Neste domingo (05/06) os peruanos vão às urnas para definir o segundo turno das eleições presidenciais. Desta vez, porém, a corrida tornou-se a mais acirrada e polarizada da história democrática recente do país.
Com Ollanta Humala e Keiko Fujimori disputando o cargo mais importante do país, os principais institutos de pesquisa peruanos afirmam que o vencedor deve obter uma vantagem máxima de dois pontos percentuais.
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De acordo com os dados, os dois candidatos estão tecnicamente empatados. Pelas últimas pesquisas de opinião, divulgadas na sexta feira (03/05) pelo jornal La Republica, Humala teve 43,8% enquanto Keiko obteve 42,5%. O jornal El Comercio, em outra sondagem, mostrou que Keiko teve 43,5% e Humala 42,6%.
No Brasil, esse impasse não é diferente: a preferência entre os dois candidatos está bastante dividida. O Opera Mundi ouviu peruanos que vivem em São Paulo e constatou que as divergências sobre as impressões dos eleitores a respeito de Keiko e Humala não se limitam aos que acompanham as campanhas in loco.
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Enquanto alguns optam por Keiko por acreditarem que ela vai assegurar o crescimento econômico, outros preferem Humala pelo destaque que as propostas sociais ganharam em seu plano de governo. A relação entre Keiko e Alberto Fujimori, porém, é um dos aspectos que mais influem na escolha entre os candidatos para os cidadãos peruanos que vivem no Brasil.
“Keiko está apoiada por um grupo de pessoas que governou com seu pai e que gostaria de voltar ao poder. Eles têm mostrado que, para eles, governar é impor, é demonstrar que eles têm o poder, que eles são a autoridade. Esta forma de governar é autoritária e não reflete uma ideia democrática.
Talvez isso ocorra em menor proporção do que ocorreu no governo de seu pai, mas no fim das contas, também será autoritária”, disse Carmen Watson, diretora da Inti, ONG de defesa dos direitos dos imigrantes.
A dona da agência de viagens I-deia, Rocio Kitsutani, porém, discorda de Carmen e acredita que as campanhas contra Keiko são difamatórias, já que as acusações sobre violações de direitos humanos não dizem respeito a ela. “Keiko é autêntica, não é seu pai, nem [Vladimiro] Montesinos, nem nenhuma outra pessoa. Cada um tem seu próprio caminho e não devemos comparar ou taxá-la por ser filha de Alberto Fujimori”, argumentou.
Myriam Figueroa, Presidente da Associação das Damas Peruanas de São Paulo, por sua vez, lembra que a questão com o passado de Keiko vai além do sobrenome.
“A vida política de Keiko me leva a relembrar o desempenho vergonhoso dela como congressista: teve 500 faltas às sessões parlamentares, usou 223 dias para viagens; das 42 sessões da Comissão de Economia do Congresso, participou só de sete e recebeu durante os anos de congressista mais de 350 mil dólares de salários pagos pelo povo”, argumentou.
Humala, porém, segundo Figueroa, também tem um passado “comprometedor”. “Pesa o fato dele ter formação militar, de ter recebido apoio de Hugo Chávez, da Venezuela, e simpatizar com o regime cubano. Além disso, Humala não tem um histórico de vida política, então acaba sendo criticado por dizer e não por fazer”.
Diferenças
Para Figueroa, a diferença entre eles, em termos de histórico, é que Keiko não conseguirá se desvencilhar da imagem do pai. “Humala é uma criação nova, enquanto Keiko será sempre a filha de Fujimori e não poderá negar que o pai foi o condutor de um governo nefasto. Ela foi parte dos governos do pai e a grande maioria da equipe que agora a acompanha foi também culpada de tanta barbárie”, explicou.
Já para o estudante de economia Rubén Rodriguez, a filha de Alberto Fujimori representa muito mais do que os erros do pai. Ele concorda com Rocio de que seria uma injustiça condená-la pelos erros que não foi ela que cometeu.
“Queremos que o Peru cresça e se desenvolva. E Keiko é quem melhor pode proporcionar isso. Não é à toa que importantes figuras da economia peruana, como os economistas Pedro Pablo Kuczynski e Hernando de Soto estão do lado dela. Além deles, os ex-ministros Mercedes Aráoz e Alfredo Ferrero também declararam apoio à coligação Força 2011”, justificou.
Entretanto, Carmen Watson, lembrou que, apesar do aumento dos índices de crescimento econômico do Peru, os índices sociais também vêm aumentando negativamente, o que torna o país um dos mais desiguais da América Latina.
“É claro que queremos que o Peru continue crescendo economicamente, mas é preciso melhorar a distribuição de renda”, alertou. “Gostaria que Humala tivesse a oportunidade de governar, ele tem uma proposta progressista e nacionalista e já conseguiu o apoio de pessoas e organizações sociais que acreditam na possibilidade dele fazer algo para que o Peru melhore qualitativamente”, acrescentou a diretora da Inti.
Entre as principais bandeiras de Humala, destacam-se propostas sociais para melhorar as condições de idosos, mães trabalhadoras e estudantes, além das que tinham como tema a educação e o combater ao crime.
Os passados, propostas, promessas e aliados de cada um dos candidatos, porém, não pesaram o suficiente para que os peruanos decidissem com folga – e talvez certeza – quem será o melhor representante para o país.
O consenso entre os peruanos é apenas em relação a necessidade de lutar pela democracia. Fujimoristas e apoiadores de Humala concordam: é necessário exigir do próximo governo, seja qual for, uma continuidade no crescimento e uma sociedade mais justa, bem como o respeito aos direitos humanos e ao processo eleitoral.
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