwitz
Auschwitz
Foi na chegada a Auschwitz que os soviéticos tomariam ciência da real dimensão do horror nazista. Situado a 60 quilômetros a oeste de Cracóvia, Auschwitz foi inaugurado pelos nazistas já no início da Segunda Guerra Mundial, inicialmente como uma instalação para encarcerar prisioneiros políticos.
Em 1941, logo após Adolf Hitler ordenar a invasão contra a União Soviética, o local seria enormemente ampliado, tornando-se um gigantesco complexo abrangendo 40 campos de concentração e extermínio, dispostos ao longo de uma área de 42 quilômetros quadrados.
Auschwitz seria convertido no principal instrumento do genocídio perpetrado pelos nazistas, viabilizando o Holocausto e o assassinato em escala industrial dos povos tidos como “indesejáveis” pelo Terceiro Reich. Mais de 1,3 milhão de pessoas foram assassinadas no local. Desses, 90% eram judeus oriundos de toda a Europa.
Também foram executados 150 mil poloneses, 23 mil romas, 15 mil soviéticos, 400 Testemunhas de Jeová e milhares de pessoas de outras nacionalidades.
Após serem transportados até o complexo por trens, os prisioneiros passavam por uma triagem. Os que estivessem doentes ou fossem considerados inaptos para o trabalho eram imediatamente assassinados. Os demais eram obrigados ao trabalho forçado nas indústrias do complexo, servindo como escravos nas linhas de produção de empresas como IG Farben, Krupp e Siemens-Schuckert.
Os prisioneiros viviam em condições deploráveis, mantidos em instalações insalubres, privados de comida e água. Eram forçados a trabalhar até a exaustão e submetidos à tortura e todo tipo de violência. No bloco 10 de Auschwitz, as mulheres eram esterilizadas e Josef Mengele conduzia uma série de experimentos macabros.
As execuções eram diárias, levadas a cabo através das câmaras de gás, onde os prisioneiros eram forçados a inalar o Zyklon B. Os corpos eram então incinerados em gigantescos crematórios. Mais de 6.000 pessoas eram assassinadas por dia em Auschwitz.
A libertação de Auschwitz
As tropas soviéticas chegaram a Auschwitz na tarde de 27 de janeiro de 1945. A ação foi conduzida pela 322ª Divisão de Fuzileiros do Exército Vermelho. No local, os soviéticos se depararam com forte resistência de um grupo de militares alemães e dos paramilitares da Schutzstaffel, a infame SS.
A batalha sangrenta, ocorrida nos arredores de Monowitz, custou a vida de 231 soldados soviéticos.
Cerca de 7 mil pessoas foram libertadas em Auschwitz, incluindo mais de 500 crianças. Os prisioneiros estavam doentes, emaciados e exaustos. Ao menos 300 estavam tão fracos que não conseguiam se mover e tiveram de ser carregados.
O Exército Vermelho providenciou alimentos para os prisioneiros e montou hospitais de campanha onde foram tratados mais de 4.500 sobreviventes. A situação dos prisioneiros chocou os soldados. “Eu, que via pessoas morrendo todos os dias, fiquei chocado em testemunhar o ódio indescritível dos nazistas contra os presos, transformados em esqueletos vivos”, afirmou Vasily Petrenko, general do Exército Vermelho.
Buscando encobrir os crimes praticados no local, os oficiais nazistas chegaram a ordenar a implosão das câmaras de gás e a evacuação da maioria dos prisioneiros antes da chegada do Exército Vermelho. Cerca de 60 mil prisioneiros foram enviados para os campos da Frente Oriental durante as chamadas “Marchas da Morte”. Eram forçados a andar a pé, desagasalhados em pleno inverno europeu, sem comida ou água suficiente.
O volume de evidências, entretanto, superava em larga escala o esforço pela dissimulação. No local, os soldados soviéticos encontraram mais de 600 cadáveres, 370.000 roupas masculinas, 837.000 roupas femininas, 110 mil pares de sapato e 7,7 toneladas de cabelo humano.
Em 2005, a resolução 60/7 da Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu a data de libertação de Auschwitz como Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto.