Os britânicos disseram “não” para a reforma eleitoral, que possibilitaria uma revolução política no país. Ao todo, 69% dos votantes (contra 31% a favor) não concordaram com a substituição do atual sistema de voto de maioria símples pelo chamado “voto alternativo”, em que os eleitores classificam os candidatos por ordem de preferência e aquele que tiver 50% dos votos para o primeiro lugar no ranking, está eleito.
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A derrota representa uma humilhação para os liberais-democratas, que fizeram desta reforma sua grande bandeira para justificar a aliança governista, há um ano, com os conservadores, seus eternos rivais ideológicos. A isso se soma a derrota Lib-Dem nas eleições municipais parciais realizadas na quinta-feira (05/05), nas quais sofreram perdas em cidades importantes como Liverpool e Manchester, chegando a perder Sheffield, circunscrição eleitoral do líder do partido e atual vice-primeiro ministro, Nick Clegg.
O premiê conservador, David Cameron, por outro lado, pode dormir aliviado pois deixa de estar sob a mira da poderosa ala de direita de seu partido, que estava aterrorizada com a possibilidade de o voto alternativo ser o primeiro passo para um sistema representativo, e com isso, garantir para sempre um governo entre Lib-Dem e a oposição trabalhista. A pressão foi fundamental para forçar a intervenção de Cameron na campanha, quando algumas pesquisas iniciais apontavam uma pequena vitória do “sim”.
Termina assim a experência britânica de coalizão conservadora-Lib Dem? Não agora, já que os liberais temem ser arrasados em eleições gerais e os conservadores não querem ser vistos como traidores, apontam os especialistas. Porém, isso significa o fim da lua-de-mel entre os parceiros de governo. Os liberais estão furiosos com os duros ataques contra Clegg por parte da campanha contra o voto alternativo, financiada em mais de 90% pelo Partido Conservador.
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“Com esse resultado o sonho liberal de reformar o sistema eleitoral afasta-se por pelo menos 20 anos”, afirmou ao Opera Mundi Wyn Grant, cientista político da Universidade de Warwick. “Agora, os liberais pressionarão mais ainda a coalizão para tentar diferenciar-se dos conservadores, mas estão presos e, provavelmente, só abandonarão o governo seis meses antes das próximas eleições [em 2015]”, afirmou ele.
Os liberais se opõem agora, entre outros, a fazer uma grande reforma no sistema de saúde, estacionada no momento e que daria aos médicos muito mais poder na organização e ampliaria a participação do setor privado, algo visto pela esquerda como uma maneira de privatizar o sistema público de saúde. Além disso, reformaria as circunscrições eleitorais que agora favorecem os trabalhistas.
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Popularidade
O resultado não ajudou a popularidade dos liberais, que já estava baixa devido aos duros cortes fiscais e sociais. Porém, os liberais também cometeram erros graves, sobretudo ao não fazer o eleitorado compreender a urgência de modificiar o sistema que lhes concede 10% dos assentos com 25% dos votos.
Em um colégio eleitoral no centro de Londres, como em muitos outros, havia apenas votantes e os encarregados da mesa reconheciam que quase ninguém sequer entendia a proposta do voto alternativo. “Tudo isso é um jogo entre políticos, a única coisa que importa é o poder mas nada mudará”, comentou na saída Paul Edmond, um consultor de 25 anos, enquanto duas mulheres ao lado dele concordavam. “Tenho que votar porque é o meu dever, mas o resultado para mim é indiferente”, disse uma delas.
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