Com mais de 200 mil seguidores no X (antigo Twitter), Pensar a História é um projeto que busca proporcionar análises ou apresentar um conteúdo que esteja em sintonia com algum tema que está sendo debatido no presente.
Trata-se de um projeto coletivo que surgiu a partir de um objetivo: “criar um espaço que oferecesse um contraponto às narrativas revisionistas, pseudo-históricas e negacionistas que ganharam muita força com a ascensão da extrema direita”.
Um dos idealizadores da Pensar a História, Estevam Silva, disse a Opera Mundi que a ideia também tinha a necessidade de apresentar a contribuição da esquerda em momentos de conquistas, “contrariando a tendência de apagamento desses temas pelos aparelhos midiáticos tradicionais”.
“Jamais pensamos que cresceria tanto e tomaria essa proporção. Então, os desafios são novidades também. Estamos descobrindo na prática qual é o rumo que esse projeto vai tomar. De toda forma, é revigorante o fato de uma página com esse tema ter conquistado um alcance razoável”, afirmou.
Agora, a partir desta terça-feira (21/05), Opera Mundi inaugurou uma parceria com o projeto Pensar a História, com textos inéditos diariamente.
Leia a íntegra da entrevista com Estevam Silva, da equipe de Pensar a História:
Primeiro, gostaria de começar perguntando como começou a escrever sobre esses momentos históricos?
Eu nasci no interior de Pernambuco, mas vim com a família para São Paulo ainda criança. Moro aqui há mais de 30 anos. Sou graduado em Relações Internacionais e me dediquei ao estudo de tópicos especiais da história ao longo da minha formação. Eu sempre me interessei em ler e pesquisar a respeito dos acontecimentos históricos. Acredito que o conhecimento da história é uma ferramenta importante para analisar e compreender a realidade. E eu conheci pessoas que compartilhavam desse interesse e me ajudaram a levar adiante esse projeto que viria a ser o projeto Pensar a História.
O perfil no X da Pensar a História tem mais de 200 mil seguidores. Como surge esse projeto e como ele é mantido agora, com toda essa repercussão nas redes sociais?
Pensar a História é um projeto coletivo. Eu sou responsável pela maioria dos textos e pela administração dos perfis nas redes sociais, mas há mais dois editores que me auxiliam: minha sobrinha, formada em Letras, que escreve alguns dos textos sobre literatura e arte, e um amigo, formado em história, que ajuda a revisar e a elaborar o conteúdo. Também temos colaboradores eventuais, que compartilham textos sobre temas variados, de futebol até cinema. O objetivo da página era criar um espaço que oferecesse um contraponto às narrativas revisionistas, pseudo-históricas e negacionistas que ganharam muita força com a ascensão da extrema direita.
Causava muito incômodo nos editores ver essa quantidade enorme de mitos difundidos por ideólogos da direita e por “guias politicamente incorretos”, como a tese de que “Zumbi dos Palmares tinha escravos” ou de que “Santos Dumont é uma farsa”. Nós achávamos que era importante haver um contraponto. Ao mesmo tempo, sentíamos a necessidade de falar mais sobre a contribuição das esquerdas para as conquistas civilizacionais, os avanços sociais e as lutas da classe trabalhadora, contrariando a tendência de apagamento desses temas pelos aparelhos midiáticos tradicionais.
Mas era um projeto despretensioso. Imaginávamos que estaríamos falando para um círculo restrito. Jamais pensamos que cresceria tanto e tomaria essa proporção. Então, os desafios são novidades também. Estamos descobrindo na prática qual é o rumo que esse projeto vai tomar. De toda forma, é revigorante o fato de uma página com esse tema ter conquistado um alcance razoável.
Pensar a História traz diversos temas. Como é a escolha desses episódios? E, nesse sentido, como organiza as pautas?
Em geral, a página busca oferecer análises, ou apresentar um conteúdo que esteja relacionado a temas que estão sendo debatidos no presente. É uma forma de ajudar a contextualizar o debate político dos temais atuais, oferecendo um pano de fundo que permita identificar os interesses, os atores, os antecedentes, etc. Isso é algo que muitas vezes falta ao debate político, compreender como as ações do presente estão conectadas com as realidades sociais, políticas e culturais de diferentes épocas.
Também buscamos manter viva a memória sobre personalidades, acontecimentos, conflitos políticos, movimentos sociais. Para isso, utilizamos frequentemente as efemérides, relembrando personalidades em sua data de nascimento, ou falando de eventos no aniversário de sua ocorrência, por exemplo. E, também nesses casos, sempre que possível, traçamos os paralelos com os acontecimentos do presente.
Por que falar desses momentos históricos na atualidade e qual a importância desse trabalho?
Além de combater o negacionismo, a difusão das narrativas históricas pela direita, acredito que é muito importante fortalecer a formação política do público de esquerda. A população é bombardeada constantemente por interpretações da história que servem a projetos políticos completamente alheios aos seus interesses – seja por parte dos setores reacionários, que investem massivamente na consolidação de uma indústria de desinformação, seja por parte dos liberais, que buscam impor uma interpretação anódina da realidade, onde as causas estruturais dos problemas sociais, da desigualdade, todas chagas inerentes ao capitalismo, são apagadas e substituídas por uma mistificação a serviço do capital.
É importante que a esquerda se organize para oferecer subsídios à sua militância, oferecer ferramentas para que ela possa perceber a manipulação e combate-la com mais eficácia. A esquerda tem uma presença importante na academia, mas é necessário que existam iniciativas populares, acessíveis, didáticas, que ajudem a transpor discussões desse universo para o conjunto mais amplo da classe trabalhadora.