Há 93 anos, em 6 de fevereiro de 1932, nascia o revolucionário cubano Camilo Cienfuegos. Comandante da Revolução Cubana, Camilo se destacou por conduzir a tomada do Quartel de Yaguajay e por ser o primeiro líder do Exército Rebelde a adentrar em Havana.
Carismático e alinhado aos anseios populares, Camilo recebeu o epíteto de “Comandante do Povo”. Assumiu a chefia das Forças Armadas após o triunfo da revolução, mas faleceu pouco tempo depois, em um acidente aéreo que comoveu profundamente o povo cubano.
Quem foi Camilo Cienfuegos
Natural de Havana, Camilo Cienfuegos era o caçula dos três filhos de Ramón Cienfuegos Flores e Emilia Gorriarán Zavalla, um casal de anarquistas que emigrou para Cuba fugindo da turbulência política na Espanha. Camilo nutria desde cedo o sonho de ser escultor. Após concluir o ensino básico, o jovem se matriculou na Escola Nacional de Belas Artes “San Alejandro”.
Apenas três meses depois, entretanto, Camilo foi obrigado abandonar os estudos para trabalhar e ajudar no sustento da casa. Seu primeiro emprego foi como auxiliar de limpeza em uma loja no centro de Havana. Ele também executava pequenos serviços de alfaiataria para complementar a renda da família.
Camilo iniciou sua militância política na adolescência, participando de manifestações contra o reajuste das passagens de ônibus. Em 1952, integrou os protestos contra o coronel Fulgencio Batista, que assumira o governo cubano por meio de um golpe militar. No ano seguinte, em busca de melhores condições de vida, partiu para os Estados Unidos.
Camilo morou nos Estados Unidos por dois anos, exercendo funções precárias e mal remuneradas. Em Nova York, travou contato com exilados políticos cubanos e escreveu um artigo criticando a ditadura de Batista para o jornal “La Voz de Cuba“. Detido pelo Departamento de Imigração em 1955, foi enviado para uma prisão no México e posteriormente deportado para Cuba.
Na capital mexicana, Camilo conheceu um grupo de compatriotas opositores de Batista e foi informado sobre o movimento revolucionário que estava sendo articulado pelos irmãos Fidel e Raúl Castro.
De volta a Havana, Camilo engajou-se cada vez mais na oposição a Batista, aproximando-se do movimento estudantil e das organizações políticas clandestinas. Em dezembro de 1955, foi baleado durante uma manifestação organizada no aniversário de morte de Antonio Maceo Grajales, herói da independência cubana. Pouco tempo depois, em janeiro de 1956, foi espancado pela polícia e preso enquanto participava de um ato em homenagem ao revolucionário José Martí.
Fichado pelo Departamento de Repressão às Atividades Comunistas, Camilo passou a ser perseguido e teve dificuldades para conseguir emprego. Irresignado com os desmandos do regime de Batista, declararia que “Cuba, custe o que custar, tem que ser livre”.

Camilo Cienfuegos, na década de 1950
A Revolução Cubana
Em março de 1956, Camilo decidiu deixar Cuba e partiu para os Estados Unidos, onde permaneceu por alguns meses. Em setembro do mesmo ano, mudou-se para o México, visando se juntar ao Movimento 26 de Julho e ao exército rebelde que estava sendo organizado pelos irmãos Castro.
Afável e extrovertido, Camilo logo se tornou amigo de Fidel e começou a treinar com os rebeldes no acampamento de Abasolo, em Tamaulipas. Ele foi o último combatente integrado ao grupo dos 82 revolucionários que partiriam para Cuba a bordo do iate Granma, em novembro de 1956.
Os guerrilheiros desembarcaram na província de Oriente no dia 2 de dezembro, sendo atacados logo em seguida. Camilo participou do combate contra as tropas de Batista em Alegra de Pío e se refugiou com os sobreviventes na Serra Maestra.
Apesar de seu curto treinamento no México, Camilo demonstrou grande tirocínio estratégico e notável capacidade de liderança, o que se refletiu em sua ascensão meteórica. Foi nomeado tenente já na Batalha de El Uvero e logo depois assumiu o posto de capitão. Incorporado ao destacamento de Che Guevara, exerceu a função de Chefe de Vanguarda do pelotão na Coluna Nº. 4.
Camilo liderou importantes batalhas, obtendo sucesso em Bueycito, El Hombrito e Pino del Agua. Em março de 1958, ele se tornou o primeiro chefe do movimento revolucionário a avançar com suas tropas para além da Serra Maestra, tomando Llanos del Cauto. Em seguida, venceu os combates em Bayamo e La Estrella.
A sequência de êxitos contribuiu para que Camilo assumisse o posto de comandante da Coluna Nº. 2. O revolucionário liderou então a tomada de La Plata, Vega de Jibacoa e Las Mercedes. Após enfrentar uma série de dificuldades em Camagüey, o comandante obteve uma vitória estratégica que lhe renderia o título de herói popular: em 21 de dezembro de 1958, seus homens cercaram o quartel de Yaguajay, uma das mais importantes instalações militares de Cuba, sob o comando do capitão Abón Lee. O conflito durou dez dias e terminou com a rendição incondicional das tropas do governo.
A vitória de Camilo na Batalha de Yaguajay representou um golpe decisivo sobre as forças de Batista. Ele também foi o primeiro comandante da revolução a ingressar em Havana. Em 2 de janeiro de 1959, seus combatentes tomaram o Regimento Columbia, símbolo máximo do poder militar de Batista.
Chefe do Exército
Com o triunfo da revolução, Camilo se tornou chefe das forças armadas na província de Havana. Pouco tempo depois, foi nomeado por Fidel Castro como Chefe do Estado Maior do Exército Rebelde. Ele participou ativamente das primeiras decisões do governo revolucionário e coordenou a reorganização da estrutura hierárquica do exército.
Camilo também criou campanhas de alfabetização para os soldados, organizou a atuação militar no programa de reforma agrária e conduziu iniciativas para reestruturar o Estado militarizado legado por Batista, transformando os quartéis em escolas.
Apesar de seu status como líder militar, Camilo tinha uma personalidade bastante pacífica e rejeitava ideias de violência ou vingança. Durante a guerra revolucionária, ao ser interpelado por uma organização maçônica cubana sobre a situação dos prisioneiros de guerra, Camilo respondeu: “Sob hipótese alguma nos colocaríamos no mesmo nível moral daqueles contra quem estamos lutando. Não podemos torturar e assassinar prisioneiros à maneira de nossos oponentes; não podemos, como homens de honra e como cubanos dignos, usar os procedimentos baixos e indignos que nossos oponentes usam contra nós. O espírito de nobreza e cavalheirismo inculcado em cada um de nossos soldados, com respeito pelos prisioneiros e pelas forças armadas, é a razão pela qual mais de setecentos deles, após vinte e três meses de luta contra a tirania, se encontram hoje no seio de suas famílias.”
Na noite de 28 de outubro de 1959, Camilo retornava de Camagüey para Havana a bordo de um avião Cessna 310 que desapareceu quando sobrevoava o Estreito da Flórida.
Os corpos de Camilo e dos demais tripulantes do voo jamais foram encontrados, apesar das autoridades cubanas terem coordenado operações de busca ao longo de várias semanas. Camilo tornou-se um mártir da Revolução Cubana, homenageado em inúmeros monumentos espalhados pelo país. Ele empresta seu nome à Universidade de Matanzas, a uma rede de escolas militares e ao museu dedicado à sua vida instalado no Quartel de Yaguajay.
Todos os anos, no dia 28 de outubro, os cubanos lançam flores ao mar para exaltar a memória daquele que Che Guevara definiu como “o mais brilhante de todos os guerrilheiros.”