Segunda-feira, 9 de junho de 2025
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Há 19 anos, em 24 de outubro de 2005, falecia a militante afro-americana Rosa Parks, a “mãe do movimento dos direitos civis”. Ela se notabilizou por se recusar a ceder seu assento em um ônibus a um homem branco, desafiando a legislação segregacionista em vigor nos Estados Unidos. A prisão de Rosa desencadeou um amplo movimento de boicote aos ônibus de Montgomery, convertendo-se em um marco da luta antirracista.

Rosa Louise McCauley nasceu em 4 de fevereiro de 1913 em Tuskegee, no Alabama, filha de um carpinteiro e uma professora. Seus pais se separaram quando ela tinha apenas dois anos. Passou a viver com a mãe em Pine Level, uma comunidade nos arredores de Montgomery, capital do Alabama. Cursou as primeiras letras em colégios rurais e concluiu o ensino básico no Industrial School for Girls. Matriculou-se posteriormente no Alabama State Teachers College for Negroes, uma instituição de ensino superior para afrodescendentes, mas precisou abdicar dos estudos para cuidar da mãe, que havia adoecido. Para sustentar a família, começou a trabalhar como costureira.

Aos 19 anos, em 1932, Rosa se casou com o barbeiro Raymond Parks, membro da Associação Nacional para o Progresso de Pessoas de Cor (NAACP no acrônimo em inglês), organização pioneira na luta pelos direitos civis dos cidadãos afro-americanos. Após o casamento, Rosa se filiou à NAACP, tornando-se uma militante bastante ativa na organização. Rosa e Raymond atuaram na campanha em prol da defesa dos nove jovens negros do Alabama presos e condenados à morte em função de uma acusação falsa de estupro — o infame caso dos “Scottsboro Boys”.

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O casal montou um comitê para acompanhar os julgamentos e levantou fundos para a defesa dos réus. Em 1943, Rosa assumiu o cargo de secretária da NAACP, mantendo-se na função até 1957. Seu marido também se destacou na organização, chegando a dirigir a seção juvenil da NAACP.

A residência dos Park tornou-se ponto de encontro dos militantes da NAACP na década de 1940. Rosa e Raymond também atuaram em campanhas incentivando o registro eleitoral dos cidadãos afro-americanos, ajudando a combater grupos supremacistas que tentavam intimidar os negros para que não participassem das eleições. O estado do Alabama era fortemente marcado pelo ódio racial, estimulado pela vigência das Leis de Jim Crow, que oficializavam a segregação racial e submetiam a população afro-americana à condição de cidadãos de segunda classe.

Wikimedia Commons/Records of the U.S. Information Agency (USIA)
Rosa Parks fotografada em 1955

Na cidade de Montgomery, o transporte público era legalmente segregado por etnia desde 1900. A lei municipal instituía assentos separados para negros e brancos: os brancos deveriam se sentar nos primeiros assentos e os negros nos bancos na parte posterior dos ônibus. À medida em que os assentos dos brancos fossem ocupados, os negros tinham a obrigação de levantar e ceder os seus assentos aos passageiros brancos que estivessem em pé.

Retornando do trabalho na noite de 1º de dezembro de 1955, Rosa ingressou em ônibus no centro de Montgomery e, após pagar a passagem, sentou-se na primeira fileira dos assentos reservados para os negros. Em um dado momento, o ônibus ficou cheio e algumas pessoas brancas estavam em pé. O motorista do ônibus, James Blake, reposicionou então a placa de “colored” (“pessoas de cor”) para a fileira imediatamente atrás do assento ocupado por Rosa. Dos quatro afro-americanos que ocupavam os dois assentos, três se levantaram para ceder lugares aos brancos. Rosa Parks, entretanto, se recusou. Agressivamente, o motorista ordenou que ela se levantasse, mas Rosa manteve-se resoluta. O motorista acionou então a polícia, que a deteve por violar a lei municipal de segregação.

Rosa foi solta no dia seguinte, após seu amigo Clifford Durr e Edgar Nixon, presidente da sessão local da NAACP, pagarem a sua fiança. Sua prisão, entretanto, causou indignação na comunidade afro-americana de Montgomery. Militantes dos direitos civis articularam manifestações e ajudaram a difundir informações sobre o caso, mobilizando organizações de todo o país.

Ativistas, sindicalistas, líderes religiosos e artistas passaram a apoiar os protestos, incluindo os reverendos Martin Luther King e Ralph Abernathy e a cantora Mahalia Jackson. Três dias após a prisão de Rosa, em 4 de dezembro de 1955, teve início um movimento de boicote aos ônibus de Montgomery. O boicote durou 382 dias e contou com a adesão massiva dos mais de 40 mil afro-americanos da cidade, que passaram a ir para o trabalho a pé e a organizar caronas.

Após mais de um ano de intensa pressão popular, a Suprema Corte dos Estados Unidos julgou como inconstitucional a segregação racial no transporte público. Foi a primeira grande vitória jurídica do movimento negro nos Estados Unidos. O veredito criou a jurisprudência utilizada para pressionar pelo fim das políticas segregacionistas em todo o país, pavimentando o caminho para a abolição das Leis de Jim Crow e abrindo espaço para o avanço da luta dos afro-americanos por direitos iguais. Por esse motivo, Rosa Parks recebeu a alcunha de “Mãe do Movimento dos Direitos Civis”.

O feito, entretanto, também atraiu a fúria dos grupos supremacistas. Rosa e seu marido passaram a ser agredidos e insultados por populares. Não conseguiam obter mais emprego na cidade e sofriam ameaças de morte de grupos supremacistas constantemente. A perseguição forçou o casal a se mudar, a princípio para Hampton, na Virgínia, e mais tarde para Detroit, no estado do Michigan.

Em Detroit, Rosa começou a trabalhar como secretária do congressista afro-americano John Conyers, cargo em que permaneceu até 1988, quando se aposentou. Raymond faleceu em 1977, deixando-a viúva. Rosa permaneceu atuando no movimento negro nas décadas seguintes, participando de atos e marchas em prol dos direitos civis.

Em 1992, Rosa Parks publicou sua autobiografia, intitulada “Rosa Parks: My Story”. Nos anos seguintes, foi condecorada com a Medalha de Ouro do Congresso dos Estados Unidos e com a Medalha Presidencial da Liberdade. Malgrado o reconhecimento público, Rosa enfrentou severas dificuldades no fim da vida. Doente e com problemas financeiros, foi despejada de seu prédio em 2002 e teve de contar com a solidariedade da comunidade negra de Detroit para sobreviver. Faleceu em 24 de outubro de 2005, aos 92 anos de idade. Sua data de nascimento, 4 de fevereiro, é celebrada como “Dia de Rosa Parks” no estado do Michigan.