Nesse fim de semana, celebrou-se o aniversário de 82 anos da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Batalha de Stalingrado — a mais sangrenta batalha da Segunda Guerra Mundial, que se estendeu de 23 de agosto de 1942 a 2 de fevereiro de 1943.
A vitória do Exército Vermelho em Stalingrado foi o ponto de virada na Frente Oriental, pondo fim à expansão do Terceiro Reich.
A partir de Stalingrado, a União Soviética imporia sucessivas derrotas à Alemanha nazista, forçando-a a recuar até Berlim, onde o Exército Vermelho obteve a vitória final em março de 1945.
Operação Barbarossa
Sob comando da Wehrmacht (as Forças Armadas da Alemanha nazista), as tropas do Eixo invadiram a União Soviética em junho de 1941, durante a Operação Barbarossa. O avanço das unidades militares regulares era seguido pelos ataques dos esquadrões da morte da Schutzstaffel — a infame SS, unidade paramilitar responsável pela execução em massa de soviéticos, judeus, romas, etc.
Nutrindo ódio visceral ao socialismo, Adolf Hitler intencionava destruir a União Soviética, anexando a porção europeia do país ao território alemão, ampliando o chamado “Lebensraum” — o “espaço vital” que julgava necessário para estabelecer a hegemonia do “povo ariano”.
O povo soviético, visto como etnicamente inferior, seria massacrado ou utilizado como mão de obra escrava em campos de concentração.
O emprego da estratégia militar da Blitzkrieg (guerra-relâmpago) nas extensas estepes soviéticas conferiu grande vantagem às forças alemães, que avançaram com certa facilidade nos primeiros meses após a invasão.
A Alemanha havia dividido suas tropas em três grupos de Exércitos, com o objetivo de subjugar a União Soviética por meio de ataques simultâneos em múltiplas frentes. O Grupo de Exércitos Norte concentrou seus esforços no cerco a Leningrado e o Grupo de Exércitos Centro preparava a ofensiva contra Moscou.
Já o Grupo de Exércitos Sul foi incumbido de atuar na chamada Operação Azul — uma ofensiva pelas estepes do sudoeste soviético, visando capturar os poços de petróleo na região do Cáucaso.
Hitler ordenou igualmente aos Exércitos Sul que atacassem Stalingrado (atual Volgogrado), com o propósito de destruir a capacidade industrial da cidade e bloquear o transporte fluvial no Rio Volga, que conecta a Rússia Central ao Cáucaso e ao Mar Cáspio.
O líder nazista também considerava que a captura de Stalingrado — nomeada em homenagem ao líder soviético Josef Stalin — teria importância simbólica e reforçaria a desestabilização emocional do povo soviético.
A batalha
Stalin delegou a Andrei Yeremenko, Vassili Chuikov e Nikita Khrushchov o planejamento da defesa de Stalingrado. As tentativas iniciais de restabelecer as linhas defensivas, entretanto, fracassaram e os bolsões de resistência de Kharkov e Rostov logo foram destruídos.
As tropas da Hungria juntaram-se ao Exército Panzer e às forças italianas, húngaras e romenas para cercar a cidade, forçando os soviéticos a recuarem até o Rio Don. Paralelamente, a Luftwaffe — a Força Aérea da Alemanha nazista — iniciou uma intensa campanha de bombardeios, jogando mais de mil toneladas de bombas sobre a cidade, reduzindo-a a destroços e matando dezenas de milhares de civis.
Exército Vermelho e civis soviéticos se uniram na defesa da cidade. Sem ter qualquer treinamento específico, jovens mulheres se voluntariaram a montar um regimento de artilharia antiaérea, enquanto os operários se dividiram em frentes de produção de armamentos e grupos de milícias civis.
Sem poder contar com o apoio de sua força aérea, dizimada nos embates com a Luftwaffe, os soviéticos não conseguiram fazer muito além de resistir aos invasores. Para forçar os alemães à mudança de estratégia, o Exército Vermelho adotou uma tática arriscada, buscando se posicionar nas linhas de frente e utilizando os destroços das casas e fábricas da cidade para estabelecer linhas de defesa.

Soldados soviéticos avançando pelas ruínas de Stalingrado, em fevereiro de 1943
Eles passaram a se engajar em encarniçados combates corpo a corpo, enquanto bloqueavam a ação dos blindados com o uso de destroços.
Após três meses de carnificina, as tropas alemãs conseguiram dominar mais de 90% da cidade, encurralando os soviéticos em dois bolsões de resistência, numa pequena faixa de 900 metros à margem do Rio Volga. A Luftwaffe conduziu mais de 1.200 ataques de bombardeiros Stuka contra as tropas entrincheiradas, visando eliminá-las de forma definitiva, mas os soviéticos resistiram e mantiveram suas posições.
Um pelotão comandado pelo sargento Yakov Pavlov transformou as ruínas de um edifício residencial numa fortaleza impenetrável, enquanto os operários da Fábrica de Aço Outubro Vermelho seguiam reparando armamentos e se ofereciam para tripular os blindados, substituindo soldados mortos ou feridos.
O mundo acompanhava atônito e maravilhado a resistência heroica dos soviéticos em Stalingrado — um alento à esperança de deter a Alemanha nazista, que até então parecia invencível.
A reação soviética
No outono de 1942, os generais soviéticos Aleksandr Vasilievsky e Georgy Jukov lançaram a Operação Urano — uma grande contraofensiva do Exército Vermelho composta por 18 divisões de infantaria, oito brigadas de blindados, duas brigadas motorizadas e seis divisões de cavalaria.
Após aniquilarem as tropas romenas que guardavam as entradas de Stalingrado, os militares soviéticos movimentaram-se em duas frentes ao sul e ao norte da cidade, num movimento de pinça que aprisionou 250.000 militares alemães em um bolsão.
Os oficiais alemães pediram a Hitler autorização para retirada das tropas pelo Rio Don, mas o líder nazista negou a solicitação. A Luftwaffe tentou estabelecer uma ponte aérea para entregar suprimentos às tropas nazistas, mas a força aérea soviética, já recomposta, frustrou os planos.
Sob o inverno vigoroso, sem alimentos, água potável ou medicamentos, os soldados alemães começaram a morrer de fome, frio e doenças.
Paralelamente, as forças soviéticas lançaram uma segunda ofensiva — a Operação Saturno, atacando as forças do Eixo pelo Rio Don, libertando a cidade de Rostov. Com o ataque, o Exército Vermelho conseguiu cercar o restante do Grupo dos Exércitos Sul, aprisionando um terço de todas as forças do Eixo ativas na União Soviética.
Em janeiro de 1943, um enviado soviético fez uma oferta aos alemães sitiados: caso se rendessem em 24 horas, teriam garantia de vida para todos os prisioneiros de guerra e cuidados médicos para os feridos. O marechal Von Paulus enviou uma mensagem para Hitler informando sobre a derrota iminente: “colapso inevitável. Exército solicita autorização imediata para rendição a fim de salvar vidas das tropas restantes”, dizia o telegrama.
Hitler novamente negou o pedido, mas Von Paulus desobedeceu às ordens e apresentou a rendição. Cerca de 11 mil soldados do Eixo recusaram a rendição e continuaram lutando em pequenas unidades, que seriam dizimadas até março de 1943.
A Batalha de Stalingrado durou 199 dias e foi uma das maiores e mais letais batalhas da história, resultando em mais de dois milhões de mortes. Apesar do alto custo humano, Stalingrado representou o começo do fim do Terceiro Reich.
O sexto Exército da Alemanha foi inteiramente liquidado e o oficialato da Wehrmacht desmoralizado. Os alemães perderiam quase todas as grandes batalhas a partir de então, sendo forçados a recuar continuamente até a derrota definitiva em Berlim dois anos depois.
O heroísmo e a coragem dos cidadãos de Stalingrado e dos soldados soviéticos transformaram a cidade num símbolo de resistência à barbárie nazista.
Seu feito foi eternizado em poemas e monumentos grandiosos e Stalingrado foi agraciada com o título de Cidade Heroica em 1945.