Há 20 anos, em 11 de novembro de 2004, falecia o líder político Yasser Arafat. Fundador do Fatah e presidente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), Arafat foi um dos mais destacados expoentes da luta pela libertação da Palestina, conduzindo tanto a resistência armada contra a ocupação israelense quanto o esforço político e diplomático para o estabelecimento do Estado palestino.
Yasser Arafat nasceu no Cairo, capital do Egito, em 24 de agosto de 1929. Era o caçula dos sete filhos de um casal de palestinos comerciantes de tecidos. Sua mãe faleceu quando tinha apenas quatro anos e o pai, sobrecarregado, o enviou para Jerusalém, onde ficou sob os cuidados de um tio materno. Regressou posteriormente ao Egito, onde concluiu o ensino básico.
Após ingressar no curso de engenharia civil da Universidade do Cairo, Arafat iniciou sua militância política, sendo fortemente influenciado pelas teses do nacionalismo árabe e travando contato com a Irmandade Muçulmana. Em 1946, opondo-se à imigração clandestina de colonos judeus para a Palestina e às ações de grupos terroristas financiadas pelo sionismo internacional, Arafat passou a contrabandear armas para uso dos guerrilheiros ligados à Alta Comissão Árabe.
Após a eclosão da Guerra Árabe-Israelense em 1948, Arafat se juntou às tropas árabes que combatiam as Forças Armadas de Israel. Optou, no entanto, por não ingressar nas fileiras dos Fedayin palestinos, preferindo juntar-se às tropas da Irmandade Muçulmana. Participou de diversas batalhas na Faixa de Gaza até 1949, quando se retirou diante da iminente vitória de Israel.
Regressou ao Egito e concluiu sua graduação na Universidade do Cairo, assumindo em seguida a Presidência da União Geral dos Estudantes da Palestina. Na década de 1950, Arafat serviu no Exército egípcio e voltou a lutar contra Israel e as potências ocidentais durante a Crise de Suez.
Expulso da Faixa de Gaza, Arafat mudou-se para o Kuwait, à época um protetorado britânico. No Kuwait, reuniu-se com Salah Khalaf, Khalil al-Wazir e outros membros da Diáspora Palestina e da Irmandade Muçulmana.
Fundou então o Fatah (acrônimo transliterado de “Movimento de Libertação Nacional da Palestina”), grupo que se tornaria o principal movimento armado ativo na luta pela criação do Estado da Palestina. O Fatah se diferenciava das demais organizações independentistas palestinas por ser formalmente independente dos demais países árabes e dos movimentos religiosos islâmicos, definindo-se como um partido nacionalista, laico e de centro-esquerda. A organização, composta por estudantes, guerrilheiros e lideranças populares, rechaçava a “solução dos dois Estados” referendada pela Resolução 181 da ONU e questionava a legitimidade da criação do Estado de Israel.
Em 1967, o Fatah se filiou à Organização para a Libertação da Palestina, uma frente política e paramilitar congregando legendas da esquerda palestina. O Fatah se tornaria a força hegemônica dentro da OLP, conquistando a maioria dos assentos do Comitê Executivo e conduzindo Arafat à Presidência da organização. Por intermédio da OLP, Arafat coordenou uma série de missões de guerrilha e enfrentamento aberto contra as tropas israelenses, a partir das bases militares estabelecidas na Palestina (Faixa de Gaza e Cisjordânia) e nos países vizinhos (Líbano, Síria, Jordânia e Egito).
Sob o comando de Arafat, a OLP auxiliou a Liga Árabe durante a Guerra dos Seis Dias e conduziu a chamada “Guerra de Atrito” contra Israel entre 1967 e 1970. Organizou o movimento antissionista desbaratado pelas tropas da Jordânia e apoiou a facção socialista do Movimento Nacional Libanês, ajudando a combater as falanges maronitas durante a Guerra Civil Libanesa. Reagindo contra as campanhas da resistência palestina, os governos dos Estados Unidos e seus aliados europeus passaram a classificar a OLP como uma “organização terrorista”.
Em 1978, as bases de Arafat no Líbano foram atacadas pelos militares israelenses durante a Operação Litani. Em 1982, Israel voltou a atacar as bases do Fatah no país, causando um saldo de 20 mil civis mortos e ensejando os infames Massacres de Sabra e Shatila, cometidos por uma milícia maronita com apoio logístico dos soldados israelenses. Acompanhado de grupo de combatentes, Arafat escapou dos ataques, refugiando-se então na Tunísia, país que se tornaria seu centro de operações até 1993.
Da Tunísia, Arafat organizou a Primeira Intifada — enorme levante popular que eclodiu em 1987, em vários pontos dos territórios palestinos ocupados por Israel. Em 1988, endossado pelo Conselho Nacional da Palestina, Arafat decretou oficialmente a fundação do Estado da Palestina, atualmente reconhecido por 137 dos 193 países-membros da ONU.
As reformas conduzidas por Mikhail Gorbachev na União Soviética e a redução dos repasses financeiros do governo iraquiano tiveram profundo impacto sobre a capacidade militar e a força diplomática da OLP, forçando Arafat a uma série de concessões. A OLP passou a reconhecer a legitimidade de Israel e aceitou oficialmente a solução dos dois Estados proposta pela ONU.
Em 1993, Arafat subscreveu o Acordo de Paz de Oslo e assumiu o comando da recém-fundada Autoridade Nacional Palestina (ANP), organização responsável por administrar os territórios palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia. A assinatura do armistício lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz, repartido com Shimon Peres e Yitzhak Rabin.
A trégua, entretanto, durou pouco tempo. Israel não honrou os compromissos e deu continuidade à expansão dos assentamentos israelenses em terras palestinas, reiniciando o conflito.
O assassinato de 52 muçulmanos por um terrorista israelense durante o Massacre do Túmulo dos Patriarcas e a subsequente repressão brutal aos manifestantes palestinos, causando a morte de outras 19 pessoas, também minaram o apoio público ao Acordo de Paz. Apesar do fracasso das negociações, Arafat foi reeleito para a Presidência da ANP com maioria absoluta de votos (87%) na eleição de 1996.
A nomeação do reacionário Benjamin Netanyahu para o cargo de primeiro-ministro de Israel intensificou o conflito entre os dois países. Com o fracasso da nova rodada de negociações realizadas durante a Cúpula de Camp David, teve início a Segunda Intifada.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos e o início da “Guerra ao Terror”, Arafat passou a ser sistematicamente boicotado pelo governo norte-americano, que o acusava de condescendência com grupos terroristas. Arafat foi forçado a viver seus últimos anos de vida enclausurado na Muqata’a, um antigo complexo prisional localizado em Ramallah, remanescente do Mandato Britânico da Palestina, cercado por forças israelenses, proibido de se locomover dentro da Palestina ou de deixar o país.
Arafat faleceu em 11 de novembro de 2004, aos 75 anos de idade, após passar 13 dias internado. A morte súbita chamou a atenção e atraiu especulações sobre uma causa não-natural. O biógrafo Amnon Kapeliouk levantou a possibilidade de que a morte de Arafat decorreria de anos de contínuo envenenamento realizado pelos serviços secretos israelenses
Em 3 de julho de 2012, o Instituto de Radiofísica do Hospital Universitário da Universidade de Lausanne, Suíça, divulgou um relatório sobre o resultado das análises do material biológico encontrado em roupas e objetos de uso pessoal de Arafat. O relatório mostrava a presença de altos níveis de polônio no material coletado, reforçando a hipótese de envenenamento.
O presidente palestino, Mahmoud Abbas, solicitou então a exumação do corpo de Arafat para análises químicas. Os testes revelaram que os restos mortais de Arafat possuíam um nível de contaminação por polônio 20 vezes maior do que os padrões normais.