Há 98 anos, em 13 de agosto de 1926, nascia Fidel Castro, comandante da Revolução Cubana. Considerado uma das personalidades históricas mais importantes do século 20 e ícone da esquerda latino-americana, Fidel Castro encabeçou o processo de transformações que converteram Cuba, única nação socialista das Américas, em uma referência internacional de desenvolvimento humano e social e protagonista maior da luta anti-imperialista em nosso continente.
Fidel Alejandro Castro Ruz nasceu em Birán, na província cubana de Holguín, terceiro dos sete filhos de Ángel Castro e Lina Ruz. Passou sua infância na fazenda de cana-de-açúcar que pertencia ao seu pai e frequentou o ensino básico no Colégio La Salle e na instituição jesuíta Colégio Dolores, em Santiago de Cuba, concluindo posteriormente o ensino básico no Colégio Belén, em Havana. Entusiasta das atividades desportivas, recebeu um prêmio por melhor desempenho atlético na juventude.
Em 1945, ingressou no curso de direito na Universidade de Havana, ocasião em que se aproximou do movimento estudantil e iniciou seu ativismo político. Aproximou-se do grupo nacionalista “Legião do Caribe”, desenvolvendo um olhar crítico sobre o imperialismo e as intervenções dos Estados Unidos na América Latina. Disputou a Presidência da Federação dos Estudantes Universitários (FEU) e firmou-se como opositor do governo de Ramón Grau.
Dois anos depois, Fidel se filiou ao Partido do Povo Cubano (dito Partido Ortodoxo), agremiação reformista de cariz nacionalista fundada por Eduardo Chibás. Empenhado na divulgação da plataforma política da agremiação, Fidel tornou-se alvo da retaliação governamental, começando a sofrer ameaças de grupos milicianos ligados ao regime cubano. Não cedeu, entretanto, à intimidação. Passou a andar armado e radicalizou ainda mais o seu discurso antigovernista.
Já graduado, Fidel começou a advogar em favor dos operários, camponeses e opositores do governo cubano, então presidido por Carlos Prío. Firmou-se como liderança oposicionista, tecendo críticas ásperas e denunciando os abusos e ações ilegais do governo, utilizando-se do seu espaço no diário Alerta e na emissora de rádio Álvarez. Postulante do Partido Ortodoxo ao Parlamento nas eleições de 1952, Fidel teve sua candidatura cancelada em função do golpe militar perpetrado por Fulgencio Batista. Após tentar, em vão, articular a resistência à quartelada pelas vias legais, Fidel convenceu-se de que a ação armada revolucionária era o único meio de garantir as transformações sociais na ilha.
Fidel tornou-se editor do periódico revolucionário Son los Mismos — posteriormente rebatizado El Acusador— por meio da qual começou a angariar apoiadores. Em 26 de julho de 1953, ao lado de seu irmão Raúl Castro e com apoio de um grupo de 160 homens, Fidel liderou uma tentativa de sublevação contra o governo de Batista, tentando tomar o Quartel Moncada, em Santiago de Cuba.
A rebelião fracassou e Fidel e Raúl foram presos. Durante o julgamento, Fidel assumiu sua própria defesa e proferiu um famoso discurso, advogando em favor do direito dos povos de lutarem contra a tirania. O discurso foi posteriormente reelaborado na forma de texto e publicado clandestinamente sob o título A História me Absolverá. Fidel e Raúl foram respectivamente condenados a sentenças de 15 e 13 anos de prisão.
Não obstante, após dois anos de cárcere, os irmãos foram libertados graças à intensa pressão popular. Após receberem anistia do governo cubano, refugiaram-se na Cidade do México.
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Durante o exílio, os irmãos Castro fundaram o Movimento 26 de Julho, que começou a preparar uma rebelião armada contra o regime de Batista. No México, os Castro travaram contato com o médico argentino Che Guevara e com o refugiado cubano Camilo Cienfuegos, que se tornariam líderes do levante.
Em dezembro de 1956, os quatro comandantes embarcaram para Cuba a bordo do iate Granma, acompanhados por dezenas de guerrilheiros, dando início à revolução. Ao desembarcarem na província de Oriente, os guerrilheiros foram atacados, mas um grupo conseguiu se refugiar na Serra Maestra. Os rebeldes rapidamente ganharam apoio da população campesina e iniciaram a formação do Exército Revolucionário. Fidel foi responsável por desenhar e guiar a tática e a estratégia de luta contra o regime de Batista. Comandou diversas operações militares bem sucedidas, sobretudo nas frentes de Oriente e Las Villas, e conseguiu subjugar as tropas legalistas após mais de dois anos de combate. Paralelamente às ações militares, Fidel se ocupou de preparar o modelo de governo a ser implementado após a derrubada de Batista.
Confirmada a vitória na Batalha de Santa Clara, os guerrilheiros deram início à ofensiva final, derrubando o regime cubano e forçando Batista a fugir da ilha em 1º de janeiro de 1959. Fidel e Raúl adentraram em Havana sob aplausos da multidão. Com o triunfo da revolução, Fidel assumiu o cargo de primeiro-ministro e deu início às grandes reformas, decretando a nacionalização dos bancos, desapropriação de empresas estrangeiras, coletivização das fábricas, instituição da reforma agrária e universalização dos sistemas de educação e saúde.
A plataforma nacionalista e anti-imperialista do governo revolucionário de Cuba contrariou os interesses dos Estados Unidos, levando ao rompimento das relações diplomáticas entre as duas nações.
O governo norte-americano decretou uma série de embargos e sanções econômicas contra Cuba, forçando Fidel a buscar apoio no bloco socialista comandado pela União Soviética. Em abril de 1961, Fidel liderou pessoalmente as tropas que derrotaram os mercenários financiados e organizados pelos Estados Unidos durante a Invasão da Baía dos Porcos. O intento contrarrevolucionário marcou a cisão definitiva entre os dois países, levando Cuba a intensificar seus laços com a União Soviética e a aprofundar o processo revolucionário sob os moldes socialistas.
A animosidade com o governo norte-americano atingiu seu ápice durante a Crise dos Mísseis de Cuba, em 1962, um dos eventos históricos de maior tensão no contexto da Guerra Fria.
Fidel deu continuidade às grandes reformas do Estado cubano, conduzindo campanhas bem sucedidas, sobretudo nas áreas de saúde e educação, viabilizando uma melhoria significativa nas condições de vida da população. Conseguiu também unificar o esforço conjunto das forças revolucionárias e anti-imperialistas, logrando a construção de um ambiente de estabilidade, malgrado as sanções econômicas e as tentativas de intervenção dos Estados Unidos — incluindo inúmeras tentativas frustradas de assassinato orquestradas pela CIA.
Em 1976, após a instituição da Assembleia Nacional do Poder Popular, assumiu oficialmente o cargo de presidente dos Conselhos de Estado e Ministros, função em que se manteve até 2008. Fidel exerceu paralelamente o cargo de primeiro-secretário do Partido Comunista de Cuba.
Durante quase cinco décadas, Fidel manteve-se como principal orientador e impulsionador das estratégias de desenvolvimento e de manutenção das conquistas revolucionárias. Sob seu governo, Cuba passou a ostentar indicadores sociais e de desenvolvimento humano semelhantes aos das nações avançadas e obteve um protagonismo internacional sem precedentes.
Suas vitórias contra as intervenções norte-americanas também o converteram em um expoente da luta anti-imperialista e em uma inspiração para os movimentos revolucionários e reformistas em todo o planeta. Fragilizado por problemas de saúde desde 2006, Fidel se afastou da Presidência cubana em 2008 e deixou a direção do partido três anos depois.
Faleceu de causas naturais em 25 de novembro de 2016, aos 90 anos de idade, causando grande comoção entre os cubanos e partidários dos ideais revolucionários em todo o mundo.