Há 105 anos, em 9 de maio de 1920, nascia a revolucionária cubana Celia Sánchez
Ativa na resistência contra a ditadura de Fulgencio Batista, ajudou a fundar Movimento 26 de Julho e atuou como estrategista e coordenadora logística da guerrilha
Há 105 anos, em 9 de maio de 1920, nascia a revolucionária cubana Celia Sánchez. Ativa na resistência contra a ditadura de Fulgencio Batista, ela ajudou a fundar o Movimento 26 de Julho e atuou como estrategista e coordenadora logística da guerrilha.
O trabalho de Celia foi fundamental para garantir o triunfo da Revolução Cubana. Ela articulou toda a rede de apoio aos revolucionários na Serra Maestra e coordenou a logística do exército rebelde, garantindo o acesso a armas, insumos e reforços.
Posteriormente, Celia atuaria na linha de frente dos combates, tornando-se a primeira mulher a participar da guerrilha cubana. Após o triunfo dos revolucionários, ela ocupou importantes cargos no governo cubano, incluindo o de Secretária do Conselho de Ministros.
A juventude de Celia Sánchez
Celia Esther Sánchez Manduley nasceu em Media Luna, uma pequena cidade na província de Oriente (atual Granma), no leste de Cuba. Pertencia a uma família de classe média alta, filha de Acacia Manduley e do médico Manuel Sánchez Silveira. Acacia faleceu quando Celia ainda era criança, deixando oito filhos.
A visão de mundo de Celia foi bastante influenciada por seu pai. Liberal humanista e admirador das ideias de José Martí, Manuel costumava atender gratuitamente os pacientes pobres nos grotões de Cuba e criticava energicamente as injustiças sociais no país.
Celia acompanhava o pai em suas visitas médicas às comunidades rurais, testemunhado desde cedo a miséria e a exploração impostas aos camponeses. Embora não tenha frequentado a universidade, Celia era apaixonada pela leitura, dedicando-se com afinco a estudar sobre a história e a cultura cubana.
No fim dos anos 40, familiares de Celia se aproximaram do Partido do Povo Cubano (ou Partido Ortodoxo). Defensora de uma plataforma nacionalista e anti-imperialista, a organização congregava quadros que teriam enorme importância para o movimento revolucionário cubano, incluindo Fidel Castro.
O Movimento 26 de Julho
Em março de 1952, o general Fulgencio Batista liderou um golpe de Estado em Cuba, derrubando o governo constitucional de Carlos Prío Socarrás, a apenas três meses das eleições presidenciais. A quartelada foi justificada como uma ação necessária para combater a corrupção e debelar a agitação política na ilha.
Batista era o homem forte dos interesses norte-americanos em Cuba. Ele já havia liderado um outro golpe em 1934, a fim de garantir a instauração um governo fantoche subserviente a Washington. A partir de 1952, ele seria efetivado como ditador de um regime marcado pela corrupção, autoritarismo e pela violenta repressão contra os opositores. Estima-se que mais de 20 mil cubanos foram assassinados em seu governo.
O golpe de 1952 enfureceu a população cubana, resultando em protestos e manifestações por todo país. Uma primeira tentativa de rebelião armada contra o governo de Batista foi organizada por Fidel Castro em julho de 1953. Um grupo de 165 revolucionários invadiu o Quartel-General de Moncada a fim de tomar as armas e iniciar uma guerrilha.
A ação fracassou e os envolvidos foram presos. A coragem do grupo, entretanto, inspirou muitos jovens cubanos — incluindo Celia. Ela se tornou uma das mais aguerridas defensoras do movimento pela libertação dos presos políticos, engajando-se ativamente nas campanhas em apoio aos combatentes e seus familiares.
Libertado em 1955, Fidel se exilou no México, onde fundou o Movimento 26 de Julho (M-26-7), com o propósito de derrubar a ditadura de Batista. Determinada a colaborar com a luta, Celia ajudou a expandir o movimento na província de Oriente, mobilizando militantes para a causa e arrecadando recursos para as atividades guerrilheiras.
Enquanto Fidel preparava os combatentes no México, Celia organizava o terreno para o movimento em Cuba. Ao lado de Frank País, ela ajudou a adquirir armas, veículos, insumos e alimentos. Sua casa em Manzanillo se tornou um verdadeiro centro de planejamento para a revolução.
A luta em Serra Maestra
A guerrilha contra o governo de Batista teve início em novembro de 1956, quando 82 combatentes do M-26-7 desembarcaram na província de Oriente, a bordo do iate Granma. A maior parte do grupo foi dizimada pelas forças de Batista já na chegada a Cuba, mas 12 guerrilheiros conseguiram se refugiar na Serra Maestra.
O papel de Celia foi fundamental para garantir a sobrevivência dos combatentes. Ela foi responsável por mobilizar uma ampla rede de apoio aos guerrilheiros, garantindo que eles tivessem acesso a abrigos, alimentos, armas, equipamentos de comunicação, remédios, veículos e até o auxílio de milícias camponesas. O próprio Fidel Castro reconheceu que, sem o apoio de Celia, o movimento teria sido aniquilado em questão de dias.
Após a captura e assassinato de Frank País, Celia assumiu integralmente a responsabilidade de coordenar as operações logísticas e estratégicas da revolução. Ela supervisionava a distribuição de armas, veículos e insumos, arregimentava reforços e intermediava a comunicação entre Serra Maestra e as células urbanas. Seu trabalho contribuiu para a profissionalização da guerrilha, garantindo o sucesso na luta contra as tropas de Batista.
Ciente da importância de Celia na organização da guerrilha, o governo cubano intensificou os esforços para capturá-la. Temendo por sua vida, Fidel a orientou a deixar a cidade e se juntar ao exército revolucionário. Assim, em meados de 1957, Celia se tornaria a primeira mulher a atuar na guerrilha de Serra Maestra.

Arquivo do Granma
Incorporada à Coluna José Martí, Celia se destacou pela grande habilidade como guerrilheira. Ela participou ativamente do Combate de El Uvero, onde os revolucionários obtiveram sua primeira grande vitória contra as tropas de Batista. Também foi uma das fundadoras do Pelotão Mariana Grajales — o destacamento feminino do exército rebelde, formado por guerrilheiras como Isabel Rielo, Teté Puebla e Haydée Santamaría.
Ao longo de toda a guerrilha, Celia exerceria o papel de colaboradora mais próxima de Fidel. Ela também se dedicava a documentar minuciosamente as atividades do exército rebelde, transcrevendo ordens e planos e coletando documentos, atas e fotografias. Boa parte dos registros historiográficos conhecidos da revolução provêm desse trabalho de Celia.
A guerrilheira também foi responsável por coordenar a construção do quartel-general do exército rebelde em La Plata e dos hospitais de campanha em Camaroncito e Pozo Azul.
Atuação no governo revolucionário
Após a queda de Batista e o triunfo do exército rebelde em janeiro de 1959, a guerrilheira assumiria uma série de tarefas importantes e seria indicada para ocupar cargos no alto escalão do governo revolucionário.
Em 1962, Celia foi nomeada como Secretária do Conselho de Ministros de Cuba — o principal órgão executivo e administrativo do governo cubano. Ela ainda ocuparia a função de Ministra da Presidência e de Secretária do Conselho de Estado. Também foi deputada do Parlamento, representando o município de Manzanillo.
Por fim, Celia foi integrante do Comitê Central do Partido Comunista Cubano — agremiação criada em 1965, a partir da fusão do Movimento 26 de Julho e do Partido Socialista Popular.
Celia influenciou diretamente a formulação de diversas políticas públicas e importantes ações do governo cubano. Ela ajudou a organizar a Campanha Nacional de Alfabetização, que logrou erradicar o analfabetismo em Cuba em um prazo de apenas nove meses.
Em 1964, Celia fundou o Escritório de Assuntos Históricos do Conselho de Estado, um dos maiores fundos arquivísticos do Caribe, detentor de um acervo de 159 mil fotografias e 56 mil documentos e correspondências dos líderes revolucionários. A iniciativa também incluía um importante projeto de preservação da memória oral, com registros de depoimentos dos partícipes da guerrilha.
Celia dedicou-se igualmente a criar órgãos de fomento à educação e à cultura, à preservação de sítios históricos e arqueológicos, a ampliar as redes de museus, bibliotecas e centros de lazer e entretenimento.
Ela foi a idealizadora do Parque Lenin — um gigantesco complexo ecológico e recreativo localizado nos arredores de Havana, com uma área de 472 hectares, reunindo parques de diversões, núcleos de preservação e equipamentos culturais.
Celia coordenou a construção do Palácio das Convenções e foi responsável por criar a Coppélia — a rede estatal de sorveterias de Cuba, concebida a partir de sua obsessão em garantir que todos os cidadãos tivessem acesso aos prazeres que antes eram restritos às classes privilegiadas.
A dedicação em prover melhor qualidade de vida aos cubanos, sua simplicidade e proximidade com o povo fizeram com que Celia se transformasse em uma figura muito querida.
Ela era a “face humana” da Revolução Cubana, que se preocupava em conhecer o cotidiano e ouvir as reivindicações das comunidades, buscando garantir que a revolução fosse, acima de tudo, a concretização das aspirações populares.
Morte e homenagens
Celia Sánchez faleceu em 11 de janeiro de 1980, aos 59 anos de idade, vitimada por um câncer. Sua morte comoveu toda a nação e milhares de cubanos compareceram ao seu funeral para render as últimas homenagens.
Um monumento e um memorial em sua honra foram erguidos no Parque Lenin. E a residência onde ela nasceu em Media Luna foi transformada no Museu Casa Natal de Celia Sánchez, onde seus objetos pessoais e documentos são preservados.
A efígie de Celia decora a moeda de 10 pesos cubanos. Seu nome foi emprestado a escolas, hospitais e centros comunitários, tanto em Cuba como em outros países.
Celia também inspirou inúmeras obras de arte, poemas e canções. Em 2016, sua vida foi retratada no documentário Celia, la más hermosa flor, dirigido por Ariel Prieto-Solís.
