Votos brancos e nulos formam quarta 'força política' na Espanha
Votos brancos e nulos formam quarta 'força política' na Espanha
Ainda é cedo para avaliar de quais formas o movimento 15-M impactou as eleições regionais e municipais na Espanha, realizadas neste domingo (22/05). No entanto, o alto número de votos brancos e nulos, combinado com uma participação 2,26% maior do que em 2007, indica um aumento do descontentamento com a classe política, conforme foi demonstrado ao longo da semana passada por meio das manifestações organizadas em Madri e ao redor do mundo.
Segundo dados do Ministério do Interior, os votos brancos e nulos superam em mais de 1% os resultados de eleições anteriores e seriam hoje a quarta opção mais votada, atrás do vitorioso PP (37,53%), do PSOE (27,79) e da Izquierda Unida (6,31%), mas à frente da Convergència i Unió (3,46%). Os votos em branco aumentaram 0,62% -- de 1,92% para 2,45% --, o mais alto do período democrático espanhol, e os nulos um pouco mais de meio ponto -- de 1,17% para 1,69%.
A quantidade de votos brancos e nulos foi particularmente expressiva na Catalunha, onde atingiu 5,82% do total de votos (170 mil votos) e mais dois pontos que há quatro anos. Foram registrados na Catalunha 120 mil votos em branco (4,1% do total) e 50 mil nulos (1,72% do total).
Na Espanha, os votos em branco não têm representação nos parlamentos ou autarquias, mas têm efeito na distribuição de mandatos, já que são contabilizados como votos válidos. Isso significa que 'encarecem' a porcentagem mínima que deve ser superada para conseguir mandatos, o que acaba prejudicando especialmente as formações minoritárias.
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Derrota do PSOE
Contudo, o maior vencedor das eleições espanholas foi o Partido Popular, que deve conquistar 11 das 13 autonomias que disputava. O partido fez uma primeira avaliação dos resultados qualificando-os como "uma grande vitória eleitoral", segundo a vice-secretária de Organização do PP, Ana Mato.
A capital espanhola voltou a ficar nas mãos dos conservadores. A cidade, que nos últimos dias acompanhou o acampamento dos "indignados" na Praça da Porta do Sol, apresentou alta abstenção: dos 4,4 milhões de espanhóis com direito a voto em Madri, somente 2,3 milhões foram às urnas. Desses, 40 mil votaram em branco e 61 mil nulo.
A porta-voz do Comitê Eleitoral do governista Partido Socialista, Elena Valenciano, atribuiu à crise econômica e seus efeitos sobre o estado de ânimo coletivo do país a perda do apoio eleitoral a seu partido. As eleições foram as primeiras em nível nacional desde o início da grave crise que afeta a Espanha desde 2008, onde o desemprego atinge 20 % da população ativa (40 % entre os jovens com menos de 25 anos).
A imprensa local também deu destaque ao resultado obtido pelo partido da ultra-direita xenófoba, Plataforma per Catalunya, que ganhou assentos em alguns dos municípios mais problemáticos em matéria de imigração, na área metropolitana de Barcelona.
No norte do país, com resultado para os separatistas. No País Basco, o Bildu, coligação de esquerda, tornou-se a segunda força em cidades como San Sebástian. Os resultados provisórios apontavam que o partido seria a segunda força do País Basco e o sétimo partido mais votado de toda a Espanha.
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Notas internacionais: eleições no Equador e no Peru - 12 de abril de 2021
Equador e Peru foram às urnas eleger seus novos presidentes, com resultados que surpreenderam
EQUADOR: No Equador, o candidato da direita, Guilherme Lasso, do movimento Criando Oportunidades (CREO), em aliança com o Partido Social Cristão (PSC), venceu o segundo turno das eleições presidenciais com 52,5% dos votos contra 47,50 de Arauz. Havia muita expectativa em torno da candidatura do economista Andrés Arauz, que pontuava na dianteira nas pesquisas durante quase todo o período de campanha do segundo turno que durou dois meses. Nos dias que antecederam o domingo eleitoral (11) as pesquisas já apontavam perda de fôlego de Arauz e subida de Lasso. De todo modo, as pesquisas de boca de urna davam vitória apertada para Arauz. A Cedatos chegou a dar 53,2% a 46,7%.
Lasso é um homem de 65 anos, historicamente vinculado ao setor financeiro, em especial ao Banco de Guayaquil, tendo sido ministro da economia do governo de Jamil Mahuad (1998-2000). Esta é a terceira vez que ele concorre à presidência do Equador (2013, 2017, 2021). Nas eleições anteriores ele ficou em segundo lugar. Um dos fatores que impactou muito no resultado eleitoral foi o fracionamento do movimento indígena. A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) decidiu em seu conselho ampliado, no dia 10 de março, pelo voto nulo. No entanto, uma parte das nacionalidades amazônicas divergiram e foram acompanhadas do presidente da Conaie, Jaime Vargas, na declaração de apoio a Arauz. Vargas chegou a dizer em um encontro no dia 3 de abril, em Sucumbíos, que “suas propostas (de Arauz) têm o respaldo absoluto do movimento indígena”. No dia 4 de abril veio a reação do conselho dirigente da Conaie ao dizer que ia “impulsionar o voto nulo” e que “não cai em jogo eleitoral”. A apuração está apontando para um milhão e seiscentos mil votos nulos. O universo de votantes é de 13 milhões. (Com infos de resumenlatinoamericano.org)
PERU: O domingo também foi de eleições no Peru. Uma eleição que era extremamente imprevisível, com 18 candidatos concorrendo, teve um resultado de primeiro turno surpreendente. O candidato Pedro Castillo, professor e sindicalista, do Partido Político Nacional Peru Livre, obteve a maior votação, com 16%. Seguido de três candidatos com pouco mais de 10%: Hernando de Soto (Avança País), Keiko Fujimori (Força Popular), Jonhy Lescano (Ação Popular) e Rafael López Aliaga (Renovação Popular). Veronika Mendoza (Juntos por Peru) pontua com 8,8%. Aquele que apontou por um tempo como primeiro colocado nas pesquisas, o jogador de futebol George Forsyth (Vitória Nacional) está com 6,4%. Esses ainda são dados preliminares da Ipsos Perú para a América Televisión.
Pedro Castillo tem 51 anos e ganhou notoriedade no país ao encabeçar uma prolongada greve nacional do magistério em 2017 e ao longo da campanha nunca pontuou entre os prováveis mais votados nas pesquisas. Uma de suas propostas é trocar a atual Constituição do país convocando uma Assembleia Constituinte. Ele se posicionou nas eleições contra o recorte de gênero no currículo escolar e disse que em um eventual governo seu não se legalizaria o aborto, o casamento homoafetivo e a eutanásia. Pautas polêmicas no país. Propõe ainda 10% do PIB para saúde e educação. As últimas pesquisas apontavam para uma liderança de Lescano. O segundo turno será em 6 de junho e o novo presidente assume em 28 de julho. Os peruanos também votaram ontem (11) para renovar o Congresso, que é unicameral e possui 130 cadeiras. A tendência é de que a votação para o parlamento tenha sido fragmentada e atomizada tal como a presidencial. O Peru vive uma crise institucional prolongada, sendo que dos dez presidentes que o país teve desde os anos 80, sete foram presos nos últimos anos envolvidos em escândalos de corrupção.