O Brasil celebra nesse fim de semana o aniversário de 80 anos da Batalha de Monte Castello, um dos mais importantes confrontos travados pela Força Expedicionária Brasileira (FEB) durante a Segunda Guerra Mundial. A batalha se estendeu por três meses, de novembro de 1944 a fevereiro de 1945, e terminou com a vitória dos brasileiros sobre as tropas nazistas. Monte Castello foi o primeiro grande triunfo da FEB contra as Forças do Eixo durante a Campanha da Itália.
Ao fim do ano de 1944, as tropas Aliadas registravam importantes avanços contra a Alemanha nazista. No Leste Europeu, a União Soviética havia conduzido uma operação militar devastadora, dizimando o Grupo de Exércitos Centro da Wehrmacht e levando a batalha para a fronteira alemã. O desembarque dos Aliados na Normandia, por sua vez, havia permitido a criação de uma nova frente de combate na Europa Ocidental. Na Itália, entretanto, os alemães seguiam resistindo, protegidos pelas fortificações da Linha Gótica e beneficiados pela topografia elevada. A captura das colinas nos arredores de Bolonha era essencial para permitir o avanço dos Aliados até as grandes cidades do Vale do Rio Pó, como Milão e Turim.
Liderados pelo general Mascarenhas de Morais, os soldados brasileiros seriam incumbidos da tarefa de auxiliar na tomada de um conjunto de elevações da Cordilheira dos Apeninos, que tinham como pontos centrais Monte Belvedere e Monte Castello. A investida foi coordenada pelo V Exército dos Estados Unidos, chefiado por Mark Clark, como parte da operação de rompimento da Linha Gótica.
As condições, entretanto, eram muito desfavoráveis. Instalados nos altos das montanhas, os alemães conseguiam supervisionar a movimentação dos Aliados, inviabilizando o fator surpresa. Além disso, as instalações nazistas eram protegidas por linhas de metralhadoras MG42, capazes de disparar 1.200 tiros por minuto — motivo pelo qual receberam o apelido de “Corredor da Morte”.
O primeiro ataque ocorreu em 24 de novembro de 1944, sendo realizado em conjunto por soldados brasileiros e norte-americanos. Para tentar neutralizar a vantagem inimiga, os Aliados queimaram óleo diesel, na esperança de que a fumaça dificultasse a visão dos alemães. Os pracinhas chegaram a se aproximar das casamatas alemãs no Monte Castello e os norte-americanos ocuparam temporariamente o Monte Belvedere.
A poderosa contraofensiva alemã, entretanto, logo barrou o avanço dos brasileiros, atacados com metralhadoras, canhões e morteiros. A situação se agravou pela falha de comunicação dos Aliados. Desprovidos do apoio dos blindados norte-americanos e da artilharia, os pracinhas foram forçados a recuar.
Cinco dias depois, em 29 de novembro, organizou-se um novo ataque ao Monte Castello, dessa vez apenas com soldados brasileiros, divididos em três batalhões. A expulsão dos norte-americanos do Monte Belvedere ocorrida na véspera, entretanto, comprometeu a operação, deixando os brasileiros vulneráveis a ataques pelo flanco esquerdo. Para piorar a situação, a chuva forte e a neblina impediram o uso de blindados e do apoio aéreo.
Desamparados, os brasileiros se tornaram alvos fáceis do violento contra-ataque alemão.
Após contabilizar 195 baixas, a FEB foi forçada a recuar. Uma nova investida foi realizada em 12 de dezembro, com o emprego de dois batalhões da FEB. Os brasileiros chegaram a conquistar algumas posições, malgrado as condições meteorológicas desfavoráveis e o apoio insuficiente da artilharia. A tentativa foi novamente frustrada, com os alemães forçando os pracinhas à retirada e causando 145 novas baixas à FEB.
O rigoroso inverno nos Apeninos castigaria os brasileiros nas semanas seguintes. Submetidos a temperaturas de até -20°C e forçados ao confinamento em trincheiras, muitos pracinhas adoeceram, padecendo de doenças respiratórias e do chamado “pé de trincheira” — gangrena causada pela umidade dos coturnos. As centenas de baixas e sucessivas derrotas abalaram profundamente o moral das tropas brasileiras. As nevascas impediam o uso de aeronaves e blindados e reduziam as estradas a atoleiros, inviabilizando novas operações militares. Até fevereiro de 1945, os brasileiros se limitariam a monitorar as posições dos alemães e auxiliar em enfrentamentos de menor vulto entre as artilharias.
Com o arrefecimento do inverno em fevereiro, o comando Aliado lançou a Operação Encore, visando asfixiar as unidades nazistas, e a FEB foi novamente encarregada de tomar Monte Castello. Ignorando as orientações do Exército dos Estados Unidos, o general Mascarenhas de Morais decidiu empregar todas as suas unidades da FEB sob seu comando no ataque. A investida teve início em 21 de fevereiro de 1945, mobilizando três regimentos da FEB e a 10ª Divisão de Montanha dos Estados Unidos. Após doze horas de intenso combate, os brasileiros finalmente conseguiram subjugar a resistência alemã, tomando o cume do Monte Castello. Concluída a missão, os pracinhas partiram em auxílio dos soldados norte-americanos, que enfrentavam dificuldades para tomar o Monte Della Torracia.
Primeiro grande triunfo da FEB na Segunda Guerra Mundial, a façanha de Monte Castello impulsionou a confiança dos pracinhas e garantiu o respeito das tropas Aliadas. Após Monte Castello, os soldados brasileiros obteriam novas vitórias contra os nazistas nas batalhas de Castelnuovo, Montese, Bolonha, Collecchio e Fornovo di Taro. Considerada a operação mais difícil enfrentada pela FEB na Itália, a batalha deixou um saldo de 226 mortos e 795 feridos.
A vitória brasileira foi celebrada pelo samba “Parabéns”, composto pelo soldado Rondon Alves Gutenberg. Em Gaggio Montano, os italianos ergueram o “Monumento ai Caduti Brasiliani”, celebrando a libertação da cidade do domínio nazista e homenageando os soldados brasileiros mortos durante a Batalha de Monte Castello.