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Vladmir Putin com Angela Merkel, chanceler da Alemanha, integrante da OTAN; líder russo restabeleceu equilíbrio geopolítico
A Rússia e a OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) completam nesta semana 15 anos de cooperação, numa aproximação que em certa medida sacramentou o fim das décadas de tensão da Guerra Fria. O primeiro passo para a colaboração entre o bloco das potências ocidentais e o principal país da ex-União Soviética foi dado em 1997, durante a Cúpula de Paris.
Cinco anos mais tarde seria criado o Conselho OTAN-Rússia, durante a Cúpula de Roma. Já em 1997, os dois lados declararam que “não são adversários” e se comprometeram a criar “uma área pacífica duradoura euroatlântica”. A criação do conselho foi o último passo diplomático para a atuação dos dois blocos em projetos comuns.
No entanto, esta relação está marcada por altos e baixos, variando conforme a temperatura dos conflitos e dos movimentos do xadrez geopolítico. Dentre as crises mais importantes, destacam-se a operação da OTAN na Sérvia em
Apesar de todos os desacordos, a Rússia e a aliança militar são aliados. Ou pelo menos, é isso que tentam demonstrar. “Há alguns pontos que continuam sendo sensíveis para os dois lados, mas de maneira geral temos muitas esferas de cooperação que são de mútuo interesse”, explicou recentemente a jornalistas Anders Fogh Rasmussen, secretário-geral da OTAN. “Após os ataques de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, a Rússia foi o primeiro país a oferecer apoio estratégico e “ajuda para combater o terrorismo”, relembra Rasmussen.
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A última cúpula da OTAN, que ocorreu nos dias 20 e 21 de maio em Chicago, foi interpretada pela maioria dos analistas como uma derrota para a Rússia. O escudo antimíssil foi aprovado e vai ser construído pelo Ocidente, mesmo sem um acordo com a Rússia.
Bases em território russo
Em abril, a imprensa noticiou com destaque a construção de bases da OTAN em território russo e, segundo informação amplamente divulgada pela mídia russa e internacional, Moscou e Bruxelas estariam fazendo negociações sobre um acordo que permitiria que a Aliança utilizasse a Base Aérea de Ulyanovsk para o trânsito de cargas não-letais do Afeganistão para a Europa. Alguns membros do Partido Comunista da cidade de Ulyanovsk chegaram a fazer uma greve de fome para protestar contra a base e montaram um acampamento no aeroporto da cidade onde a base estava prevista para ser construída. No entanto, o vice-primeiro-ministro Dmitry Rogozin informou que “aqueles que espalharam a falsa notícia são provocadores ou simplesmente idiotas”.
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George W. Bush e Tony Blair durante a Cúpula de Roma, em 2002; encontro selou pacto Rússia-OTAN
O Ministério dos Assuntos Exteriores russo insistiu que as “bases militares da OTAN” e a presença de pessoal civil e militar da aliança destinam-se apenas a facilidades logísticas, como locais de armazenamento temporário”. Além disso, o centro de trânsito ficaria sob controle da alfândega russa, que poderá verificar todas as mercadorias em trânsito através do país.
As explicações não foram suficientes para o Partido Comunista, principal grupo de oposição do país, que continua sendo veementemente contrários à ideia. “Centros militares e industriais do nosso país, como Samara e Nizhny Novgorod, estão localizados perto de Ulyanovsky”, disse o deputado comunista Anatoly Lokot. “O acordo é um movimento bem sucedido dos estrategistas da OTAN, mas a gente não precisa deles”. E completou: “Pela primeira vez na história do Império Russo, da URSS e da Federação Russa, uma base militar estrangeira iria aparecer no nosso solo. E seria uma base de um bloco militar que a maioria da população não vê com bons olhos”.
Impopular
Uma pesquisa do Instituto Levada publicada em janeiro de 2011 revelou que a OTAN ainda é vista como um adversário por pelo menos 23% dos russos. “Toda semana há inúmeras reportagens nos jornais criticando as ações da OTAN. As pessoas associam bombardeios e mortes de inocentes às intervenções da organização”, explica o cientista político russo Igor Gerasimov.
Entre a classe política, a cautela é a mesma. “Há muitas razões para este medo de uma proximidade com os Estados Unidos. A principal causa, no entanto, é a profunda suspeita dentro dos círculos dominantes da Rússia sobre as intenções estratégicas dos Estados Unidos. E a tensão é mútua. Vários países da OTAN, principalmente os da Europa Central, suspeitam dos projetos geopolíticos da Rússia”, explica por telefone ao Opera Mundi Dmitri Trenin, diretor do Centro Carnegie de Moscou.
Trenin acredita que as relações entre os dois lados estejam melhorando, mas afirma que o processo ainda precisa percorrer um longo caminho. “A compreensão sobre questões específicas ajudou a atingir resultados positivos em temas importantes, mas estamos há muitos anos no mesmo impasse, entre a antiga inimizade e a parceria estratégica, a meio caminho. Estaremos perpetuando esta relação?”.
O escudo antimíssil se transformou no tema mais importante do debate midiático sobre as relações entre a OTAN e a Rússia, mas Dmitri Trenin alerta que não é a única questão importante nas relações russo-ocidentais. “Há uma série de temas de controle de armas convencionais, de armas nucleares. Mas apenas cooperações a um nível estratégico vão fazer a diferença.”
O ano de 2012 viu a vitória de Vladimir Putin nas eleições presidenciais pela terceira vez e pode ver a reeleição de Barack Obama dentro de alguns meses. Este certamente não é um bom ano para acordos inovadores, mas pode ser uma oportunidade para (re)pensar estrategicamente as relações entre Rússia, Estados Unidos e Europa.
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