O movimento que ocupou durante 25 dias a Praça do Sol, em Madri, levou neste domingo (19/06) ao menos 38 mil pessoas às ruas na cidade – em Barcelona foram pelo menos 20 mil, segundo a polícia. Em outras capitais europeias – como Lisboa, Bruxelas e Paris – centenas ecoaram o protesto contra a classe política e econômica nos países da zona do euro.
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Os números indicam um crescimento dos “indignados”, como são chamados. O protesto do último dia 15 de maio, que deu início ao acampamento madrilenho, reuniu 20 mil pessoas na cidade, segundo o jornal espanhol El País. “Está crescendo e acho que vai continuar”, disse ao Opera Mundi a consultora de web Maria, de 37 anos, que participou da manifestação em Madri neste domingo.
Vitor Sorano
Cerca de 150 pessoas participaram da manifestação pelas ruas de Lisboa
Uma proposta para uma greve geral é pensada agora como o próximo passo. “Está sendo discutido, mas nenhuma decisão foi tomada ainda”, afirmou Maria. Os debates devem ocorrer, segundo ela, em assembleias distritais que o movimento quer promover.
Sem uma estrutura formal central, e baseados em redes sociais como o Facebook, os protestos dos “indignados” europeus têm bandeiras variadas. O principal ponto em comum é a acusação de que o atual sistema político “não nos representa”- como gritaram na Espanha. O lema “Democracia Verdadeira, Já” foi utilizado por grupos que promoveram protestos neste domingo também em outros países.
“É mais fácil dizer o que não é a verdadeira, que é essa. A pessoa vota e os eleitos fazem o contrário e não podem ser destituídos”, afirmou o carioca Otávio Raposo, de 32 anos, um dos cerca de 150 que participaram do protesto em Lisboa. O grupo desceu a Avenida da Liberdade até o Rossio – mesmo caminho feito pelo protesto conhecido como Geração Enrascada e que reuniu cerca de 200 mil pessoas em março, no que é considerada a maior manifestação desde a Revolução dos Cravos, em 1974.
Outro ponto em comum é o calote dos países. “A dívida não é nossa”, gritavam em Paris, de acordo com o jornal Libération, cerca de 450 pessoas que se reuniram junto ao Hotel de Villê, onde fica a prefeitura da cidade. Parte dos manifestantes – o jornal El País fala em uma centena – foi detida por tentar continuar o protesto para além do que estava permitido.
Grupo equivalente caminhou até a Praça de Luxemburgo – sede do Parlamento Europeu em Bruxelas, segundo o jornal belga l'Avenir. Houve confronto com a polícia, que jogou gás lacrimogêneo e foi alvo de arremesso de objetos.
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Depois de críticas em razão da violência – na última quarta-feira (15/06), manifestantes cercaram o Parlamento catalão e houve confronto com a polícia – não houve ocorrências em Madri, segundo o El País. Em Barcelona, segundo o La Vanguardia, apenas uma. Na cidade, 20 mil pessoas foram às ruas, segundo o jornal, e 98 mil segundo o El País. Em Lisboa não houve ocorrências, informou a Polícia de Segurança Pública.
Plataformas do movimento Democracia Verdadeira, Já na Espanha afirmam que houve protestos em 98 cidades. As manifestações ocorrem a uma semana do Conselho Europeu, do qual participam os chefes dos 27 países da UE (União Europeia). Na pauta do evento está um controle mais integrado da política econômica dos Estados-Membros. A Alemanha, por exemplo, propõe que as idades mínimas de aposentadoria convirjam – o que pode levar à elevação do limite em países como Portugal.
Desemprego e austeridade
A Espanha tem a maior taxa de desemprego dos 17 países do Euro. Portugal tem a quarta – os dados da Grécia não foram divulgados. Entre as pessoas com menos de 25 anos, quatro em cada 10 espanhóis e dois em cada 10 portugueses estão desempregados. Além disso, nos dois países a proporção de empregos temporários, considerado precários, atinge entre os jovens 58,6% e 57,3%, respectivamente.
“Consegui trabalho há uma semana”, disse o catalão Victor Rovira, 27 anos, que acompanhava o protesto em Lisboa. “Gostaria muito de estar em Barcelona, então vim fazer aqui o que não podia fazer em casa”. Com mestrado em gestão de patrimônio cultural, está dando aulas de castelhano em uma escola de línguas, sem contrato.
Vitor Sorano
As manifestações tiveram forte presença dos jovens nas ruas europeias
“Os investimentos em educação não estão se traduzindo em oportunidades de trabalho. O jovem não consegue encontrar um emprego minimamente qualificado e bem pago. Há uma sobrequalificação”, afirmou o sociólogo Elísio Estanque, pesquisador da Universidade de Coimbra, que estima em 50 mil os licenciados desempregados.
Para Estanque, a existência dessa camada de jovens qualificados, mas sem trabalho é um dos fatores que explica o surgimento dos movimentos atuais na forma como acontecem, sem ligação com partidos políticos e sindicatos ou organização formal. Outra questão é o distanciamento dessas instituições da realidade desse público.
“As estruturas tradicionais não estão sabendo dar saída”, disse o sociólogo. “Os partidos políticos se burocratizaram. A democracia representativa não tem permitido a democracia participativa. Os sindicatos também se burocratizaram e não têm dado resposta aos precários”, concluiu.
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