Apesar de 80% da população ter origem indígena, a questão dos povos originários no Peru ainda é pouco debatida em campanhas eleitorais. Os candidatos no segundo turno das eleições presidenciais deste ano, Keiko Fujimori, da aliança Força 2011 e Ollanta Humala, da Ganha Peru, abordaram de formas diferentes as necessidades dessa grande fatia da sociedade.
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O programa de Keiko não toca ao longo de suas 48 páginas no tema dos povos indígenas. Sequer a palavra “indígena”consta no
texto. O secretário de comunicação da Confederação de Nacionalidades
Amazônicas do Peru (CONAP), Jose Hipolito TamaniIhuaraqui, lamenta o
fato. “É um plano muito curto e não há menções aos temas indígenas, nem
nos comícios ela fala dos indígenas”, disse ao Opera Mundi.
Efe (01/06/2011)
Ollanta Humala veste traje tradicional indígena em Cusco durante comício
Outro fator negativo está na presença do economista Hernando de Soto na
campanha da ex-deputada. Soto esteve no governo Fujimori e foi autor da
chamada “Doutrina Fujimori”, sobre a política anti-drogas.
“Soto crê que
uma das formas para que os indígenas andino-amazônicos saiam da pobreza
e entrem na ‘modernidade’ é aceitando a titulação de suas terras e
territórios comunais individualmente. Todas as organizações indígenas
rechaçaram a proposta, assinalando que ela deixaria as terras totalmente
vulneráveis à privatização, e, consequentemente, ao desaparecimento de
sua cultura. Um etnocídio disfarçado” criticou o escritor e pesquisador
da Amazônia, Roger Rumrill.
Por sua vez, Humala prega um novo Estado, com o reconhecimento dos povos
indígenas, sua cultura, língua e tradição.O texto fala em “reparação
histórica” para a construção de uma comunidade nacional de pessoas
livres e iguais, que se reconheçam como herdeiros não só da civilização
hispano-ocidental, mas também da civilização inca, que culminou com uma
cultura própria, mestiça, andino-amazônica, com identidade própria.
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“Consideramos que as propostas de Humala são claras para os indígenas, a
respeito da livre determinação sobre nossos territórios ancestrais e
quanto ao cumprimento do Convênio 169 da OIT, onde o Estado peruano é
signatário e que deveria aplicá-lo como qualquer país do mundo, coisa
que ainda não o fez”, afirmou o presidente da Associação Interétnica de
Desenvolvimento da Selva Peruana (AIDESEP), Alberto Pizango.
Mesmo assim, representantes de entidades indígenas acreditam que o
debate foi insuficiente. Agurto lembra que o “Baguazo” não foi sequer
mencionado na campanha. O episódio em 2008, uma brutal repressão à
rebelião de indígenas que defendiam seus direitos territoriais no Norte
amazônico, provocou a morte de 34 pessoas. “Isso demonstra que não há
uma política definida para o desenvolvimento dos povos indígenas”,
acrescentou o dirigente da CONAP, Jose Ihuaraqui.
Os especialistas concordam que o próximo governo precisa diminuir o
abismo social existente na sociedade peruana. E, além disso, reconhecer
os povos indígenas. “Acreditamos que a verdadeira reconciliação virá com
um país pluricultural, de respeito mútuo, que compartilhe o passado, o
presente e o futuro”, afirmou Pizango.
“O Peru é uma nação pluricultural e com múltiplas e ricas identidades.
Porém, o Estado, de origem colonial, é monocultural. Fechar essa fratura
implica em profundas transformações. O impulso depende fundamentalmente
de processos de mudança que impulsem e dinamizem os próprios atores
sociais. Nesse sentido, uma das demandas dos povos andino-amazônicos é a
construção de uma nação pluricultural e a refundação do Estado-Nação”,
completou Rumrill.
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