Brasil contra os nazistas: 80 anos da Batalha de Fornovo di Taro
Este foi o último grande confronto travado pelos soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial
Há 80 anos, em 29 de abril de 1945, os soldados da Força Expedicionária Brasileira, auxiliados por partisans italianos, derrotavam as tropas da Alemanha nazista na Batalha de Fornovo di Taro, no norte da Itália.
Estendendo-se por quatro dias, a batalha foi o último grande confronto travado pelo Brasil durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo estando em desvantagem numérica, os brasileiros conseguiram forçar quatro divisões inimigas a se renderem — um feito inédito na Campanha da Itália.
A vitória do Brasil impediu a retirada das tropas alemãs, contribuindo para a libertação da Itália e enfraquecendo a capacidade de resposta do Terceiro Reich, que já colapsava diante do avanço implacável das forças soviéticas.
A campanha da FEB
Criada em agosto de 1943 por Getúlio Vargas, a Força Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcou na Itália em julho de 1944, sob o comando do general Mascarenhas de Morais. Após um breve período de adaptação e treinamento, os pracinhas foram integrados às demais divisões aliadas mobilizadas na Campanha da Itália.
A tarefa inicial dos soldados brasileiros era ajudar a romper a Linha Gótica — o sistema defensivo controlado pelo do Eixo, que bloqueava o avanço dos Aliados em direção ao norte da Península Itálica. A despeito das muitas dificuldades, a FEB conseguiu cumprir a grande maioria das missões para as quais foi designada.
Na primeira etapa, os brasileiros subjugaram os nazistas nas batalhas do Vale do Rio Serchio, libertando as cidades de Massarosa, Camaiore e Monte Prano. Em seguida, a FEB avançou rumo aos Apeninos, onde enfrentaria suas batalhas mais difíceis.
Os pracinhas sofreram alguns revezes e foram prejudicados pelo inverno rigoroso, mas conseguiram vencer os nazistas nas batalhas de Monte Castello e Castelnuovo. Em seguida, obtiveram novo triunfo contra o 14º Exército alemão durante a sangrenta Batalha de Montese.
Os triunfos da FEB nos Apeninos, somados às vitórias dos norte-americanos em Belvedere e Della Torraccia, possibilitaram o início da Ofensiva da Primavera — a investida derradeira dos Aliados na Itália, que visava desarticular as últimas linhas de defesa do Eixo e forçar a Alemanha à rendição.
Ofensiva em Collecchio
O Brasil registrou um bom desempenho durante a Ofensiva da Primavera. Em 12 dias, os pracinhas percorreram cerca de 400 quilômetros e libertaram mais de 60 vilas, povoados e cidades italianas.
Após derrotarem os nazistas em Montese e Zocca, os brasileiros passaram a perseguir as colunas alemãs que haviam evacuado Gênova e La Spezia, visando impedir que se deslocassem rumo às regiões setentrionais da Itália. Em meados de abril de 1945, as tropas brasileiras, lideradas pelo general Zenóbio da Costa, ocuparam postos estratégicos na região do Vale do Rio Pó.
Enquanto consolidavam as posições nos arredores de Parma, os brasileiros foram informados pelos partisans italianos de que um grande contingente alemão se aproximava pelo sul, rumando para a região de Fornovo di Taro. A cidade era servida pela Rodovia 62, uma das principais rotas de fuga utilizadas pelos alemães.
No dia 26 de abril de 1945, um Esquadrão de Reconhecimento da FEB chegou à cidade de Collecchio, vizinha a Fornovo di Taro, onde se deparou com um grande contingente de soldados nazistas.
Seguiu-se uma intensa batalha, em condições pouco favoráveis — os brasileiros, apoiados por alguns blindados, contra dois batalhões da 90ª Divisão Panzer Granadier, equipados com veículos semilagarta e canhões automáticos.
O combate se estendeu até o dia seguinte, quando a FEB recebeu reforços de sua infantaria. Os reforços foram decisivos para que os aliados vencessem a Batalha de Collecchio, capturando 588 soldados alemães. A FEB sofreu 17 baixas — um pracinha morto e 16 feridos.

Fotografia de Sílvio da Fonseca / Wikimedia Commons
Batalha em Fornovo di Taro
O grosso das tropas alemãs na província de Parma estava situado a poucos quilômetros de Collecchio, em Fornovo di Taro, organizando escaramuças e focos de resistência contra as tropas aliadas.
Assim, o coronel Nelson de Mello planejou o ataque a Fornovo di Taro, mobilizando três batalhões da FEB, auxiliados por uma companhia de blindados do Exército norte-americano e uma brigada de partisans da Resistência Italiana.
O ataque teve início no dia 28 de abril. Após o bloquear as possíveis saídas, a FEB lançou a ofensiva principal, coordenada pelo major Carlos Gross, que avançou com suas tropas pelo sul, encontrando violenta resistência.
Paralelamente, o 3º Batalhão, dirigido pelo major Silvino Castor da Nóbrega, e o Esquadrão de Reconhecimento, liderado pelo capitão Plínio Pitaluga, atacaram pelo sudoeste. A cidade foi cercada e a artilharia passou a bombardear as posições alemãs.
Os soldados nazistas revidaram com disparos de canhão, mas os pracinhas conseguiram neutralizar todas as tentativas de romper o cerco.
Ultimato e rendição
À medida em que em a batalha se estendia, os alemães se conscientizaram da impossibilidade da vitória. Cercados, desfalcados e quase sem munição, os soldados aceitaram negociar a rendição.
A mediação foi feita pelo padre Dom Alessandro Cavalli, vigário de Neviano De’ Rossi, que apresentou aos alemães o ultimato escrito pelo coronel Nelson de Mello: “para poupar sacrifícios inúteis de vidas, intimo-vos a render-vos incondicionalmente ao comando das tropas regulares do Exército brasileiro, que estão prontas para vos atacar. Estais completamente cercados e impossibilitados de qualquer retirada”, dizia o documento.
Os alemães protelaram a decisão por várias horas, mas aceitaram a rendição incondicional no dia 29 de abril, encerrando a batalha.
Cinco soldados brasileiros foram mortos no embate e outros 50 ficaram feridos. Foram capturados 14.779 militares do Eixo, a maioria provenientes da 148ª Divisão de Infantaria Alemã, bem como combatentes italianos da Divisão Bersaglieri, leais à “República de Salò”, do já finado Benito Mussolini.
Os feridos foram encaminhados para tratamento médico e os demais foram despachados para os campos de prisioneiros de Modena e Florença. Os pracinhas também apreenderam mais de 2.500 veículos, 4.000 cavalos, 80 canhões e um montante de seis milhões de liras.
No dia 30 de abril, o general Otto Fretter Pico, comandante da divisão alemã, e outros 31 oficiais do estado-maior também se renderam aos brasileiros.
Assim, a FEB encerrava com chave de ouro sua participação na Segunda Guerra Mundial — subjugando alguns dos mais experientes oficiais nazistas e se tornando a única força militar a conseguir capturar integralmente uma divisão alemã durante a Campanha da Itália.
A captura representou um golpe significativo para as já fragilizadas forças alemãs no norte da Itália, impossibilitando qualquer tentativa de reorganização das forças do Eixo. Poucos dias depois, em 2 de maio de 1945, as tropas alemãs ofereceriam sua rendição.
