Não há país mais apreensivo com o resultado das eleições peruanas do que o Chile. Seja qual for o vencedor – entre Ollanta Humala e Keiko Fujimori –, a relação entre os dois governos deve piorar, de acordo com Andreas Feldman, chefe do Programa de Graduação do Instituto de Ciência Política da Pontifícia Universidade Católica de Santiago do Chile.
Com Humala, “realmente há risco de que as relações entre Chile e Peru piorem”, por causa das disputas sobre a demarcação do limite entre os dois países no Oceano Pacífico. Com Keiko, “a relação seria prejudicada pelo processo de extradição do pai dela (Alberto Fujimori) do Chile para o Peru”.
Chilenos e peruanos disputam na Corte Internacional da Organização das Nações Unidas (ONU), em Haia, na Holanda, a posse sobre uma faixa de 35 mil km² no Oceano Pacífico. Por seu forte perfil nacionalista, Humala poderia tornar a demanda marítima peruana uma bandeira de união nacional diante de um adversário externo comum. A estratégia é vista como uma forma de voltar a unir um país dividido por uma eleição onde nenhum candidato emergiu como líder isolado.
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O caso de Keiko envolve ressentimentos familiares. Em 2005, seu pai, o ex-presidente peruano Alberto Fujimori – processado por crimes de corrupção e contra os direitos humanos – regressou à América Latina pelo Chile, pondo fim a um exílio voluntário que durou cinco anos no Japão. Fujimori passou mais cinco anos em Santiago numa condição nebulosa de abrigado político. Mas, em setembro de 2007, a Justiça chilena atendeu a um pedido de extradição e enviou Fujimori a Lima, onde permanece preso até hoje.
No Chile, as declarações mais duras até agora foram feitas contra Humala. Mesmo antes do final da apuração, o deputado Jorge Tarud, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, partiu para o ataque contra o candidato nacionalista. “Sabemos que ele é uma pessoa belicista, extremamente agressiva com o Chile, uma pessoa que pode ser considerada até mesmo anti-chilena. Sua eleição significa que teremos uma confrontação bastante complicada com o próximo governo peruano”, disse Tarud.
Ciente da desconfiança que desperta entre os chilenos, Humala se adiantou, ainda durante a campanha presidencial, a fazer promessas de paz para a relação entre os dois países. “Não sou anti-chileno”, disse Humala numa entrevista a meios de comunicação internacionais. “Me comprometo a respeitar a decisão da Corte de Haia, assim como o presidente chileno, Sebastián Piñera, também se comprometeu. Portanto, estamos entre dois governos sérios”. Para Humala, qualquer declaração de que uma vitória sua deteriore as relações com o Chile não passa “de uma ingerência inadmissível”.
A disputa entre os dois países vêm desde a Guerra do Pacífico, há mais de 130 anos, quando Chile, Peru e Bolívia entraram num conflito que culminou com a anexação de territórios destes dois países por parte do Chile.
Nos últimos anos, os ressentimentos entre Peru e Chile voltaram a ganhar as manchetes, depois que o atual presidente peruano, Alan García, acusou as Forças Armadas chilenas de cooptarem um oficial peruano para realizar ações de espionagem em Lima. Na ocasião, García referiu-se ao Chile como uma “republiqueta”.
O Peru também acusa com freqüência o Chile de promover uma corrida armamentista na América Latina por investir em aviões de combate, submarinos e navios de guerra com alcance e poder de fogo muito superiores às supostas ameaças reconhecidas atualmente. Lima chegou a propor na União das Nações Sul-Americanas (Unasul) a adoção de uma “tabela” de gastos militares, como forma de evitar uma “corrida armamentista regional”.
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