Após a divulgação nesta semana de uma lista com 22 nomes que atuaram
no governo de Alberto Fujimori (1990 – 2000) e que hoje compõem a
campanha presidencial de sua filha, Keiko, parte da opinião pública
peruana questiona se uma possível administração da ex-deputada não seria
parecida com a do pai – condenado a 25 anos de prisão por crimes contra
os direitos humanos. Para especialistas entrevistados pelo Opera Mundi
não restam dúvidas: se eleita, Keiko repetirá o modelo do chamado
“fujimorismo”, como ficou conhecido o período de governo de Fujimori.
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“Os que apoiavam Fujimori estão com Keiko. Ela própria afirma
isso. E são mais do que esses 22 nomes que foram entregues pelas
organizações”, afirmou Marcelo Coutinho, professor de Relações
Internacionais e Coordenador do LEAL (Laboratório de Estudos da América
Latina) na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Segundo o
especialista em países andinos, a possibilidade de um retorno do
“fujimorismo” é reforçado pela própria trajetória política da candidata
do Força 2011.
“Keiko sempre se posicionou como uma herdeira política do
‘fujimorismo’. Após ser eleita para o Congresso em 2006, ela chegou a
criar um projeto de lei que ampliava a pena de morte no Peru. Essa
questão da violação dos direitos humanos é uma ligação muito clara e uma
herança muito evidente”, completou.
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“Há também a questão da desigualdade social, que vem se
aprofundado cada vez mais no Peru, e o combate à criminalidade. Fujimori
tomou iniciativas que seriam completamente absurdas nos dias atuais e
que vão contra todas as ideias de direitos humanos. Ele executava
criminosos e esterilizava mulheres pobres”, afirmou Ricardo Luigi,
Mestre em Geografia e vice-diretor do Cenegri (Centros de Estudos em
Geopolítica e Relações Internacionais).
Pesquisas
Apesar da ligação com o pai e do medo de parte da população com
uma volta do regime dos anos 1990, Keiko lidera a maioria das pesquisas
de intenções de voto. O IOP (Instituto de Opinião Pública) da Pontifícia
Universidad Católica dá a Fujimori 44,2% dos votos frente a 43,7% para o
nacionalista Ollanta Humala, enquanto os votos brancos e nulos somam
12,1%. Humala finalizou o primeiro turno em primeiro, com 31,7% e Keiko
em segundo, com 23,6%.
Para o historiador Osvaldo Coggiola, autor do livro América
Latina: Encruzilhada da História Contemporânea, a rejeição ao
“fujimorismo” não é tão forte entre os mais jovens. “Para as novas
gerações, a associação entre Keiko e o pai não significa grande coisa. O
assunto é antigo”.
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Quando questionado sobre uma possível volta do “fujimorismo” com a
eleição de Keiko, Coggiola foi enfático: “Claro que sim. As práticas,
certamente, voltariam. Seria um “fujimorismo” sem o Fujimori”,
completou.
No último debate antes das eleições, realizado no domingo (29/05),
Humala insistiu que eleger Keiko seria como votar em Fujimori. A
candidata, no entanto, afirmou que tomará as próprias decisões, sem
influência do pai.
Popularidade
Segundo Luigi, uma das explicações para a pouca diferença entre os
candidatos é a questão econômica. “Keiko tem força entre as camadas
mais populares porque o pai era conhecido pelo assistencialismo. E, por
incrível que pareça, Keiko consegue angariar votos nas camadas mais
populares por conta da expectativa de que ela irá reintroduzir as
políticas assistencialistas feitas nos 10 anos de Fujimori”, explicou.
Além disso, é grande o receio entre os mais conservadores que
Humala impeça o crescimento do país. “Em Lima, por exemplo, a maioria
ainda se inclina por Keiko, apesar do passado do pai, pelo receio de que
o progresso econômico seja interrompido com Humala”, disse Coutinho.
Durante a campanha, Keiko foi acusada pela oposição de distribuir
alimentos e eletrodomésticos em troca de votos nas regiões mais pobres
da área urbana de Lima. O pai fez a mesma coisa em suas campanhas
presidenciais.
Apesar da ligeira vantagem de Keiko sobre Humala nas pesquisas,
Coutinho acha que é impossível apontar um vencedor antecipadamente. “As
pesquisas no Peru nas duas últimas eleições erraram muito. Há uma
dificuldade muito grande em avaliar os eleitores, principalmente no
interior do país. Humala pode surpreender, porque todas as outras
pesquisas nas eleições anteriores sub-representaram o voto no centro e
no sul, onde ele é mais forte”, concluiu.
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