OTAN deixou imigrantes africanos à deriva no Mediterrâneo, denuncia jornal
OTAN deixou imigrantes africanos à deriva no Mediterrâneo, denuncia jornal
Sessenta e um imigrantes africanos morreram no Mar Mediterrâneo a bordo da embarcação em que viajavam em direção à Itália, após militares europeus e unidades da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) terem ignorado pedidos de ajuda, denunciou nesta segunda-feira (09/05) em sua edição on-line o jornal britânico The Guardian.
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Efe (08/05/11)
Voluntários italianos resgatam na ilha de Lampedusa grupo de imigrantes oriundo da Líbia
O episódio teria acontecido em março. Na ocasião, o barco -- que levava 72 pessoas, incluindo mulheres e crianças --, sofreu uma avaria após deixar o porto de Trípoli, na Líbia, com destino à ilha italiana de Lampedusa, ponto mais setentrional da Itália.
Apesar dos repetidos pedidos de socorro enviados à guarda costeira italiana e de um contato feito com um helicóptero e um navio de guerra da OTAN, ninguém ajudou os imigrantes, segundo o jornal britânico. Eles ficaram à deriva por 16 dias.
"Cada manhã, ao acordarmos, encontrávamos mais mortos, que deixavamos a bordo 24 horas antes de jogá-los no mar", relatou ao Guardian Abu Kurke, um dos sobreviventes. Após dias de esforço, os refugiados conseguiram voltar para a cidade de Misrata, na Líbia, no último dia 10 de abril.
O direito marítimo internacional obriga todos os barcos, incluindo os militares, a atender chamados de socorro dos barcos que se encontram nas proximidades e prestar auxílio.
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Por meio de um porta-voz, a OTAN negou ter sido acionada pelos imigrantes. A organização disse ainda que seus navios estão prontos para atender qualquer pedido de ajuda e prometeu investigar as acusações feitas pelo Guardian.
Reação
Organizações de direitos humanos e de apoio a refugiados exigem que o caso seja investigado. A porta-voz do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), Laura Boldrini, pediu maior cooperação entre militares e embarcações comerciais no Mediterrâneo para ajudar a salvar outras vidas.
"O Mediterrâneo não pode se tornar um 'velho oeste'. Aqueles que não ajudam pessoas em perigo em alto mar não podem continuar impunes", afirmou.
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O diretor da organização de apoio a refugiados Habeshia, Moses Zerai, um padre natural da Eritreia (país do leste africano), que vive em Roma, chamou o incidente de "crime" e deu a entender que houve preconceito. Segundo o The Guardian, ele foi um dos últimos a manter contato com a embarcação antes do telefone por satélite dos migrantes ficar sem bateria.
"Houve uma falta de responsabilidade que acabou deixando mais de 60 mortos, incluindo crianças. Isso constitui um crime, e é um crime que não pode sair impune só por que as vítimas eram de origem africana e não turistas em um cruzeiro".
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'Base de um Chile mais justo', diz presidente da Constituinte na entrega de texto final
Ao cumprir um ano de debate, Convenção Constitucional encerra trabalhos com entrega de nova Carta Magna a voto popular
Aconteceu a última sessão da Constituinte chilena nesta segunda-feira (04/07) com a entrega de uma nova proposta de Constituição para o país.
"Esta proposta que entregamos hoje tem o propósito de ser a base de um país mais justo com o qual todos e todas sonhamos", declarou a presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros.
Após um ano de debates, os 155 constituintes divulgaram o novo texto constitucional com 178 páginas, 388 artigos e 57 normas transitórias.
O presidente Gabriel Boric participou do ato final da Constituinte e assinou o decreto que convoca o plebiscito constitucional do dia 4 de setembro, quando os chilenos deverão aprovar ou rechaçar a nova Carta Magna.
"Hoje é um dia que ficará marcado na história da nossa Pátria. O texto que hoje é entregue ao povo marca o tamanho da nossa República. É meu dever como mandatário convocar um plebiscito constitucional, e por isso estou aqui. Será novamente o povo que terá a palavra final sobre o seu destino", disse.
No último mês, os constituintes realizaram sessões abertas em distintas regiões do país para apresentar as versões finais do novo texto constitucional. A partir do dia 4 de agosto inicia-se a campanha televisiva prévia ao plebiscito, que ocorre em 4 de setembro.
Embora todo o processo tenha contado com ampla participação popular, as últimas pesquisas de opinião apontam que a nova proposta de constituição poderia ser rejeitada. Segundo a pesquisa de junho da empresa Cadem, 45% disse que votaria "não", enquanto 42% dos entrevistados votaria "sim" para a nova Carta Magna. No entanto, 50% disse que acredita que vencerá o "aprovo" no plebiscito de setembro. Cerca de 13% dos entrevistados disse que não sabia opinar.

Reprodução/ @gabrielboric
Presidente da Convenção Constitucional, María Elisa Quinteros, e seu vice, Gaspar Domínguez, ao lado de Gabriel Boric
"Além das legítimas divergências que possam existir sobre o conteúdo do novo texto que será debatido nos próximos meses, há algo que devemos estar orgulhosos: no momento de crise institucional e social mais profunda que atravessou o nosso país em décadas, chilenos e chilenas, optamos por mais democracia", declarou o chefe do Executivo.
Em 2019, Boric foi um dos representantes da esquerda que assinou um acordo com o então governo de Sebastián Piñera para por fim às manifestações iniciadas em outubro daquele ano e, com isso, dar início ao processo constituinte chileno.
Em outubro de 2020 foi realizado o plebiscito que decidiu pela escrita de uma nova constituição a partir de uma Convenção Constitucional que seria eleita com representação dos povos indígenas e paridade de gênero.
"Que momento histórico e emocionante estamos vivendo. Meu agradecimento à Convenção que cumpriu com seu mandato e a partir de hoje podemos ler o texto final da Nova Constituição. Agora o povo tem a palavra e decidirá o futuro do país", declarou a porta-voz do Executivo e representante do Partido Comunista, Camila Vallejo.
A composição da Constituinte também foi majoritariamente de deputados independentes ou do campo progressista. Todo o conteúdo presente na versão entregue hoje ao voto público teve de ser aprovado por 2/3 do pleno da Convenção para ser incluído na redação final.
Com minoria numérica, a direita iniciou uma campanha midiática de desprestígio do organismo, afirmando que os deputados não estariam aptos a redigir o novo texto constitucional. Diante dos ataques, o presidente Boric convocou os cidadãos a conhecer a fundo a nova proposta, discutir de maneira respeitosa as diferenças e votar pela coesão do país, afirmando não tratar-se de uma avaliação do atual governo, mas uma proposta para as próximas décadas.
"Não devemos pensar somente nas vantagens que cada um pode ter, mas na concordância, na paz entre chilenos e chilenas e pela dignidade que merecem todos os habitantes da nossa pátria", concluiu o chefe de Estado.