Com 95% dos votos apurados, é possível perceber que a vantagem do candidato da aliança de esquerda Ganha Peru, Ollanta Humala, no primeiro turno das eleições peruanas, é maior em regiões mais pobres e afastadas do Peru — ele lidera em 16 dos 24 estados do país. No momento, o nacionalista tem 31.743% dos votos e Keiko Fukimori, sua adversária no dia 5 de junho, 23.502%.
No primeiro turno das eleições presidenciais em 2006, o comandante afastado do exército ganhou em 17 estados. Esse ano, Humala teve vantagem do estado de Ica, ao sul da capital, e em Ancash, ao norte de Lima. Agora, ele perdeu, porém, em Loreto, reduto do ex-presidente Alejandro Toledo e Tumbes — na fronteira norte — onde a vitória foi para a candidata da Força 2011, Keiko Fujimori.
Acompanhe no mapa a proporção dos votos por estado (Fonte: El Comercio)
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A filha do ex-presidente Alberto Fujimori obteve vantagem em cinco estados do norte do Peru: Tumbes, Piura, Lambayeque, Cajamarca e La Libertad. Todos eles são históricos redutos do Apra (Aliança Popular Revolucionária Americana), de Alan García, exceto Cajamarca, região onde funcionam as principais mineradoras de ouro do país.
O antropólogo Javier Torres explicou ao Opera Mundi que “não há muita diferença” entre Keiko e Humala nas regiões onde a candidata da Força 2011 ganhou. Em Tumbes, ela é de 8% e em Lambayeque, de 0,9%. “Em Cajamarca o fujimorismo é forte: Cecilia Chacón — parlamentar pela região — é uma das principais congressistas do grupo”, afirmou. Para ele, a ex-presidente do Congresso Marta Chávez — reeleita — teve uma boa votação graças ao apoio de Keiko.
No estado de Cajamarca, de acordo com Torres, “o importante setor de mineração se viu beneficiado pela estabilidade trabalhista, fomentada principalmente pela atuação da [empresa minera] Yanacocha.”
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“Talvez o voto dividido entre Keiko e Humala expresse uma demanda por mais ação do Estado. No entanto, quem vota por Keiko espera uma atuação autoritária, acompanhada pelo clientelismo e muito assistencialismo [políticas de apoio social]. Com Ollanta seria uma aposta pelo retorno da ordem, em grande parte por não aguentarem mais o governo García”, explicou.
Vantagem de Humala
Para Torres, a votação massiva por Humala no sul se assemelha ao quadro da eleição anterior, mas desde 2006 os problemas têm aumentado nessa região do Peru. “Humala tem o lema 'Gás para os peruanos' [em vez de ser exportado para o México ou para o Chile], que tem funcionado muito bem em todo o sul. Essa linha jogou contra [Pedro Pablo] Kuczynski. A cidade de Cusco diz há 30 anos que o gás precisa ficar lá”, lembrou Torres, diretor da ONG Noticias Ser.
Um protesto contra um projeto minerador em Islay (Arequipa) e a consequente repressão policial da semana pasada, “ajudaram Humala a fechar uma campanha que já vinha em alta”, opinou Torres. No caso de Puno, onde Brasil e Peru pretendem construir uma hidroelétrica, Humala ganhou votos, lembrou Torres, “apesar de ter sido bastante ambíguo, pois não falou em acordo energético com o Brasil.”
Para o antropólogo, o voto majoritário em Humala é explicado pela demanda dos cidadãos para que o Estado intervenha mais em temas como a indústria da extração de minério. “Se trata de escutar as pessoas: essa é a grande demanda do sul. Em 2006, se fazia o discurso de inclusão, mas García aprofundou as brechas entre setores da serra e da Amazônia, indo contra as preocupações legítimas dessas pessoas, que pedem o uso democrático da água, das terras”, disse.
Votos em Lima
De acordo com a apuração dos votos, Kuczynski, da Aliança pela Grande Mudança, ganhou em Lima e Callao, com 26% e 28%, respectivamente.
Torres explicou que, eleitoralmente, “Lima sempre teve um voto bastante conservador ou de direita, exceto na eleição da atual prefeita Susana Villarán [em outubro de 2010]. É uma das regiões que mais se beneficiou do crescimento econômico.”
“Kuczynski é o voto dos setores médios e altos: pelo trabalho que fez de diálogo com estudantes universitários, captou um número importante”, afirmou.
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