Há 93 anos, em 3 de junho de 1931, nascia Raúl Castro, um dos comandantes da Revolução Cubana. Raúl foi chefe das Forças Armadas Revolucionárias por quase 50 anos e também ocupou a Presidência de Cuba entre 2008 e 2018, exercendo concomitantemente o cargo de primeiro secretário do Partido Comunista.
Raúl Castro nasceu em Birán, um pequeno povoado na província cubana de Holguín. É um dos sete filhos de Ángel Castro e Lina Ruz — e um dos três que se envolveriam na coordenação da Revolução Cubana, ao lado de Fidel e Ramón. Passou sua infância na fazenda de cana-de-açúcar que pertencia ao seu pai e, assim como Fidel, frequentou a instituição jesuíta Colégio Dolores, em Santiago de Cuba, concluindo posteriormente o ensino básico no Colégio Belén, em Havana. Ainda na capital cubana, ingressou no curso de ciências sociais e travou seus primeiros contatos com as teorias marxistas, aderindo em seguida ao movimento estudantil. Ingressou na Juventude Socialista e, pouco tempo depois, se filiou ao Partido Socialista Popular, uma pequena agremiação política de orientação marxista-leninista.
Ao lado do movimento estudantil, Raúl Castro compareceu às manifestações contra o governo de Carlos Prío Socarrás. Juntou-se em seguida ao irmão Fidel na oposição à ditadura de Fulgencio Batista. Participou da sublevação de 26 de julho de 1953, formando parte do grupo que tentou tomar o Palácio da Justiça, enquanto o irmão participava do assalto ao Quartel-General de Moncada, em Santiago de Cuba. O levante fracassou e os irmãos Fidel e Raúl foram presos, condenados respectivamente a 15 e 13 anos de prisão. Após quase dois anos de cárcere e intensa pressão popular, os irmãos receberam anistia do governo cubano e se refugiaram no México.
Durante o exílio, fundaram o Movimento 26 de Julho, que tinha por objetivo conduzir uma rebelião armada contra o regime de Batista. Ainda no território mexicano, Raúl conheceu o médico argentino Che Guevara, a quem apresentou ao irmão Fidel, que, por sua vez, o convenceu a se juntar ao levante cubano. No mesmo período, Raúl estabeleceu contato com Nikolai Leonov, um agente da KGB que futuramente ajudaria a intermediar o apoio da União Soviética ao governo revolucionário.
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Em dezembro de 1956, Raúl embarcou para Cuba a bordo do iate Granma, ao lado de Fidel, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e dezenas de guerrilheiros, dando início à revolução. Ao desembarcarem na província de Oriente, os guerrilheiros foram atacados, mas um grupo conseguiu se refugiar na Serra Maestra. Os rebeldes rapidamente ganharam apoio da população campesina e iniciaram a formação do Exército Revolucionário.
Raúl assumiu o posto de comandante e liderou as tropas revolucionárias durante a Campanha de Serra Maestra e a tomada de Maffo. Também conduziu a coluna de guerrilheiros que cruzou a província de Oriente e estabeleceu a Frente Leste Frank País, assegurando o controle da região noroeste da ilha. Em junho de 1958, Raúl coordenou com sucesso a Operação Antiaérea, tomando um grupo de militares e civis norte-americanos como reféns, com o objetivo de forçar o governo de Batista a suspender os bombardeios contra os postos ocupados pelos guerrilheiros.
Os rebeldes derrotaram as últimas operações militares das forças legalistas no segundo semestre de 1958. A vitória dos guerrilheiros na Batalha de Santa Clara foi seguida pelo avanço irrefreável dos rebeldes, levando à queda do regime cubano e forçando Batista a fugir em 1º de janeiro de 1959. Uma semana depois, Raúl e Fidel adentraram em Havana sob aplausos da multidão. Após o triunfo da Revolução Cubana, Fidel assumiu o cargo de primeiro-ministro e iniciou as grandes reformas, decretando a nacionalização dos bancos, a desapropriação de empresas estrangeiras, a coletivização das fábricas e a universalização dos sistemas de educação e saúde. Raúl assumiu o posto de chefe das Forças Armadas, cargo que ocuparia até fevereiro de 2008. Também ficou responsável por estabelecer os serviços de inteligência do governo cubano e iniciou o processo de aproximação com a União Soviética.
Raúl teve papel fundamental na consolidação da Revolução Cubana, debelando várias tentativas de desestabilização e combatendo as operações contrarrevolucionárias financiadas pela CIA e pelas Forças Armadas dos Estados Unidos. Ele chegou a ser alvo de uma tentativa malsucedida de assassinato conduzida pelos agentes norte-americanos em junho de 1960, durante uma viagem à Checoslováquia. Seu perfil discreto o manteve relativamente imune aos holofotes, mas Raúl atuou de forma intensa na construção do governo socialista cubano. Além de chefiar as Forças Armadas, ocupou o cargo de segundo secretário do politburo do Partido Comunista de Cuba, foi vice-presidente do Conselho de Estado Cubano e vice-presidente do Conselho de Ministros.
Raúl assumiu a Presidência de Cuba em 2008, após Fidel Castro renunciar em função de seus problemas de saúde, tendo seus mandatos referendados pela Assembleia Nacional do Poder Popular. Na Presidência, Raúl instituiu uma reforma política que concedeu maior autonomia aos governos regionais, fomentou a descentralização administrativa e fortaleceu as instituições do Estado. Também estabeleceu algumas alterações na política econômica, flexibilizando a atuação do setor privado, com o fim de atenuar os efeitos devastadores do embargo econômico mantido contra a ilha há mais de 60 anos pelos Estados Unidos.
Ainda presidente, chegou a acordar com seu então homólogo norte-americano Barack Obama a assinatura de um decreto de distensão, que possibilitaria o abrandamento do embargo. Não obstante, as modificações foram revertidas durante o governo de Donald Trump. O republicano endureceu ainda mais as sanções contra a ilha, promulgando uma série de novas medidas contra indústria do turismo.
Raúl Castro deixou a Presidência de Cuba em 2018, sendo sucedido por Miguel Díaz-Canel. Em 2021, renunciou ao cargo de primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba. Raúl foi casado com Vilma Espín (1930-2007), engenheira química e revolucionária que combateu em Serra Maestra e presidiu a Federação Cubana de Mulheres após a vitória da Revolução. O casal teve três filhas e um filho: Déborah, Mariela, Nilsa e Alejandro. Mariela é a única que atua na estrutura administrativa de Cuba, coordenando atualmente o Centro Nacional Cubano para Educação Sexual (Cenesex).