Terça-feira, 13 de maio de 2025
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Há 207 anos, em 5 de maio de 1818, nascia o teórico e revolucionário alemão Karl Marx, um dos pensadores mais influentes da história.

Marx dedicou sua vida a produzir uma análise crítica e abrangente sobre o capitalismo, tendo como enfoque as relações de classe, as dinâmicas históricas e as contradições e desigualdades inerentes ao sistema capitalista – sempre reforçando a percepção da luta de classes como o “motor da história”.

Ao lado de Friedrich Engels, ele lançou os fundamentos teóricos do socialismo científico, criando a base sobre a qual se assentam parte substancial das correntes de esquerda e dos movimentos revolucionários – e as ideias que norteiam a compreensão das estruturas de poder e das dinâmicas de exploração no capitalismo.

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Marx é autor de algumas das obras mais importantes da era contemporânea, incluindo o “Manifesto Comunista”, onde exorta a ação das massas na luta pela superação da sociedade de classes, e “O Capital”, centrada na análise do modo de produção capitalista.

Juventude e formação

Karl Marx nasceu em uma família de classe média de Tréveris, no Reino da Prússia (atual Alemanha). Era o terceiro dos nove filhos de Henriette Pressburg, uma judia holandesa, e Heinrich Marx, um advogado liberal de origem judaica, convertido ao protestantismo.

Marx iniciou seus estudos básicos no Liceu Friedrich Wilhelm em 1830 – um ano marcado pela eclosão de revoluções em diversos países europeus. Ele se matriculou no curso de direito da Universidade de Bonn em 1836, transferindo-se para a Universidade de Berlim no ano seguinte. Logo perdeu o interesse pelo direito, preferindo se dedicar ao estudo da história e da filosofia.

Em Berlim, Marx se dedicou a estudar a obra de Hegel, tornando-se membro do grupo dos Jovens Hegelianos. Ligou-se ainda ao Clube dos Doutores, dirigido por Bruno Bauer, e sofreu influência de Ludwig Feuerbach.

O pensador alemão se doutorou em filosofia em 1841, apresentando a tese “Diferenças da Filosofia da Natureza em Demócrito e Epicuro”, onde prenuncia seu interesse pelo materialismo e pela dialética, criticando tanto a mentalidade teologizante quanto o determinismo dos hegelianos.

Gazeta Renana e atividades em Paris

Em 1842, Marx se tornou redator-chefe da Gazeta Renana, jornal de cunho editorial reformista e pró-democracia, que fazia forte oposição ao autoritarismo prussiano. Os artigos de Marx criticavam a censura, as condições dos trabalhadores e as políticas prussianas – suscitando o descontamento do governo, que ordenaria o fechamento do jornal já no ano seguinte.

Paralelamente ao trabalho jornalístico, Marx aprofundou seus estudos sobre problemas econômicos e socialismo francês, lendo obras de Saint-Simon, Fourier e Proudhon, entre outros.

Em 1843, Marx se casou com Jenny von Westphalen, sua amiga de infância, e se mudou para Paris. Após o fechamento da Gazeta Renana, ele fundou o jornal Anais Franco-Alemães, uma tentativa de dar continuidade à oposição ao governo prussiano. Não obstante, o periódico só teve uma edição, em que se veiculou o texto “A Questão Judaica” (1844).

Ainda sob forte influência de Hegel, Marx escreveu seus “Manuscritos” (1843-1844), nos quais desenvolveu os argumentos sobre o fenômeno da alienação. Também desse período é a “Contribuição à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel”.

Em Paris, Marx se aproximou de Friedrich Engels, que se tornaria seu principal colaborador. Juntos, eles escreveram “A Sagrada Família”, criticando a linha de pensamento dos Jovens Hegelianos, e “A Ideologia Alemã”, denunciando o idealismo da intelectualidade alemã e formalizando os princípios do materialismo histórico. Em 1847, Marx publicou “Miséria da Filosofia”, uma crítica à obra “Filosofia da Miséria” de Proudhon.

Mudança para a Bélgica e parceria com Engels

Marx manteve intensa atividade política durante seu período parisiense e prosseguiu contestando o regime prussiano. Em 1845, ele seria expulso da França a pedido dos burocratas alemães. Mudou-se então para a Bélgica, onde intensificou seu ativismo. Marx estabeleceu contato com exilados políticos e militantes dos movimentos operários locais e uniu-se a Engels para fundar a Sociedade dos Operários Alemães de Bruxelas.

A amizade e parceria com Engels perduraria pelo resto de sua vida e alteraria de forma definitiva os rumos da história. A partir do estudo do movimento socialista europeu, a dupla estabeleceu o que viria a ser a mais abrangente e influente definição do comunismo, concebido como uma sociedade igualitária, sem classes sociais, baseada na propriedade comum dos meios de produção.

Para Marx, o período representou uma ruptura política e teórica definitiva com os hegelianos e com várias de suas convicções prévias. Ele também aprofundaria sua concepção do materialismo histórico – uma abordagem metodológica que busca compreender as causas das mudanças na sociedade a partir das relações entre as classes sociais, estruturas políticas e formas de pensar.

Marx e Engels estabeleceram uma ampla rede de difusão do ideário comunista e tiveram papel central no fomento à radicalização da classe operária. Em 1848, por solicitação da Liga dos Comunistas, a dupla publicou o “Manifesto do Partido Comunista”, que se tornaria um dos tratados políticos de maior influência no mundo.

Publicado no contexto dos levantes revolucionários de 1848, o “Manifesto” era um chamado à adesão dos trabalhadores à luta revolucionária. No texto, os autores criticam a exploração do homem pelo homem e defendem a abolição da propriedade privada, a socialização dos meios de produção e a criação de uma sociedade sem classes.

Em Londres, Marx se dedicou ao estudo da economia e começou a escrever sua obra-prima, “O Capital”
Wikimedia Commons

Exílio em Londres

Expulso da Bélgica após o início da Revolução de 1848, Marx se mudou para Colônia, onde fundou o jornal Nova Gazeta Renana.

Criado com apoio de Engels e financiado por simpatizantes do ideário socialista, o jornal tornou-se um importante instrumento de crítica ao governo alemão e uma plataforma para as reivindicações do movimento operário. Entre os muitos artigos escritos por Marx para o periódico, destaca-se “Trabalho Assalariado e Capital”, onde o autor explica o mecanismo da apropriação da mais-valia.

Mais uma vez, a postura combativa do jornal incomodou as autoridades governamentais. Em 1849, a publicação foi encerrada e Marx foi expulso da Alemanha, marcando o início de seu exílio definitivo. Ele tentou retornar à França, mas seu ingresso no país foi recusado.

Abatido por uma grave crise financeira e pelo boicote dos círculos acadêmicos e empresariais europeus, Marx passou a viver na miséria. Com ajuda de Ferdinand Lassalle, que organizou uma campanha de arrecadação de donativos, conseguiu se refugiar em Londres.

Na capital inglesa, Marx se dedicou ao estudo da economia e começou a escrever sua obra-prima, “O Capital”. O primeiro volume da obra, publicado em 1867, examina o processo de produção capitalista, focando em conceitos como mercadoria, valor, trabalho e mais-valia e explicando como o lucro capitalista deriva da apropriação do valor excedente criado pelos trabalhadores.

“O Capital” seria complementado por outros dois volumes editados por Engels após a morte de Marx, abordando a circulação e a acumulação de capital e as crises econômicas. Além de seu trabalho no livro, Marx também atuou como correspondente do jornal New York Tribune, onde declarou seu apoio ao governo de Abraham Lincoln em meio à Guerra da Secessão.

Os últimos anos

Em 1864, Marx foi convidado a assumir a direção da Associação Geral dos Trabalhadores Alemães, para a qual escreveu o “Discurso Inaugural”. Nesse mesmo ano, passou a integrar o Conselho Geral da Associação Internacional dos Trabalhadores, a Primeira Internacional.

A organização reunia membros de todos os países da Europa e dos Estados Unidos, incluindo desde anarquistas e comunistas até reformistas e lassalianos, com o objetivo de organizar e apoiar lutas operárias, sindicatos e movimentos de resistência em todo o mundo.

Por intermédio da Primeira Internacional, Marx apoiou a Comuna de Paris, rebelião popular que estabeleceu o primeiro governo operário da história, em 1871. O evento foi analisado na sua obra “A Guerra Civil na França”, publicada no mesmo ano.

Marx auxiliou diretamente na criação dos programas dos partidos operários europeus, esboçando a base de suas linhas políticas em obras como “Crítica do Programa de Gotha”, de 1875, e “Considerações Sobre o Programa do Partido Operário Francês”, de 1880. Ele também ajudou Engels na redação de “Anti-Dühring”, uma crítica à crescente influência idealista no movimento socialista alemão.

Debilitado pela bronquite e muito deprimido desde a morte de sua esposa, Marx faleceu em 14 de março de 1883, aos 64 anos de idade. Foi sepultado como apátrida no Cemitério de Highgate, em Londres.

O legado de Marx

O pensamento político e filosófico de Karl Marx teve enorme importância na história subsequente, criando as bases para a compreensão das dinâmicas das relações econômicas e sociais do nosso tempo. Ao lado de Émile Durkheim e Max Weber, Marx é considerado o fundador das ciências sociais modernas e um dos intelectuais mais influentes da história.

Seu papel é particularmente importante na concepção da metodologia das ciências sociais, concebida a partir da rejeição do positivismo sociológico e do determinismo, substituídos pela concepção materialista da história e por teorias que podiam ser submetidas a um método científico.

As concepções de Marx sobre sociologia, economia e política, englobadas sob o nome de marxismo, serviram de base para o desenvolvimento de inúmeras correntes do pensamento filosófico e político, como o leninismo, o marxismo-leninismo e o maoísmo, estando presentes nas mais combativas organizações e movimentos populares desde então.

Além das ciências sociais, o legado de Marx é igualmente duradouro na filosofia, na literatura e nas humanidades. As ideias de Marx influenciaram dezenas de revoluções ao longo do século 20, nomeadamente a Revolução de Outubro e a subsequente fundação da União Soviética, além de inúmeros revolucionários e líderes fundamentais na construção do mundo contemporâneo, de Lenin a Fidel Castro, passando por Mao Zedong, Thomas Sankara e Kwame Nkrumah.