Sexta-feira, 11 de julho de 2025
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Há 18 anos, em 18 de junho de 2007, falecia a revolucionária cubana Vilma Espín. Engenheira química de formação, ela iniciou sua militância política no movimento estudantil, participando da luta contra o regime ditatorial de Fulgencio Batista.

Ao lado de Frank País, Vilma ajudou a articular o Movimento 26 de Julho na província de Oriente e foi uma das principais líderes da resistência urbana. Posteriormente, uniu-se à guerrilha na Serra Maestra, participando de operações militares e desempenhando funções logísticas e administrativas na Segunda Frente Oriental, comandada por Raúl Castro, seu futuro marido.

Após o triunfo da revolução, Vilma fundou e dirigiu a Federação das Mulheres Cubanas, organização que teria papel fundamental na promoção da igualdade de gênero e no fomento à participação feminina na vida política, econômica e cultural de Cuba. Ela também foi dirigente do Partido Comunista e deputada da Assembleia Nacional do Poder Popular.

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Juventude e formação

Natural de Santiago de Cuba, antiga província de Oriente, Vilma Lucila Espín Guillois nasceu em 7 de abril de 1930, em uma família de classe média alta. Ela era a segunda mais velha dentre os seis filhos da dona de casa Margarita Guillois e do advogado José Espín.

Na juventude, Vilma teve aulas de piano e balé. Cursou o ensino primário na Academia Pérez Peña e o secundário no Colegio Sagrado Corazón. Em 1948, matriculou-se no curso de Engenharia Química da Universidade de Oriente — tornando-se posteriormente a segunda mulher cubana a se graduar nessa área.

Em paralelo à graduação, Vilma se dedicou aos esportes, praticando vôlei, tênis e natação, e atuou como soprano no coral universitário. Ela também iniciou sua militância política nesse período, ingressando na Federação Estudantil Universitária de Oriente (FEUO), onde se uniu à luta pelo registro e oficialização do financiamento público para a sua universidade.

Durante seus estudos, Vilma travou contato com professores que se exilaram em Cuba após a Guerra Civil Espanhola, tais como José Luis Galbe e Francisco Prat Puig. O intercâmbio com esses acadêmicos e a experiência no movimento estudantil a expuseram ao contato com o pensamento socialista e com a militância antifascista, que começaram a moldar sua visão de mundo.

A militância política de Vilma se intensificou após 1952, quando um golpe militar liderado por Fulgencio Batista derrubou o governo de Carlos Prío Socarrás, suspendeu a Constituição de 1940 e transformou Cuba em uma ditadura.

Articulador da Revolta dos Sargentos de 1933, Batista havia se consolidado como a “eminência parda” que garantia os interesses norte-americanos na ilha. Efetivado como ditador, ele instauraria um regime profundamente autoritário, antipopular e corrupto e usaria de violência implacável para reprimir seus opositores.

A Ação Revolucionária Oriental

Vilma se somou às manifestações contra o golpe e participou da “Invasão Constitucional de Oriente a Mantua”, uma caravana que cruzou todo o território cubano para exigir a restauração da Constituição de 1940. Ela também se opôs à construção do “Canal Vía Cuba” — um projeto para facilitar o tráfego marítimo entre Estados Unidos e o Canal do Panamá, visto como uma ameaça à soberania cubana.

A luta revolucionária contra o governo de Fulgencio Batista teve início em 1953, quando um grupo comandado pelos irmãos Fidel e Raúl Castro invadiu o Quartel-General de Moncada em busca de armas para iniciar uma guerrilha. A ação fracassou e ensejou a violenta reação do governo cubano, mas ao mesmo tempo inflamou a resistência contra o regime de Batista.

Vilma se engajou nas ações articuladas para auxiliar os presos políticos do Quartel de Moncada e ofereceu a casa da família em Punta de Sal para esconder Severino Rosell, um dos combatentes que participaram da invasão.

Ainda em 1953, Vilma se aproximou de Frank País, fundador da Ação Revolucionária Oriental (ARO), outra organização que pretendia iniciar uma guerrilha contra o governo cubano. Ela ingressaria posteriormente no movimento, assumindo funções no setor de finanças e ajudando a recrutar novos integrantes.

Preocupado com as atividades políticas da filha, José Espín decidiu enviar Vilma para realizar um curso de pós-graduação no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Boston. Ela permaneceu nos Estados Unidos até junho de 1955, mas seguiu mantendo contato com as lideranças do movimento armado.

O Movimento 26 de Julho

Em 1955, já libertados e exilados no México, os irmãos Castro fundaram o Movimento 26 de Julho (M-26-7). A organização seria ampliada com a adesão da Ação Revolucionária Oriental de Frank País, unificando a luta armada contra o governo de Batista.

Antes de seu regresso a Cuba, Vilma se encontrou com Fidel Castro no México, onde recebeu instruções sobre os preparativos para a guerrilha. Ela ajudou Frank País a articular o levante na província de Oriente, auxiliando no transporte de armas, insumos e medicamentos e na organização do apoio logístico.

Vilma foi uma das principais lideranças envolvidas na Revolta de Santiago de Cuba, ao lado de Frank País, Armando Hart e Haydée Santamaría. A insurreição foi organizada para coincidir com o desembarque do iate Granma, que traria Fidel Castro e outros combatentes de volta a Cuba, marcando o início da guerrilha. A casa de Vilma seria convertida em um dos quartéis-generais do movimento revolucionário na cidade.

Em julho de 1957, Vilma foi nomeada como coordenadora do M-26-7 na província de Oriente. Tornou-se assim uma das principais dirigentes da insurreição, assumindo a responsabilidade pelo abastecimento das frentes de combate e pelo recrutamento e envio de reforços para a guerrilha. Ela também ajudaria a organizar a agitação urbana, incluindo a greve geral convocada em abril de 1958.

Vilma Espín por volta de 1958, durante a guerrilha revolucionária
Fotógrafo desconhecido/Wikimedia Commons

Atuação na guerrilha

Com o aumento da repressão, Vilma foi forçada a abandonar a atuação urbana e se juntou ao Exército Rebelde na Serra Maestra. Lá, ela integrou a Segunda Frente Oriental Frank País, comandada por Raúl Castro, onde assumiu tarefas relacionadas à administração de recursos e à organização das atividades civis e sociais da guerrilha — incluindo a criação de mais de 400 escolas voltadas à alfabetização dos camponeses.

Como guerrilheira, Vilma participou de importantes campanhas e missões e ajudou na formação de novas colunas de combatentes. Também usou seus conhecimentos como engenheira química para auxiliar na fabricação de bombas e explosivos. Durante o período em Serra Maestra, ela iniciou um relacionamento amoroso com Raúl Castro.

Vilma atuou como intérprete e representante diplomática da guerrilha. Ela intermediou a célebre entrevista de Fidel Castro para Herbert Matthew, que serviu para desmentir os boatos espalhados pelo governo de Batista sobre a morte do comandante. Também auxiliou Raúl Castro nos contatos com o consulado norte-americano durante a Operação Antiaérea — campanha que capturou cidadãos norte-americanos visando pressionar o governo dos Estados Unidos a interromper a ajuda militar ao regime de Batista.

Os guerrilheiros lançaram a última grande ofensiva contra o regime cubano no Natal de 1958. Poucos dias depois, em 31 de dezembro, Batista fugiu da ilha, marcando a vitória do movimento revolucionário. Vilma Espín e Raúl Castro se casaram logo em seguida, em 26 de janeiro de 1959. O matrimônio duraria pelo resto da vida e daria origem a quatro filhos — Deborah, Mariela, Nilsa e Alejandro.

A Federação das Mulheres Cubanas

Após a constituição do novo governo, Raúl assumiu o posto de chefe das Forças Armadas e Vilma foi encarregada de organizar a participação feminina no processo revolucionário. Em setembro de 1959, ela chefiou a delegação cubana durante o Primeiro Congresso Latino-Americano sobre Mulheres e Crianças, sediado no Chile.

Em agosto de 1960, Vilma fundou a Federação das Mulheres Cubanas (FMC). A organização, criada a partir da fusão de vários grupos pré-existentes, se consolidaria como um importante instrumento de transformação social, promovendo a integração das mulheres à vida política, econômica e cultural de Cuba.

A federação desempenhou papel central na Campanha Nacional de Alfabetização de 1961, mobilizando voluntárias para ensinar centenas de milhares de cubanos, especialmente em áreas rurais, a ler e a escrever. A iniciativa possibilitou a erradicação do analfabetismo em Cuba em um período de apenas nove meses.

A FMC também oferecia cursos educacionais e de capacitação profissional e promovia atividades de formação política para operárias e camponesas, bem como programas de apoio e reintegração para mulheres em situação de vulnerabilidade e profissionais do sexo.

A criação de creches, círculos infantis, restaurantes comunitários e outros equipamentos daria uma importante contribuição para a autonomia feminina, permitindo que o Estado assumisse parte das tarefas domésticas e liberando as mulheres para que se dedicassem a outros projetos.

Vilma também atuou em prol da ampliação do acesso das mulheres a serviços de saúde, criando diversos programas de planejamento familiar e cuidados pré-natais. Em 1965, como fruto dessas iniciativas, Cuba se tornaria o primeiro país das Américas a legalizar o aborto.

A ex-guerrilheira foi uma das principais defensoras do Código da Família. Promulgado em 1975, a nova legislação estabeleceu a igualdade formal e jurídica entre homens e mulheres e determinou a divisão equitativa das tarefas domésticas e da responsabilidade pelo cuidado e educação dos filhos.

Atividades partidárias e parlamentares

Vilma permaneceu no comando da FMC até sua morte. Em sua gestão, a organização se transformou em uma importante plataforma para a participação política feminina, incentivando mulheres a ocuparem cargos de liderança em sindicatos, organizações comunitárias e no governo cubano.

Esse trabalho possibilitou que Cuba se tornasse o segundo país do mundo com maior proporção de mulheres no parlamento. Em 2018, 53,4% dos assentos da Assembleia Nacional do Poder Popular eram ocupados por mulheres.

Além de seu trabalho à frente da FMC, Vilma exerceu o papel de dirigente do Partido Comunista de Cuba (PCC), integrando o Comitê Central da agremiação desde 1965. Ela foi eleita como suplente do Bureau Político do partido em 1980 e foi efetivada como membro titular em 1986.

Vilma foi deputada da Assembleia Nacional do Poder Popular desde sua primeira legislatura, em 1976, representando sua província natal de Santiago de Cuba. Ela também integrou o Conselho de Estado e presidiu a Comissão da Infância e a Comissão Nacional de Prevenção e Atenção Social, ajudando a implementar políticas públicas voltadas ao apoio de grupos vulneráveis.

Durante as décadas de 1970 e 1980, Vilma representou Cuba em fóruns internacionais, como as conferências da ONU sobre mulheres, realizadas em Cidade do México, Copenhague, Nairóbi e Pequim. Ela recebeu diversas condecorações em reconhecimento ao seu trabalho, incluindo o Prêmio Lenin da Paz e o título honorário de Heroína da República de Cuba.

Vilma Lucila Espín Guillois faleceu em 18 de junho de 2007, aos 77 anos, vitimada pelo câncer. Milhares de pessoas se reuniram em uma cerimônia em sua homenagem na Praça da Revolução de Havana e uma vigília foi realizada no Teatro Karl Marx. As cinzas de Vilma foram depositadas junto ao Mausoléu da Segunda Frente Oriental Frank País, onde repousam vários de seus companheiros de guerrilha.