Há 71 anos, em 19 de junho de 1953, Julius e Ethel Rosenberg eram executados na cadeira elétrica. A pena de morte foi decretada pela Justiça norte-americana, que condenou o casal por fornecer informações confidenciais sobre o desenvolvimento da bomba atômica para a União Soviética.
Julius e Ethel Rosenberg eram naturais de Nova York, ambos descendentes de famílias judias. Cresceram durante a Grande Depressão, em meio a um ambiente de crise econômica propício à radicalização da classe trabalhadora. Como muitos operários norte-americanos, Julius e Ethel se interessaram pelos movimentos sindicais e pelo ideário socialista. Desde os 16 anos, Julius já estava filiado à Liga da Juventude Comunista, onde viria a conhecer Ethel alguns anos depois.
Se casaram e tiveram dois filhos — Robert e Michael. Julius se formou em engenharia elétrica em 1939 e começou a trabalhar como técnico de radar para o Exército dos Estados Unidos. Ethel trabalhava como secretária em uma companhia de navegação.
Conforme relatado por Alexander Feklisov, ex-oficial do Ministério do Interior da União Soviética, Julius Rosenberg teria sido recrutado como informante da KGB (agência soviética de serviços secretos) em 1942, por intermédio do espião Semyon Semyonov. Os dois foram apresentados por Bernard Schuster, dirigente do Partido Comunista dos Estados Unidos. Julius passou a fornecer à União Soviética informações estratégicas sobre projetos militares desenvolvidos pela companhia Emerson Electric e pelas Forças Armadas dos Estados Unidos.
O irmão de Ethel Rosenberg, David Greenglass, também começou a fornecer materiais sensíveis à União Soviética por intermédio do cunhado Julius. David trabalhava no Laboratório Nacional de Los Alamos, onde, desde 1939, o governo dos Estados Unidos conduzia o Projeto Manhattan — o programa de desenvolvimento de armas nucleares, realizado em cooperação com Reino Unido e Canadá. Assim como a irmã e o cunhado, David também tinha vínculos com o Partido Comunista. Junto com alguns outros participantes do projeto, David se voluntariou a repassar as informações sobre o Projeto Manhattan ao governo soviético, pois considerava que seria catastrófico um mundo onde os Estados Unidos possuíssem o monopólio das armas atômicas.
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Embora fossem aliados durante a Segunda Guerra Mundial, os governos dos Estados Unidos e da União Soviética não compartilhavam informações estratégicas. Os soviéticos estavam conscientes da existência do Projeto Manhattan, mas ainda não tinham conseguido infiltrar espiões diretamente nas instalações norte-americanas. O programa nuclear da União Soviética já estava bem avançado, mas as informações repassadas por Julius Rosenberg, David Greenglass e outros espiões possibilitaram que o processo fosse acelerado. Em 1949, os soviéticos fizeram seu primeiro teste nuclear, deixando os norte-americanos atônitos e desconfiados de vazamento de informações secretas.
Por intermédio do Projeto Venona, a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos conseguiu descriptografar algumas mensagens transmitidas por órgãos de inteligência da União Soviética. Em 1950, as autoridades norte-americanas descobriram que Klaus Fuchs, um físico teórico alemão que trabalhou para os britânicos durante o Projeto Manhattan, havia vazado informações sobre a bomba atômica para a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. Interrogado, Fuchs delatou vários colegas que haviam colaborado com o vazamento das informações, incluindo Harry Gold, que, por sua vez, implicou Ruth, esposa de David Greenglass, o casal Rosenberg e um engenheiro da General Electric chamado Morton Sobell. Todos foram presos.
Em 6 de março de 1951, teve início o julgamento do Caso Rosenberg. A acusação ficou a cargo do promotor Irving Saypol, que atuou em diversos casos famosos de perseguição a comunistas desde os anos 40. O irmão de Ethel, David Greenglass, foi a principal testemunha da acusação. Tentando obter imunidade para sua esposa e abrandamento da sua pena, David afirmou ter sido cooptado pelo cunhado para repassar as informações à União Soviética e que sua irmã, Ethel, transcrevia documentos confidenciais. Julius e Ethel alegaram inocência. O governo norte-americano afirmou que poderia poupá-los se confessassem sua culpa e entregassem os nomes de outros espiões. Os Rosenberg se negaram a revelar quaisquer nomes e afirmaram que não seriam coagidos a prestar falso testemunho, mesmo diante da morte.
Apesar das muitas inconsistências na acusação e as enormes dúvidas sobre a culpabilidade de Ethel, o casal não tinha nenhuma chance de obter um julgamento isento. Vilanizados pela imprensa, os Rosenberg se tornaram alvos da histeria e da paranoia anticomunista da Guerra Fria, ao mesmo tempo em que serviam para validar os crescentes expurgos e a perseguição promovida pelo governo norte-americano contra a esquerda radical e os opositores da Guerra da Coreia. Assim, em abril de 1951, alegando que as ações do casal eram “mais repulsivas do que homicídio”, o juiz Irving Kaufman os declarou culpados e os sentenciou à pena de morte. Greenglass foi condenado a 15 anos de prisão, mas foi solto após cumprir 10 anos. Harry Gold ficou preso por 15 anos e Morton Sobell cumpriu 17 anos.
A sentença causou indignação e motivou a criação de uma campanha internacional. Ao longo de dois anos, os advogados do casal Rosenberg apresentaram uma série de apelos, incluindo pedidos de clemência aos presidentes Harry Truman e Dwight Eisenhower — todos negados. Cientistas, artistas e intelectuais, incluindo Albert Einstein, Bertolt Brecht, Fritz Lang, Pablo Picasso e Diego Rivera, pressionaram pela comutação da sentença, alegando que o julgamento havia sido injusto e que o casal estava sendo utilizado como bode expiatório do discurso macarthista. O filósofo Jean-Paul Sartre definiu a sentença como “um linchamento legalizado que mancha de sangue toda uma nação”. Até mesmo o papa Pio XII atuou na campanha, solicitando o perdão presidencial para casal Rosenberg ao presidente Eisenhower.
A campanha por clemência foi em vão. Em 19 de junho de 1953, os Rosenberg foram executados na cadeira elétrica na prisão de segurança máxima de Sing Sing, em Nova York. Julius tinha então 35 anos e Ethel 37. O casal abriu mão de suas palavras finais. Julius morreu com o primeiro choque. Ethel recebeu dois choques adicionais. Os filhos do casal, ainda muito pequenos, ficaram sob custódia do compositor Abel Meeropol e sua mulher Anne.
Julius e Ethel foram os primeiros civis norte-americanos executados por espionagem durante a Guerra Fria. Os filhos do casal solicitaram um pedido de perdão oficial póstumo em janeiro de 2017, mas o então presidente Barack Obama rejeitou a petição.