Há 123 anos, em 6 de setembro de 1901, o operário Leon Czolgosz atirava fatalmente contra William McKinley, 25º presidente dos Estados Unidos, durante a Exposição Pan-Americana em Buffalo, Nova York. McKinley faleceu oito dias após o atentado, tornando-se o terceiro presidente norte-americano a ser assassinado, após Abraham Lincoln e James Garfield.
Filiado ao Partido Republicano, William McKinley ingressou na política como congressista pelo estado de Ohio, exercendo sucessivos mandatos entre 1877 e 1883. Eleito governador de Ohio em 1891, McKinley tornou-se nacionalmente conhecido pelas ácidas críticas à permissividade e inépcia do presidente Grover Cleveland, culpando-o pelo Pânico de 1893 — uma forte crise econômica causada pelo estouro da bolha do setor ferroviário, associada à contração do crédito e à quebra da safra de trigo nos anos anteriores.
O Pânico de 1893 levou mais de 15 mil empresas à falência e jogou milhões de trabalhadores na miséria. As taxas de desemprego chegaram a 35% em Nova York e 43% em Michigan, obrigando o governo norte-americano a estimular a abertura de cozinhas coletivas, pontos de distribuição de sopa e hortas comunitárias para mitigar a fome que se alastrava entre o operariado.
Apresentando-se como único candidato hábil a superar a crise, McKinley venceu a eleição presidencial de 1896, derrotando o democrata William Jennings Bryan. Seu governo foi marcado pelo impulso ao expansionismo norte-americano, consolidando os Estados Unidos como uma nação imperialista. McKinley interveio em Cuba em 1898 e transformou a ilha em um protetorado dos Estados Unidos.
Apoderou-se das antigas possessões espanholas após a vitória na Guerra Hispano-Americana, submetendo Porto Rico, Filipinas, Guam e as Ilhas Virgens à condição de colônias. Também anexou o Havaí e a Samoa Americana aos domínios norte-americanos e aliou-se às potências ocidentais e ao Japão para intervir na China e debelar o levante popular durante a Guerra dos Boxers.
No âmbito interno, William McKinley conduziu um realinhamento da política econômica, instituindo uma série de medidas protecionistas que visavam estimular a indústria nacional. McKinley elevou as tarifas de importação, criou novas barreiras alfandegárias e estabeleceu uma nova legislação antitruste, visando dificultar a criação de monopólios. Também ofereceu incentivos fiscais aos empresários e repassou vultosas somas do erário para “recompor” o sistema financeiro.
A diligência de McKinley em relação ao alto empresariado rendeu forte apoio corporativo e o mandatário foi reeleito em 1900. A classe trabalhadora, entretanto, não estava satisfeita e sentia-se negligenciada ao ver que não estava sendo beneficiada pelo programa de recuperação econômica operado pelo governo. As taxas de desemprego seguiam elevadas, a pobreza ainda afetava grande parte da população e o poder de compra da classe trabalhadora continuava em patamares muito baixos.
Leon Czolgosz era um dos muito operários afetados pela crise econômica. Nascido em Michigan em 1873, Leon era filho de imigrantes e precisou trabalhar desde cedo para ajudar a família. Aos dez anos de idade, perdeu sua mãe, falecida poucas semanas após dar à luz sua irmã, Victoria. Após trabalhar em uma fábrica de vidro na Pensilvânia, arrumou emprego em uma metalúrgica em Cleveland.
Na esteira do Pânico de 1893, a fábrica onde Leon trabalhava reduziu os salários dos seus empregados. Os operários reagiram decretando greve e Leon aderiu à mobilização. Ele foi então punido com a demissão e a inclusão de seu nome em uma lista pública de “trabalhadores problemáticos”. Desde a demissão, Leon não conseguia mais obter uma ocupação permanente, passando a depender de bicos e a usar uma identidade falsa para desempenhar trabalhos temporários.
Com a vida atribulada pelas dificuldades e privações econômicas, Leon passou a frequentar as “fraternidades” de imigrantes e associações de auxílio mútuo. Ingressou a princípio na “Knights of the Golden Eagle” e posteriormente juntou-se ao Clube Sila, uma organização que congregava militantes da esquerda radical.
Durante uma palestra, ficou impressionado com o discurso proferido pela teórica anarquista Emma Goldman. Interessou-se de forma crescente pelas ideias anarquistas desde então e chegou a visitar Goldman na casa de Abraham Isaak, editor do jornal anarquista “Free Society“. Leon ambém passou a frequentar os eventos organizados pelas associações anarquistas de Cleveland e fazia indagações sobre as ações e projetos dos grupos.
As inquirições frequentes de Leon, somadas às suas atitudes evasivas, entretanto, foram julgadas como suspeitas pelos anarquistas, que passaram a considerá-lo um espião, segregando-o de suas atividades.
Leon se ressentia cada vez mais da política norte-americana, da desigualdade que permitia aos ricos enriquecerem explorando impiedosamente os pobres, e responsabilizava o presidente William McKinley pelo infortúnio da classe trabalhadora. Nessa mesma época, acompanhou a repercussão do assassinato do Rei Umberto I da Itália, executado a tiros pelo militante anarquista Gaetano Bresci em 29 de julho de 1900.
Logo após o regicídio, Bresci disse à imprensa que cometera o ato “pelo bem dos homens comuns”, uma declaração que inspirou elogios nas publicações anarquistas dos Estados Unidos e que teve particular influência sobre Leon. Tomando Bresci como herói, Leon decidiu reproduzir sua ação nos mínimos detalhes. Chegou até mesmo a comprar um revólver Iver-Johnson calibre 32 semiautomático — idêntico ao que fora utilizado no assassinato do monarca italiano.
Em 31 de agosto de 1901, Leon viajou para Buffalo, Nova York, após saber que o presidente McKinley estaria na cidade na semana seguinte para visitar a Exposição Pan-Americana. No dia 6 de setembro de 1901, Leon foi até a exposição e aguardou na fila do “Templo da Música”, onde o presidente faria um discurso.
Após ingressar no recinto, McKinley passou a cumprimentar o público que estava na fila. Quando estendeu a mão para Leon, o jovem anarquista sacou o revólver e atirou duas vezes à queima-roupa contra o abdômen do presidente. McKinley foi socorrido, mas faleceu oito dias depois, em 14 de setembro de 1901, em decorrência de uma infecção causada pelas feridas.
Após ser imobilizado, Leon foi brutalmente espancado pelos homens da Guarda Nacional e detido na Penitenciária do Condado de Erie. Dez dias após sua prisão, ele foi levado a julgamento, sendo condenado e sentenciado à pena de morte.
Menos de dois meses após o atentado, em 29 de outubro de 1901, Leon foi executado na cadeira elétrica na Penitenciária de Auburn, em Nova York. Antes da execução, Leon proferiu suas últimas palavras, explicando a motivação do assassinato: “Ele era o inimigo da boa gente, dos bons trabalhadores. Não sinto remorso pelo meu crime.”