No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta quarta-feira (06/10), o jornalista Breno Altman entrevistou Edival Nunes, o Cajá, dirigente do Partido Comunista Revolucionário e coordenador do Comitê Verdade, Memória e Justiça de Pernambuco, como parte da série de entrevistas com líderes de partidos extraparlamentares de esquerda.
Segundo ele, é urgente derrubar Bolsonaro devido ao desemprego, fome, miséria “e às mortes de quase 600 mil pessoas por uma doença evitável”. Cajá avaliou que a única forma de conseguir isso é por meio das ruas.
“O PCR avalia que o impeachment só é possível se aumentar a força das ruas. Precisamos de uma frente progressista que caiba o povo. Quando a voz das ruas ecoar no Congresso eles colocarão em votação os pedidos de impeachment que agora não têm coragem de votar”, defendeu.
Nessa lógica, ele avaliou como positiva a jornada nacional de mobilizações do dia 2 de outubro, disse que representaram um avanço “porque foi uma mobilização sem recursos, organizada por organizações sociais e partidos pequenos. Os partidos grandes estão preferindo esperar o calendário eleitoral, mas não dá para esperar e as manifestações mostram que o povo quer lutar”.
Falando sobre as eleições de 2022, Cajá disse que o PCR ainda não discutiu sua estratégia, mas deixou claro que seu apoio será à Unidade Popular, partido com quem o PCR mantém uma relação fraternal, nas palavras do dirigente, caso lancem um candidato próprio no primeiro turno.
No segundo turno, contudo, diante da polarização entre Lula e Bolsonaro, a legenda apoiaria o candidato petista, como o fez nas eleições de 2018 e 2014, “mas será um apoio crítico”.
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Dirigente do Partido Comunista Revolucionário defende urgência de derrubar Bolsonaro
Balanço dos governos petistas
Cajá reforçou que o “apoio crítico” se deu em todos os mandatos dos governos petistas, que o dirigente do PCR classificou como “sofríveis”. Ele criticou Lula por nunca ter recebido o PCR, mesmo tendo companheiros de luta no partido, nem ter recebido a Comissão Especial sobre os Mortos e Desaparecidos Políticos. Ele afirmou que nem Dilma o fez, “o que foi um erro gravíssimo”, apesar de ter criado a Comissão da Verdade.
Para ele, o PT fez demasiadas concessões: “A carta ao povo brasileiro de Lula poderia ter sido facilmente dirigida aos banqueiros”. Como resultado, o partido deixou de mobilizar suas massas e perdeu força.
“Os movimentos populares viraram chapas brancas do governo. Lula perdeu a força do povo quando se comprometeu moralmente, a expectativa que havia de votar no líder do povo foi se perdendo. Ele não precisava ter feito isso. Aí quando veio o golpe contra a Dilma, o povo não foi para a rua impedir que acontecesse”, ponderou.
Diante de um novo de governo de esquerda, Cajá destacou a importância de se reinterpretar a Lei da Anistia para conseguir justiça e reparação às vítimas da ditadura. Segundo ele, o Brasil vive o resultado de não ter julgado os crimes cometidos pelos militares. Ele ressaltou que ir atrás de justiça e condenar os culpados “não é revanchismo, é fazer com que os militares, que mentiram durante a Comissão da Verdade, cumpram com a lei”.
Cajá foi um importante militante durante os tempos da ditadura militar. Formou parte do PCR desde seu início, em 1966, quando foi criado na clandestinidade no Recife. Ele foi sequestrado pelo DOI-CODI, torturado e mantido em solitária por um ano. Cajá, como era conhecido, foi o último preso político liberado depois de promulgada a Lei da Anistia, em 1979, e, por isso, o episódio de sua prisão rendeu uma greve de 12 mil alunos da Universidade Federal de Pernambuco, duas homenagens de Elis Regina em shows e Dom Helder Câmara saiu em sua defesa.