Um protesto “apartidário, laico e pacífico” pelo reforço da “democracia participativa no país”. Foi assim que os impulsionadores do movimento da “geração à rasca” descreveram a manifestação do sábado (12/03). O texto aparecia em uma carta aberta endereçada a cidadãos e organizações da sociedade civil do país. A resposta foi dada por centenas de milhares de pessoas, jovens e menos jovens de todas as classes sociais, de todas as coordenadas ideológicas, desde nacionalistas a defensores dos direitos dos homossexuais e anarquistas.
Em Lisboa, segundo os organizadores, entre 200 a 300 mil pessoas foram às ruas. Saindo da Avenida da Liberdade, os manifestantes cantavam. Entre os muitos cartazes, erguia-se um com a frase “juventude exige mais direitos e outra política”. Ouviu-se a “Tourada”, na voz de Fernando Tordo.
Ao início da noite, manifestantes enchiam a Praça do Rossio. Circulavam as ideias, propostas e críticas colocadas por muitos no papel. Três dos organizadores, Alexandre Carvalho, Paula Gil e João Labrincha, reproduziram um manifesto.
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“Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida”, proclamou o movimento, em nome da “geração com o maior nível de formação na história do país”: “Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspetivas”.
Protestos em várias cidades
Os números da ação de protesto, que foram anunciados na capital, levaram a multidão a gritar “a rua é nossa”. A meio da manifestação da “geração à rasca”, o comando de Lisboa da PSP evitava avançar com qualquer balanço da mobilização, remetendo uma eventual divulgação de dados para a Direção Nacional.
Em Porto, cerca de 80 mil pessoas se uniram às manifestações, segundo um cálculo que teve por base o espaço da Avenida dos Aliados, onde a circulação de trânsito esteve cortada a partir das 17h00. Ali, uma jovem de 25 anos cantaria a “Desfolhada”, canção interpretada por Simone de Oliveira no Festival da Canção de 1969. Ecoaram, também, palavras de abril: “O povo unido jamais será vencido”.
Em Lisboa e em Porto, qualquer menção ao governo ou ao nome do primeiro-ministro, José Sócrates, dava lugar a vaias. O quadro repetiu-se em Braga, onde milhares de pessoas de todas as idades preencheram a Praça da República. Naquela cidade minhota, o Presidente da República e o líder do PSD foram igualmente visados: três jovens com máscaras de José Sócrates, Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho distribuíram balões aos manifestantes, pedindo que os fizessem rebentar ao mesmo tempo.
Em Coimbra, a mobilização foi menos expressiva. Mesmo assim, o protesto não ficou sem voz. Castelo Branco, Viseu, Faro e Ponta Delgada foram outras das cidades cujas ruas serviram de palco à “geração à rasca”.
Apoio político
Poucos foram os políticos que marcaram presença no protesto do sábado em Lisboa. Discretos, misturaram-se entre a multidão ou mesmo nas margens da marcha. A esquerda parlamentar esteve representada pelos deputados Catarina Martins, José Guilherme Gusmão e Rita Calvário, do BE (Bloco de Esquerda), e Rita Rato, João Oliveira, Miguel Tiago e Bruno Dias, do PCP (Partido Comunista Português).
A comunista Rita Rato disse que a precariedade “é uma chaga social que atinge atualmente milhares de trabalhadores, mais de um milhão e meio e sobretudo jovens”.
“A precariedade tem de ter um combate pela sua erradicação, tal como se lutou contra o trabalho infantil. A precariedade do emprego, a precariedade da vida”, afirmou.
Além dos deputados do Bloco de Esquerda e do PCP, estiveram nas ruas os ex-candidatos presidenciais José Manuel Coelho e Garcia Pereira, dirigentes da Juventude Social Democrata e membros da CGTP-IN.
*Texto originalmente publicado no site Vermelho.org
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