Terça-feira, 13 de maio de 2025
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Há 80 anos, em 28 de abril de 1945, o ditador Benito Mussolini era capturado e fuzilado por partisans italianos, coroando o fim do regime fascista na Itália.

Fundador do Partido Fascista, Mussolini governou a Itália de 1922 até 1943, estabelecendo um regime brutal que oprimiu a classe trabalhadora, perseguiu e assassinou opositores e promoveu uma série de atrocidades e crimes de guerra pelo mundo.

Aliado a Adolf Hitler, Mussolini arrastou a Itália para a Segunda Guerra Mundial e participou das ofensivas do Eixo que mergulharam o mundo em uma carnificina sem precedentes, ceifando dezenas de milhões de vidas.

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O combate à política expansionista da Itália e as crises internas debilitaram o regime fascista. Após sua deposição, Mussolini ainda tentaria restabelecer seu domínio político criando um Estado-fantoche ao norte da Itália, mas foi impedido pela ação da Resistência Italiana.

Depois de morto, o cadáver de Mussolini foi exposto em praça pública e submetido à execração de uma população enfurecida com o mal que ele causou ao país.

Da juventude à fundação do movimento fascista

Benito Mussolini nasceu em Predappio, na região da Emília-Romanha, em 1883. Filho de Alessandro Mussolini, um ferreiro partidário das ideias anarquistas e socialistas, ele seria inicialmente influenciado pela visão política do pai.

Mussolini viveu por um período na Suíça, onde militou no movimento operário e chegou a ser preso e deportado por sua participação em uma vigorosa greve-geral. De volta à Itália, ele se filiou ao Partido Socialista (PSI) e chegou a assumir a direção do “Avanti!”, o órgão de impressa da agremiação.

A participação de Mussolini no movimento socialista seria breve. Ele aderiu gradativamente ao discurso do nacionalismo exaltado e passou a questionar constantemente a linha política do PSI.

Em 1914, contrariando a decisão de seu partido, Mussolini apoiou a entrada da Itália na Primeira Guerra Mundial, sob o pretexto de que o conflito era uma oportunidade para galvanizar o nacionalismo italiano e superar o domínio político dos Habsburgo. Ele foi expulso do Partido Socialista nesse mesmo ano, acusado de “indignidade política e moral”.

Imediatamente após sua saída do PSI, Mussolini passou a atacar fervorosamente o “marxismo ortodoxo” — acusando os socialistas de ignorarem a importância da identidade nacional.

Ainda em 1914, Mussolini criou seu próprio movimento político, o “Fascio d’Azione Rivoluzionaria”, e lançou o jornal “Il Popolo d’Italia”. No ano seguinte, ele fundaria o Partido Revolucionário Fascista — que seria reestruturado como Partido Nacional Fascista em 1921.

A ascensão de Mussolini

A Primeira Guerra Mundial deixou a economia italiana em frangalhos. O país mergulhou em uma grave crise fiscal e acumulou uma enorme dívida pública em função da elevação gastos militares. A inflação e o desemprego dispararam, jogando milhões de famílias na miséria.

A crise do sistema liberal e o aprofundamento das tensões de classe geraram um cenário propício para a radicalização da classe trabalhadora. Entre 1919 e 1920, a Itália passou pelo chamado “Biênio Vermelho” — um período marcado por intensa mobilização operária, com greves, ocupações de fábricas e grandes protestos reivindicando reformas econômicas e sociais.

Esse contexto de grande agitação social, entretanto, também fornecia oportunidades para o avanço da extrema-direita e do ideário ultranacionalista. Dotado de grande habilidade retórica e fazendo uso de um discurso demagógico, que buscava emular a combatividade dos socialistas, Mussolini conseguiu atrair muitos trabalhadores descontentes com a crise política e econômica.

Ao mesmo tempo em que buscava dar vazão à frustração dos trabalhadores pauperizados e ao descontentamento com a democracia liberal, Mussolini também apostava no uso do chauvinismo e do discurso ultranacionalista para atrair os militantes conservadores. E ao prometer soluções para superar a instabilidade econômica, ele conquistava o apoio dos pequenos comerciantes e profissionais liberais.

Por fim, respondendo ao receio da burguesia italiana diante do avanço da esquerda revolucionária, Mussolini fundou os “Fasci Italiani di Combattimento” — grupos paramilitares que organizavam ataques contra sindicatos, camponeses organizados, militantes socialistas e partidos de esquerda.

Mussolini em Milão, em 1930
Autor desconhecido/Wikimedia Commons

O apoio da burguesia

Em pouco tempo, Mussolini conseguiu arregimentar uma legião de seguidores, convertendo o Partido Fascista em uma organização de massas. Em 1922, o partido já contava com 720 mil filiados e milhões de simpatizantes, tornando-se a força política mais expressiva da Itália.

Esse rápido avanço só foi possível graças ao apoio incondicional que o Partido Fascista recebeu da burguesia italiana. Os ataques organizados pelas milícias fascistas contra líderes sindicais e organizações de esquerda agradaram o empresariado, que se mobilizou para financiar a agremiação.

A despeito da desconfiança dos setores liberais em relação ao discurso corporativista de Mussolini, os empresários perceberam que o fascismo era um instrumento extremamente eficaz para neutralizar o avanço da esquerda, desarticular os movimentos operários e fortalecer o domínio político das elites.

Banqueiros, latifundiários e empresários reunidos na Confederação Geral da Indústria Italiana forneceram significativo apoio financeiro aos esquadrões fascistas. Empresas como Fiat, Pirelli, Olivetti, Ansaldo contribuíram com recursos vultosos para financiar as atividades do partido. Os jornais conservadores da Itália também deram cobertura positiva para o movimento fascista.

Tão grande era o entusiasmo com o movimento que o fascismo passou a ser reivindicado como um modelo de governança pela burguesia internacional, influenciando a criação de movimentos congêneres e regimes autoritários em todo o mundo ao longo dos anos 30.

O regime fascista

Mussolini assumiu o cargo de primeiro-ministro da Itália em outubro de 1922, após organizar a Marcha sobre Roma. Acompanhado de 30 mil militantes fascistas (ditos “camisas negras”), ele ameaçava tomar o poder pela força. Temendo a eclosão de uma guerra civil, o rei Vítor Emanuel III cedeu e decidiu nomear o líder fascista como chefe de governo.

Logo após sua nomeação, Mussolini deu início ao desmantelamento das instituições democráticas e à perseguição violenta contra seus opositores. Em 1923, ele promulgou a Lei Acerbo, que enfraquecia o sistema eleitoral e garantia o domínio absoluto do Partido Fascista no parlamento.

As lideranças de esquerda foram sistematicamente perseguidas e eliminadas — a começar pelo deputado socialista Giacomo Matteotti, que seria sequestrado e assassinado após denunciar irregularidades eleitorais. Diante das críticas de parte da imprensa ao seu autoritarismo, Mussolini instituiria a censura prévia e ordenaria o banimento de jornais de oposição.

Em 1925, Mussolini transformou oficialmente a Itália em uma ditadura fascista, assumindo o cargo de chefe-supremo — alcunhado “il Duce”. Ele baniu os partidos políticos, suspendeu as garantias constitucionais e criou uma polícia política destinada a perseguir opositores (a OVRA, Organização para a Vigilância e Repressão do Antifascismo).

Lideranças comunistas e socialistas, como Antonio Gramsci, Umberto Terracini e Pietro Nenni, foram presos, enquanto outros foram forçados ao exílio (Palmiro Togliatti, Carlo Rosselli) ou assassinados (Giovanni Amendola). Gramsci, em particular, tornou-se um símbolo da resistência, escrevendo seus influentes “Cadernos do Cárcere” enquanto enfrentava condições desumanas na prisão.

Apesar disso, Mussolini seguiu contando com apoio entusiasmado da burguesia, cada vez mais contemplada pelas políticas econômicas do regime. O governo italiano proibiu as greves e dissolveu os sindicatos, substituindo-os por corporações controladas pelo Estado. Além de suprimir a autonomia dos trabalhadores, a medida dava respaldo à desvalorização dos salários, garantindo uma mão de obra disciplinada e barata.

O regime fascista implementou outras medidas que beneficiavam os grandes empresários, incluindo a redução de impostos corporativos, o fornecimento de subsídios generosos e a privatização de estatais. O apoio do empresariado era espelhado pela imprensa burguesa, que passou a saudar Mussolini de forma inconteste, exaltando seus programas de obras públicas e a tentativa de ampliar a influência italiana no mundo.

A aliança com Hitler e a Segunda Guerra

Para além da repressão brutal aos opositores, Mussolini buscou expandir os domínios coloniais italianos na África, cometendo uma série de crimes de guerra, incluindo o uso de armas químicas na Líbia e o massacre indiscriminado de civis na Etiópia.

A política imperialista italiana, entretanto, incomodou o Reino Unido e a França, receosos do recrudescimento das disputas coloniais. Visando forjar novas alianças, Mussolini se aproximou da Alemanha nazista, estabelecendo o Eixo Roma-Berlim em 1936. Buscou a partir de então emular as ações de Adolf Hitler, que se tornaria seu mentor e inspirador.

A aliança com a Alemanha resultou na subordinação da política externa italiana aos ditames do regime nazista. Mussolini apoiou incondicionalmente todas as ações encampadas por Hitler: sancionou as leis raciais para alinhar a Itália à política supremacista alemã, enviou tropas para auxiliar os falangistas durante a Guerra Civil Espanhola e referendou o avanço da Alemanha sobre a Checoslováquia formalizado pelo Acordo de Munique. Em 1939, Mussolini e Hitler firmaram o Pacto de Aço, tornando o ingresso da Itália na Segunda Guerra Mundial uma decorrência obrigatória.

A aliança militar com a Alemanha foi desastrosa para a Itália, que amargou sucessivos fracassos durante a Segunda Guerra. O ataque à Grécia em 1940 terminaria com uma derrota fragorosa, que forçou as tropas italianas ao recuo e impeliu Mussolini a fazer um humilhante pedido de ajuda à Alemanha.

Na Batalha do Mediterrâneo, as forças de Mussolini foram subjugadas pelo Reino Unido. No norte da África, as tropas italianas foram expulsas da Líbia e da Etiópia. Por fim, na Frente Oriental, a União Soviética aniquilaria o reforço de 200 mil soldados enviados pelo regime italiano para auxiliar na Operação Barbarossa.

O desempenho medíocre da Itália no conflito gerou divisões na cúpula do regime fascista. A insistência de Mussolini em manter o apoio militar à Alemanha nazista e a deterioração das condições de vida da classe operária levaram à rápida perda de apoio popular. A miséria crescia exponencialmente.

Submetidos ao racionamento de itens básicos e à inflação de guerra, os trabalhadores viam seu poder de compra ser devastado, enquanto o governo esbanjava em gastos militares e acumulava derrotas. Ao mesmo tempo, os bombardeios dos Aliados tornavam-se cada vez mais frequentes, impondo perdas e devastação à população italiana.

Derrocada e morte de Mussolini

O desembarque das tropas aliadas na Sicília em julho de 1943 foi o fator decisivo para que o rei Vítor Emanuel retirasse seu apoio ao “Duce”. Em desgraça, Mussolini foi destituído do cargo de primeiro-ministro e teve sua prisão decretada. O regime fascista entrou em colapso. Nas ruas, a população destruía os símbolos fascistas e exigia a libertação dos presos políticos.

Vítor Emanuel logo assinaria um armistício e abandonaria Roma, que seria ocupada pelos partisans — grupos armados de civis que compunham a Resistência Italiana ao nazifascismo.

Antes que pudesse ser entregue aos aliados, entretanto, Mussolini foi libertado por paraquedistas alemães da SS. Com apoio dos militares nazistas, o líder fascista fugiu para o norte da Itália, onde proclamou a “República de Salò” — um Estado fantoche controlado pela Alemanha.

Embora Mussolini fosse formalmente o chefe de Estado, o comando efetivo da República de Salò foi entregue a Rudolf Rahn, plenipotenciário das SS e comandante das forças de ocupação alemãs.

A República de Salò tentou rearticular suas defesas, mas foi continuamente enfraquecida pelo avanço dos Aliados e pelas ações da Resistência Italiana — responsável por conduzir campanhas bem-sucedidas em Bolonha, Turim e Gênova.

Em 25 de abril de 1945, os partisans agrupados no Comitê Nacional de Libertação tomaram Milão, levando à capitulação da República de Salò e à libertação da Itália.

Quando os alemães iniciaram sua retirada da Itália, Mussolini tentou segui-los, mas foi impedido pelos partisans, que o capturaram. Em 28 de abril de 1945, o líder fascista foi fuzilado ao lado da amante, Clara Petacci, e outros correligionários.

Em Milão, a notícia da morte de Mussolini fez uma multidão sair às ruas para celebrar. Sedentos por vingança, os populares atiraram pedras, cuspiram, chutaram e balearam os corpos dos líderes fascistas. Mussolini teve a face desfigurada.

No dia seguinte, sob os aplausos de um público eufórico, os cadáveres de Mussolini, Clara Petacci e outros três membros da cúpula do Partido Fascista (Nicola Bombacci, Alessandro Pavolini e Achille Starace) foram pendurados de cabeça para baixo em um posto de gasolina da Piazzale Loreto — exatamente no mesmo local onde, um ano antes, os fascistas haviam pendurado os corpos de 15 opositores assassinados pelo regime de Mussolini, com o objetivo de amedrontar a população.