As campanhas para as eleições afegãs, que acontecem amanhã, apresentam suspeitas de irregularidades e indícios de fraude.
Entre os principais problemas denunciados estão o uso irregular de recursos públicos, como o emprego de veículos oficiais e de espaço na mídia estatal, além do horário designado pelas leis eleitorais do país; a presença de oficiais de governo com altos cargos nos comícios; a destruição de material de campanha e a discriminação ao escolher quem recebe recursos públicos para fazer campanha. Além disso, são frequentes as acusações de venda de votos no período pré-eleitoral e de vínculo de fiscais a partidos e candidatos.
“As violações ocorreram tanto com candidatos dos conselhos das províncias quanto com os candidatos presidenciais, embora a maioria das violações tenha sido cometida por apoiadores dos candidatos oficiais”, explicou Shaharzad Akbar, porta-voz da Fundação para Eleições Livres e Justas do Afeganistão (FEFA), maior órgão afegão de observação eleitoral, com sete mil fiscais.
O jornalista afegão Abdulhadi Hairan acredita que a insegurança e a violência prevalecerão nas eleições do dia 20 e que isso pode afetar os resultados nas províncias, onde será difícil para observadores internacionais e nacionais monitorarem o processo. “Os resultados serão manipulados pela maioria dos oficiais das províncias em favor de Karzai. Eu recentemente estive em muitas províncias fazendo uma pesquisa, e eu vi oficiais fazendo campanha para o presidente Karzai. Ele será o grande beneficiado por eleições nebulosas”.
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Para a especialista em Afeganistão e pesquisadora da SOAS (Escola para Estudo Africanos e Orientais), da Universidade de Londres, Massoumeh Torfeh, as violações são corriqueiras. “Qualquer um consegue comprar o voto que quiser, é um mercado livre. E será impossível saber quem roubou. Um repórter da BBC, tentando demonstrar isso, fingiu que era candidato e comprou votos para si”. Para Torfeh, a causa do problema é a falta de fiscalização.
Entre 17 de julho e 3 de agosto, a FEFA reportou 52 irregularidades. No mesmo período ocorreram ao menos 12 incidentes violentos contra participantes das campanhas, incluindo um ataque contra o comboio de um candidato à vice-presidência, sequestros e assassinatos de ao menos três candidatos aos conselhos das províncias, um ataque de grupos insurgentes contra um comboio que transportava material de treinamento para as eleições e cartas com ameaças contra candidatos e oficiais eleitorais.
Medo
Eleitores também estão receosos em participar do pleito, pois temem ser identificados por meio da tinta utilizada para marcar as digitais na hora do voto e sofrer algum tipo de retaliação por parte do grupo extremista Talibã. “A tinta também pode ser um problema nas áreas mais inseguras. As pessoas na província de Farah e em algumas outras províncias foram intimidadas e demonstram preocupação de ter que usar a tinta no dedo, porque ela é um indicador de participação nas eleições, e participar pode ser arriscado”.
Sábado passado, os talibãs reivindicaram o atentado suicida com um carro bomba em frente ao quartel-general da Isaf (Força Internacional de Assistência à Segurança) em Cabul, que matou sete pessoas. O grupo comunicou que a Embaixada dos Estados Unidos era o alvo dos atentados.
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Cabul é vigiada por uma forte presença de tropas afegãs e da polícia local que cuidam da segurança dos prédios governamentais e controlam o acesso às vias que levam às embaixadas estrangeiras. O governo afegão anunciou que as forças de segurança realizarão amanhã, no dia das eleições, um cessar-fogo por ocasião da votação, e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) garantiu que limitará sua ação militar à “necessária para proteger a população”.
Na tentativa de tornar o processo transparente, a Comissão Eleitoral Independente recrutou 203.057 fiscais, 23 organizações internacionais de observação eleitoral, 49 centros de mídia nacionais, 103 grupos de mídia estrangeiros, 31 partidos políticos, 14 candidatos presidenciais e 2.537 candidatos aos conselhos das províncias.
Ao todo, serão 6.969 centros de votação no país. Segundo a ONG Human Rights Watch, a segurança é consideravelmente menor que a das eleições presidenciais de 2004 e do pleito legislativo e provincial de 2005.
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