Movimento Rosa Branca: o sacrifício dos jovens alemães que desafiaram Hitler
Estudantes distribuíam panfletos contra crimes do Terceiro Reich
Há 82 anos, em 18 de fevereiro de 1943, os irmãos Hans e Sophie Scholl eram capturados pela Gestapo — a polícia secreta da Alemanha nazista. Eles seriam guilhotinados quatro dias depois, na prisão de Stadelheim.
Hans e Sophie eram líderes do movimento de resistência antinazista Rosa Branca. O grupo era formado por estudantes alemães que se dedicavam a distribuir panfletos onde denunciavam os crimes do Terceiro Reich e exortavam a população à luta.
O nazismo na sociedade alemã
Desde a década de 1920, o Partido Nazista havia posto em prática um plano bem sucedido de infiltração de seus ideólogos nas instituições da sociedade alemã. Após a ascensão de Adolf Hitler ao cargo de chanceler, esse processo se tornou uma política de Estado.
Em pouco tempo, das Forças Armadas às escolas infantis, não havia nenhuma organização social que não estivesse submetida à influência do ideário nazista.
O Terceiro Reich deu atenção especial ao aparelhamento de instituições que pudessem ser instrumentalizadas para a doutrinação de jovens, visando impregná-los com um sentimento de fidelidade incondicional ao Partido Nazista e criar os alicerces para a sobrevivência do regime a longo prazo.
Ao mesmo tempo, a repressão violenta dos que questionassem o regime e a criação de uma rede de delações — incentivando, inclusive, as crianças a denunciarem os próprios pais que fizessem críticas a Hitler ou ao nazismo — criava um ambiente de medo e insegurança, desestimulando a criação de núcleos de resistência.
Esse contexto de forte controle social costuma alimentar a impressão de que toda a sociedade alemã apoiou ou foi conivente com os horrores do regime nazista. Houve, entretanto, diversos núcleos domésticos de resistência ao Terceiro Reich — e alguns deles floresceram dentro das próprias instituições hitleristas. É o caso do movimento Rosa Branca.
O movimento Rosa Branca
O movimento foi criado em 27 de junho de 1942 e era composto por jovens estudantes da Universidade de Munique. Seus líderes eram Alexander Schmorell, Willi Graf, Christoph Probst e os irmãos Hans e Sophie Scholl. O nome era uma referência a um poema A Rosa Branca de Clemens Brentano.
Muitos dos integrantes do movimento eram previamente ligados à instituições nazistas. Hans Scholl, por exemplo, era filiado à Juventude Hitlerista e sua irmã, Sophie, pertenceu à Liga das Moças Alemãs.
Aos poucos, o entusiasmo com o forte sentimento de comunhão e otimismo alimentado por essas instituições foi arrefecendo e os jovens começaram a perceber que, apesar dos discursos recheados de exaltação ao regime, havia algo muito errado com a Alemanha nazista.
Não obstante, a maioria, mesmo frustrada e assustada com os rumos que as coisas tomavam, permaneceu inerte. Sobre isso, Sophie registrou: “o que escrevemos e falamos é o que muitas pessoas pensam, mas não têm coragem de dizer”.
O movimento Rosa Branca tinha por objetivo articular um núcleo de resistência ao nazismo dentro da própria Alemanha nazista. Os jovens organizavam reuniões clandestinas nas universidades, tentavam cooptar apoio de professores e pessoas confiáveis para a iniciativa e pichavam frases contra o regime nazista nas paredes e muros das cidades alemãs.

Hans Scholl, Sophie Scholl e Christoph Probst fotografados em Munique, em julho de 1942
Os panfletos
A principal atividade do movimento consistia na distribuição de panfletos contra o regime nazista. Os jovens imprimiam milhares de unidades e distribuíam nas caixas de correio das grandes cidades da Alemanha, sobretudo em Munique e Hamburgo.
Os panfletos condenavam a passividade da sociedade alemã, denunciavam os crimes cometidos pelos nazistas e conclamavam o povo a se organizar para resistir e lutar contra o Terceiro Reich.
O grupo produziu seis modelos de panfletos com textos diferentes. No primeiro deles, lia-se: “não é verdade que todo alemão honesto tem vergonha de seu governo atualmente? Quem entre nós tem alguma ideia do tamanho da vergonha que se abaterá sobre nós e nossos filhos quando um dia o véu cair de nossos olhos e o mais horrível dos crimes — crimes que se distanciam infinitamente de cada medida humana — alcançar a luz do dia?”.
No segundo folheto, o grupo denunciava o assassinato em massa de judeus: “desde a conquista da Polônia, 300.000 judeus foram assassinados neste país das formas mais bestiais. O povo alemão continua dormindo em um sono entorpecido e estúpido e encoraja os criminosos fascistas. Todos querem ser exonerados da culpa, todos seguem seu caminho com a consciência plácida e tranquila. Mas não podem ser desculpados. São culpados! Culpados! Culpados!”.
Captura e execução
Muito cautelosos, os jovens passaram meses contornando as tentativas do regime nazista de identificá-los. Mas em 18 de fevereiro de 1943, enquanto distribuíam panfletos no prédio principal da Universidade de Munique, os irmãos Hans e Sophie Scholl foram flagrados por Jakob Schmid, zelador da universidade.
Schmid alertou a Gestapo que localizou e prendeu os jovens. Os irmãos foram torturados durante um brutal interrogatório, mas se negaram a revelar o nome dos outros integrantes do movimento.
Os interrogadores da Gestapo, entretanto, encontraram no bolso de Hans um texto manuscrito por Christoph Probst e conseguiram identificá-lo através de comparação caligráfica.
Hans Scholl, Sophie Scholl e Christoph Probst foram condenados à morte por “traição” e executados na guilhotina da Prisão de Stadelheim em 22 de fevereiro de 1943. Outros membros da Rosa Branca, tais como Willi Graf, Kurt Huber e Alexander Schmorell, também seriam denunciados às autoridades alemãs por estudantes da Universidade de Munique. Eles foram executados entre outubro de 1943 e janeiro de 1945.
O martírio dos estudantes do movimento Rosa Branca comoveu e inspirou outros estudantes alemães, fomentando a criação de novas células de resistência ao regime nazista.
Ainda em 1943, vários grupos anônimos seguiram a estratégia dos estudantes, copiando e distribuindo panfletos antinazistas nas cidades do país.
O romancista alemão Thomas Mann, radicado na Suíça desde que os nazistas ascenderam ao poder, passou a divulgar o conteúdo dos folhetos do movimento Rosa Branca nas suas transmissões de rádio pela BBC, direcionadas ao povo alemão.
O Exército Vermelho distribuiu materiais com homenagens aos estudantes, também reproduzindo os textos dos panfletos. E os aviões aliados, ao sobrevoarem as grandes cidades do Reich, passaram a jogar cópias do último panfleto escrito pelos jovens, sob o título de “Manifesto dos Estudantes de Munique”.
