Três garotas aparecem em um vídeo pulando corda de minissaia ao ritmo de uma canção tradicional em Igualada, na Espanha. De repente, a imagem muda e uma legenda avisa que estamos em “Igu-Al-Ada 2015”, mostrando três mulheres de burka pulando ao ritmo de música árabe. Em seguida aparece uma mensagem alarmista: “Você pode impedir que este pesadelo se torne realidade. Em Igualada, Plataforma pela Catalunha (PxC)”.
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Trata-se do último golpe de efeito do partico PxC, uma agremiação em pleno auge criada há nove anos na província industrial da Catalunha. A propaganda, parte da campanha para as eleições municipais espanholas de 22 de maio, provocou uma intensa polêmica no país. Seu principal cavalo de batalha é acusar os imigrantes (5,7 milhões, ou 12% da população) de ser os grandes responsáveis pela criminalidade e pelo desemprego, que afeta 20% dos espanhóis.
“Não temos muito dinheiro. Por isso fiz este vídeo com a ideia de criar um impacto, mas nunca imaginei que teria tanta repercussão”, disse ao Opera Mundi Roberto Hernando, número dois do partido e autor do vídeo. “Desde então, não paramos de receber emails e cartas de pessoas de toda a Espanha pedindo nossa expansão. Com a crise, não deveria entrar mais nenhum imigrante, menos ainda os muçulmanos, que querem impor sua cultura aos demais.”
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Atualmente, o PxC conta com 17 conselheiros na Catalunha (obteve 75 mil votos nas últimas eleições regionais, em 2010, quase 3% do total) e espera chegar a 100 no próximo pleito, graças sobretudo ao apoio que recebe nas localidades deprimidas do interior da província, onde há muitos imigrantes e a crise é mais percebida.
Hernando afirmou que está em coordenação com outros partidos radicais europeus, como o austríaco FPO (seu líder, Heinz-Christian Strache, assistiu recentemente a um comício do PxC), Filip Dewinter, do partido Vlaams Belang, da Bélgica, e a italiana Liga Norte, com a ideia de criar um movimento “identitário' na Europa.
'Peixes grandes'
Mas o discurso antiimigração na campanha não se limita a grupos ainda minoritários. O principal grupo opositor, o Partido Popular (PP), de centro-direita, subiu no barco depois que seu candidato em Badalona (uma localidade próxima à Barcelona), Xavier García Albiol, prometeu rigor contra a imigração ilegal. Além disso, o partido acusa os imigrantes de se aproveitarem dos serviços sociais, como auxílios à moradia e à saúde. Isso apesar de o PP manter um discurso muito mais conciliador em outras partes da Espanha para atrair o voto imigrante, o que muitos denunciam como hipocrisia.
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Ainda assim, poucos acreditam que o populismo antiimigração domine a campanha, e menos ainda que a ultradireita espanhola vá crescer tão rápido quanto em outros países europeus, embora deva, sim, servir de alerta para o futuro.
Josep Oliver, professor de economia da Universidade Autônoma de Barcelona, observa que um terço do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) deveu-se aos 5 milhões de imigrantes que chegaram à Espanha entre 1997 e 2008, antes do colapso econômico, trabalhando principalmente em construção e turismo, algo que a maioria dos espanhóis reconhece.
“O discurso antiimigração é falso. O grande benefício na Espanha é o auxílio-desemprego, mas ele está ligado ao fato de se ter trabalhado antes, e muitos imigrantes acabam de fazê-lo. Além disso, eles usam menos serviços públicos que os nativos por sua estrutura demográfica, já que a maioria tem entre 20 e 45 anos e, portanto, não vai à escola e adoece menos”, afirmou Oliver.
Ele acrescenta que também é um erro supor que os nativos poderiam fazer o trabalho dos imigrantes, já que estes, na maioria, desempenham tarefas penosas com remuneração muito baixa. “Não faz sentido expulsar os imigrantes, sobretudo se lembrarmos que voltaremos a precisar deles quando nos recuperarmos, daqui a cerca de cinco anos”, diz. “Por sorte, a sociedade espanhola, à exceção de lugares muito específicos, continua tendo uma boa imagem da imigração. Se a crise se prolongar por muitos anos, aí, sim, tudo isso poderá mudar.”
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