O ex-ministro da Defesa de El Salvador, general René Emilio Ponce, principal acusado de ordenar a execução de seis sacerdotes jesuítas durante a guerra civil do país (1980-1992), morreu nesta segunda-feira (02/05) por problemas cardíacos. Para os analistas políticos locais, ele deixará como legado a participação decisiva no episódio mais sangrento do conflito, encerrado há quase duas décadas e que arrasou o país centro-americano.
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Ponce, um militar aposentado de 64 anos, morreu na última madrugada na unidade de cuidados cardíacos do Hospital Militar da capital do país, San Salvador, após oito dias de tratamento médico.
Sobre as costas de Ponce recai uma série de acusações de violações aos direitos humanos. Ele é acusado de ordenar a execução de seis sacerdotes jesuítas da UCA (Universidade Centro-Americana), de acordo com um informe da Comissão da Verdade das Nações Unidas de 1993.
Na madrugada de 16 de novembro de 1989, durante uma ofensiva guerrilheira em San Salvador, um comando do Exército irrompeu a universidade e assassinou seu reitor, o espanhol Ignacio Ellacuría.
Junto a Ellacuría, foram assassinados os sacerdotes Joaquín López y López, Ignácio Martín Baró, Juan Ramón Moreno, Segundo Montes e Armando López, assim como a das suas colaboradoras, Julia Elba e Celina Ramos.
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A violenta guerra civil pela qual passou El Salvador, quando se enfrentaram a ex-guerrilha de esquerda da Frente FMLN (Farabundo Martí para a Libertação Nacional) e o Exército salvadorenho, deixou 75 mil mortos e oito mil desaparecidos.
Benjamín Cuellar, diretor do Instituto de Direitos Humanos da UCA, ressaltou que a lembrança em relação ao general Ponce estará sempre vinculada a episódios sangrentos similares aos do campus universitário, quando a bandeira da democracia foi utilizada para a execução de civis.
“Ponce não pode ser visto sob nenhuma ótica como uma referência de ética ou política, principalmente como alguém que lutou pela democracia, porque o fez assassinando pessoas inocentes, civis não combatentes”, disse Cuellar ao Opera Mundi.
O general foi ministro de Defesa durante o período do ex-presidente Alfredo Cristiani (1989-1994), da direitista Arena (Aliança Republicana Nacionalista), fundada pelo el major Roberto D'Aubuisson, também implicado no assassinato do Monsenhor Oscar Romero.
O ex-ministro da defesa, juntamente com 13 chefes militares, foi processado na Espanha
por crimes de terrorismo e encobrimento no caso do assassinato dos jesuítas.
“O general Ponce morre, mas muita gente lamenta o fato de que ele partiu sem ter sido condenado oficialmente, enquanto respondia a uma denúncia e um processo na Audiência Nacional da Espanha”, expressou Cuellar.
Por sua parte, Guadalupe Mejía, presidente do Codefam (Comitê de Familiares de Vítimas de Violações aos Direitos Humanos), lamentou a morte do militar porque, com ele será enterrada muita informação acerca da violação de direitos humanos na guerra.
“É lamentável que tenha sido morto sem fornecer a informação que nós, como organismos de direitos humanos, necessitamos para que, em nosso país, haja verdade e justiça. Nós queremos saber o que fizeram com nossos entes queridos”, disse.
Mejía, que perdeu seu marido e um irmão durante a guerra, considera que tanto Ponce como outros militares possuíam informação valiosa sobre os milhares de desaparecidos e sempre gozaram de impunidade. “Em minha posição como vítima, o que mais desejava é que se começasse a investigar e que, um dia esses militares pudessem se arrepender, até para a cura de nossas próprias feridas”, concluiu Mejía.
René Emilio Ponce fez parte de um grupo de militares de linha dura chamado “La Tandona”, graduados em 1966, cuja participação foi protagonista no decorrer do conflito armado e no combate aos rebeldes de esquerda.
Outro lado
Sobre a morte de Ponce, o Ministério da Defesa salvadorenho emitiu uma nota de pesar: “As Forças Armadas de El Salvador lamentam profundamente o sensível falecimento do distinto general René Emilio Ponce, que exerceu o cargo de ministro da Defesa e de Segurança Pública de El Salvador”.
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