Em 23 de maio de 1498, por ordem do papa Alexandre VI, é executado na forca e em seguida incinerado o frei Girolamo Savonarola. Um dos espíritos mais complexos e poderosos do quatrocentismo italiano, Savonarola nasceu em Ferrara, em 21 de setembro de 1452, de uma família originária de Pádua. Intelectual muito talentoso devotou-se a seus estudos, em especial à filosofia e à medicina.
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Retrato de Savonarola por Fra Bartolomeo, feito em 1498
Sua vida transcorre em grande parte longe da terra natal e se muitas de suas peregrinações o levaram a diversas cidades da Itália, sua ação e sua energia de monge reformador e intérprete dos motivos contrastantes da cultura do Humanismo e do Renascimento, se deu principalmente na Florença de Lourenço o Magnífico e, depois da morte deste, na cidade em que por breve tempo se tornou república.
Em 1475, é acolhido no Convento dos Dominicanos onde sua visão teológica e das coisas mundanas se afirmou. Sentindo profundamente a perda de valores trazida pelo ideário do Renascimento começou a escrever os tratados filosóficos baseados em Aristóteles e em São Tomás de Aquino. Em 1481, foi designado por seu superior para pregar em Florença. Nesse centro do Renascimento, opôs-se rispidamente à vida pagã e frequentemente contra a imoralidade prevalecente em muitas classes da sociedade, em especial na corte dos Médici. Suas palavras exprimiam o desejo insistente de reforma da sociedade corrupta. Foi tomado ao mesmo tempo por um zelo intenso para com a salvação das almas, e estava pronto a arriscar tudo a fim combater as fraquezas humanas.
Após a derrubada dos Médici, em 1494, Savonarola tornou-se o único líder de Florença e organizou uma república definida como “cristã e religiosa”. Inimigo do renascimento artístico e cultural, estimulou a destruição de livros e obras-de-arte. Proibiu o jogo, a bebida, as festas e elevou a sodomia, até então punida com multa, a crime capital, punível com a pena de morte.
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Sua ortodoxia religiosa não era apoiada pelo papa Alexandre VI, que chegou a emitir várias censuras contra Savonarola. O fanático líder florentino simplesmente ignorou-as e continuou seu trabalho de limpeza moral, cujo ápice ocorreu em 1497, com a organização da famosa Fogueira das Vaidades: emissários do ditador recolheram por toda a cidade todos os objetos que pudessem caracterizar alguma forma de frouxidão moral, como espelhos, tabuleiros de jogos, cartas, vestidos luxuosos, livros sobre temas pagãos, cosméticos, perfumes, quadros mostrando figuras nuas e objetos semelhantes. De tudo isso resultou uma enorme pilha, incendiada em praça pública no centro de Florença.
Sua missão de intolerante reformador civil e religioso encontrou uma crescente hostilidade que se precipitou em tragédia quando Savonarola conspira para depor o papa Alexandre VI que, em revide, lançou o interdito contra Florença, excitando o ânimo dos cidadãos contra o frade.
Os desmandos de Savonarola foram tantos que em 4 de maio de 1497 explode a revolta popular, comandada por bandos de jovens. Numa atitude de provocação aberta, o povo reabriu tavernas e promoveu a jogatina em locais públicos. A família Médici foi reconduzida ao poder enquanto Savonarola, preso e excomungado pelo papa, acabou sendo executado e queimado na Piazza della Signoria, junto com seus colaboradores Domenico da Pescia e Silvestro Maruffi.
Era 23 de maio de 1498. As suas cinzas foram dispersas no rio Arno. A figura de Savonarola foi retratada pelo insigne pintor Fra Bartolomeo e durante longo tempo exerceu um estranho fascínio. Cogita-se que Leonardo da Vinci teria retratado Savonarola na sua famosa obra A Última Ceia no rosto de Judas Iscariotes.
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