Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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Há 133 anos, em 7 de maio de 1892, nascia Josip Broz Tito, um dos mais importantes líderes do movimento socialista do século 20.

Capturado pelo Exército russo durante a Primeira Guerra Mundial, Tito foi libertado pelos trabalhadores sublevados e se juntou às tropas bolcheviques que concretizaram a Revolução de Outubro.

À frente do Partido Comunista da Iugoslávia, ele comandou a resistência dos partisans contra as forças nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, conseguindo vencer e expulsar os invasores. Em seguida, depôs a monarquia e fundou a República Socialista Federativa da Iugoslávia.

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Marechal Tito foi o principal formulador da tendência socialista conhecida como “titoísmo”, ou “socialismo autogestionado”. Ele se destacou ainda pelos esforços em manter a independência política em relação ao bloco soviético e foi o fundador do Movimento dos Países Não Alinhados.

Da juventude à Revolução de Outubro

Josip Broz Tito nasceu em Kumrovec, na Croácia, à época parte integrante do Império Austro-Húngaro. Ele pertencia a uma família modesta, filho do ferreiro croata Franjo Broz e da eslovena Marija Javersek. Após cursar o ensino primário, Tito teve de interromper os estudos para ajudar na manutenção da casa. Aos 15 anos, começou a trabalhar como aprendiz de serralheiro.

Posteriormente, Tito se mudou para Zagreb, onde iniciou sua atividade no movimento operário, filiando-se ao sindicato dos metalúrgicos e ao Partido Social-Democrata da Croácia-Eslavônia. Em 1913, ingressou no Exército Austro-Húngaro, onde galgaria uma rápida ascensão, tornando-se o mais jovem sargento-major do país.

Após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, Tito foi enviado para a Frente Oriental, onde combateu as tropas da Rússia. Ferido em combate, foi capturado pelos russos e enviado para um campo de trabalhos forçados nos Montes Urais, onde se tornou líder dos prisioneiros.

Durante a Revolução Russa de 1917, trabalhadores revoltados invadiram a prisão onde Tito estava detido e libertaram os prisioneiros. Tito uniu-se então aos bolcheviques. Ele participou das Jornadas de Julho em Petrogrado, auxiliando os anarquistas e comunistas que pretendiam derrubar o governo provisório da Rússia.

Com o triunfo da Revolução de Outubro, Tito ingressou na Guarda Vermelha de Omsk, sendo incumbido de proteger a Ferrovia Transiberiana. Perseguido em uma ofensiva do contrarrevolucionário Exército Branco, refugiou-se na Quirguízia.

Após seu retorno a Omsk, Tito se casou com a militante comunista Pelagija Belousova. Consolidada a vitória dos revolucionários, ele se filiou à seção iugoslava do Partido Comunista Russo, em 1918. Dois anos depois, Tito retornou à sua terra natal, agora parte do Reino da Iugoslávia, governado pela dinastia Karadordevic.

O Partido Comunista da Iugoslávia

Tito se estabeleceu em uma vila nos arredores de Zagreb, onde passou a trabalhar como mecânico. Ele retomou sua militância política, ingressando no Partido Comunista da Iugoslávia (PCI) e se dedicando à organização do movimento operário local.

Embora fosse um partido recente, o PCI estava em franco crescimento na Iugoslávia, refletindo a pujança das mobilizações operárias no pós-guerra. Nas eleições de 1920, o partido conquistou 59 cadeiras na Assembleia Constituinte, formando a terceira maior bancada.

O avanço dos comunistas nas eleições parlamentares assustou o governo iugoslavo. O assassinato do ministro Milorad Draskovic serviria de pretexto para o banir o Partido Comunista e cassar os mandatos dos deputados de esquerda.

Tito seguiu atuando clandestinamente no movimento comunista, organizando greves e a agitação antigovernamental. Em 1928, ele seria nomeado secretário político do comitê do PCI em Zagreb. Nesse mesmo ano, liderou os grandes protestos convocados em repúdio ao assassinato dos deputados do Partido Camponês Croata.

Acusado de agitação e incitação à desordem, Tito foi preso em agosto de 1928. Vários correligionários do PCI teriam o mesmo destino nos anos seguintes. O partido havia se tornado alvo da perseguição do rei Alexandre I. O monarca suspendeu o parlamento iugoslavo, instalou uma ditadura e iniciou a repressão às organizações de esquerda e aos movimentos nacionalistas não-sérvios.

Tito ficou encarcerado por quase seis anos, até 1934. Na prisão, ele se dedicou à leitura dos textos marxistas e se aproximou de Mosa Pijade, um respeitado veterano e ideólogo do movimento comunista iugoslavo. Após sua libertação, Tito foi nomeado para compor o comitê executivo do PCI e auxiliou na reestruturação do partido.

Entre 1935 e 1936, Tito executou uma série de tarefas a pedido da União Soviética, colaborando intensamente com a Comintern (Internacional Comunista) e com o NKVD, o serviço secreto soviético. Entre as missões das quais que ele foi incumbido, estava a de arregimentar voluntários para combater na Guerra Civil Espanhola.

Em 1937, após a intervenção e os expurgos de Moscou no PCI, Tito assumiria o comando do partido. Ele se manteria nessa função pelas quatro décadas seguintes.

A Segunda Guerra Mundial

Tito teve um papel fundamental no combate ao nazifascismo durante a Segunda Guerra Mundial. Em abril de 1941, forças da Alemanha Nazista, auxiliadas por tropas da Itália e Hungria, invadiram a Iugoslávia e rapidamente subjugaram as defesas nacionais.

Em resposta, Tito formou um comitê militar dentro do Partido Comunista Iugoslavo e passou a conclamar o povo a resistir à ocupação nazista, formando uma série de milícias civis (ditos partisans).

Diferentemente de outros grupos paramilitares nacionalistas, os partisans comandados por Tito eram multiétnicos, congregando sérvios, croatas, eslovenos e bósnios. O líder iugoslavo iniciava assim não apenas um importante movimento de resistência, mas uma poderosa campanha ideológica em prol da unificação dos povos dos Balcãs.

O exército popular comandado por Tito contava com quase um milhão de combatentes. O líder comunista demonstrou grande habilidade estratégica no emprego de táticas de guerrilha, ao mesmo tempo em que lograva manter a coesão do movimento.

Os partisans iugoslavos conseguiram libertar vários territórios do domínio alemão, nomeadamente a República de Uzice, além de viabilizar a fuga de milhares de prisioneiros judeus.

À medida que libertavam os territórios, os partisans estabeleciam comitês populares que atuavam como um governo civil, organizados em torno do Conselho Antifascista de Libertação Nacional da Iugoslávia. O conselho estabeleceria as bases para organização do país no pós-guerra, nos moldes de uma federação de nações iugoslavas.

Apoiado pelas nações aliadas durante a Conferência de Teerã, Tito assumiu o controle do Comitê Nacional em 1943. No ano seguinte, os partisans iugoslavos prepararam uma poderosa ofensiva geral que resultou na destruição da maior parte das linhas alemãs.

A expulsão definitiva dos nazistas ocorreria em 1945, quando os partisans libertaram as regiões remanescentes do país, com apoio de algumas unidades do Exército Vermelho.

marechal tito
Marechal Tito foi um dos maiores líderes do movimento socialista do século 20
Biblioteca Digital da Eslovênia / Wikimedia Commons

As reformas da Iugoslávia socialista

Após o fim da guerra, o rei Pedro II foi deposto e a monarquia iugoslava foi abolida. O país foi refundado sob o nome de República Federal Popular da Iugoslávia, composta por seis nações (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedônia) e duas províncias autônomas (Kosovo e Voivodina). Marechal Tito assumiu o cargo de chefe de governo, no qual permaneceria até 1980.

Sob o comando de Tito, a Iugoslávia implementou uma série de reformas estruturais de inspiração socialista. O governo instituiu um amplo programa de reforma agrária, conduzindo a coletivização parcial das terras, e nacionalizou os setores estratégicos da indústria. Os sistemas de saúde e educação e o direito à moradia foram universalizados.

Grandes investimentos foram feitos no setor de infraestrutura. O governo socialista construiu estradas, ferrovias e barragens e conduziu uma bem-sucedida política de industrialização, voltado a setores como metalurgia, mineração e energia. Regiões menos desenvolvidas, como a Macedônia e a Bósnia, receberam investimentos significativos, o que possibilitou a superação de desigualdades regionais históricas.

Foram introduzidos benefícios como pensões, licença-maternidade e seguro-desemprego, garantindo maior proteção social para os trabalhadores. O governo iugoslavo também implementou medidas visando promover a igualdade de gênero e a participação feminina em áreas tradicionalmente dominadas pelos homens.

Um dos pilares do governo de Tito foi a política de “Fraternidade e Unidade”, que buscava superar as tensões étnicas históricas entre os povos dos Balcãs. A política conseguiu neutralizar o extremismo nacionalista e promover a coexistência, mas não bastou para suprimir os ressentimentos latentes, sobretudo entre sérvios e croatas.

O “titoísmo”

Embora buscasse a construção de um sistema socialista, a Iugoslávia desenvolveu seu próprio modelo de gestão econômica, contrariando as diretrizes do planejamento centralizado de Moscou. O modelo iugoslavo, posteriormente batizado de “socialismo autogestionado” ou “titoísmo”, previa a introdução do lucro compartilhado e a autogestão operária das empresas.

O controle das companhias nacionalizadas foi entregue a conselhos de trabalhadores, que decidiam sobre a produção, distribuição de lucros e investimentos. Diferentemente de outros governos socialistas, a Iugoslávia permita a existência limitada da iniciativa privada e a concorrência com as empresas estatais.

Tito também buscou preservar a independência da política externa da federação balcânica em relação à União Soviética, o que causou sérios atritos com Josef Stalin. Contrariado, o líder soviético expulsou Tito do Cominform — o órgão de concertação internacional do Partido Comunista da URSS. Stalin também impôs sanções econômicas contra a Iugoslávia e chegou a ameaçar o país com uma intervenção militar.

O rompimento com Stalin permitiu que Tito se reaproximasse dos países ocidentais. Ao mesmo tempo, o modelo do socialismo autogestionado, mais tolerante em relação ao capital privado, também era mais palatável para as potências capitalistas.

Esse contexto possibilitou à Iugoslávia manter melhores relações com o bloco liderado pelos Estados Unidos durante a Guerra Fria — ao ponto de permitir que o país recebesse auxílios financeiros do Plano Marshall.

O Movimento dos Países Não Alinhados e os últimos anos

Embora não rivalizasse com os Estados Unidos, Tito também recusou a adesão automática aos interesses do Ocidente.

Ele se aproximou de líderes de países recém-independentes, como Jawaharlal Nehru (Índia), Gamal Abdel Nasser (Egito), Kwame Nkrumah (Gana) e Sukarno (Indonésia), para formar o Movimento dos Não-Alinhados, oficializado em 1961 na Conferência de Belgrado.

O movimento defendia a soberania, a cooperação econômica e a resistência ao neocolonialismo, reunindo nações da Ásia, África e América Latina — estabelecendo uma alternativa para as nações que que pretendiam manter-se neutras em meio às disputas da Guerra Fria.

Após a morte de Stalin e a instituição da política da Détente por Brejnev, Iugoslávia e União Soviética se reaproximaram. Tito também se reconciliou com o governo da China, de quem havia se afastado após ser rotulado como “revisionista”.

A Iugoslávia seguiu, entretanto, mantendo relações comerciais e diplomáticas amistosas com nações ocidentais – embora tenha cortado relações diplomáticas com o Chile após o golpe militar que depôs Salvador Allende.
Tito foi reeleito para o cargo de presidente da Iugoslávia por seis mandatos consecutivos. Na década de 1970, o mandatário introduziu uma série de reformas políticas limitando a própria participação no governo e fomentando a descentralização administrativa, dando maior autonomia às repúblicas e províncias da federação.

Não obstante, o governo iugoslavo conseguiu suprimir levantes emancipacionistas e manter a unidade do país
Tito faleceu Liubliana, na Eslovênia, em 4 de maio de 1980. A morte do líder iugoslavo e a subsequente dissolução do governo socialista tiveram consequências drásticas para as repúblicas balcânicas.

Ódio, ressentimentos e disputas políticas e ideológicas entre diferentes grupos étnicos regionais mergulharam a região em uma sangrenta disputa fratricida, fragmentando a Iugoslávia e desencadeando o maior conflito bélico europeu após a Segunda Guerra Mundial, marcado por genocídios e graves violações de direitos humanos.