Propaganda brasileira premiada em Cannes é acusada de promover pedofilia; agência nega
Propaganda brasileira premiada em Cannes é acusada de promover pedofilia; agência nega
Dois anúncios da representante brasileira da fabricante de carros sul-coreana Kia geraram controvérsia após conquistarem o Leão de Prata no festival internacional de Cannes, voltado ao mercado publicitário. Tudo porque o conteúdo das propagandas foi considerado pedófilo por alguns profissionais do ramo e veículos de comunicação estrangeiros.
Produzido pela agência brasileira Moma, os anúncios (clique em um deles na imagem abaixo) trazem histórias em quadrinhos criadas para apresentar um novo dispositivo. "O conceito da campanha é o de enfatizar o principal atributo do ar condicionado Dual Zone, que oferece temperaturas diferentes dentro do mesmo veículo", conforme explicou a Moma ao Opera Mundi.
Divulgação
Trecho da propaganda criada pela agência Moma (clique para vê-la completa)
Em uma das peças, há um diálogo entre um professor e uma aluna, aparentemente cursando o ensino fundamental. "Professor, obrigada por ficar até mais tarde comigo hoje", diz a garota. Já no lado esquerdo do anúncio impresso, a menina dá lugar a uma garota mais velha e atraente e o professor, folgando a gravata, responde: "Que isso...é um prazer". Após a garotinha oferecer uma maçã, o professor, no lado direito da página, morde a fruta exclamando "hmmm...que delícia...como é suculenta". A propaganda termina com o professor, do lado esquerdo, sugerindo que comecem a lição, enquanto do lado direito a mulher diz "que tal...anatomia?".
Na outra peça, o diálogo acontece no universo do célebre conto de fadas "Bela Adormecida". Clique aqui para ver a versão em inglês do anúncio.
Leia mais:
'A Árvore da vida' leva a Palma de Ouro em Cannes
Lars Von Trier classifica sua declaração sobre Hitler como uma estupidez
Ensaio fotográfico crítico à pedofilia exibe crianças nuas e causa polêmica na Colômbia
EUA, Espanha e México são os principais consumidores de pornografia infantil, diz relatório
O blog especializado em propaganda Copyranter classificou a propaganda da Kia Motors do Brasil de "suja" e lamentou que os publicitários tenham recorrido a este tipo de conteúdo para anunciar o produto. "O que você espera quando virtualmente 100% do júri é formado por homens", comentou o autor do site em referência ao Leão de Prata conquistado. Já o site norte-americano The Huffington Post criou uma enquete para que os leitores opinem se a propaganda da Kia tem conteúdo pedófilo ou não. Até o momento, mais de 67% dos votantes a consideram "nojenta".
O site Automotive News trouxe declarações da KMA (Kia Motors America), que condenou o anúncio: "Estamos fazendo o possível para informar o consumidor e a mídia que não foi a Kia Motors America que aprovou o anúncio e que, da mesma forma que os consumidores americanos, consideramos as peças totalmente ofensivas e inapropriadas", afirmou Michael Sprague, vice-presidente de Marketing e Comunicação da KMA.
A mensagem da propaganda, de acordo com a Moma, "foi dramatizada em cartoon, para a mídia impressa, mostrando justamente estes opostos, de quente e frio. São duas histórias independentes, diferentes, sobre situações parecidas". De acordo com a agência de publicidade, sediada em São Paulo, "a independência das histórias é reforçada pelo recorte do anúncio e os traços dos cartoons, visivelmente distintos."
A Moma lamentou a polêmica levantada em torno das peças – avaliadas por 32 pessoas de diversas nacionalidades em Cannes e que "não levantaram qualquer polêmica” no momento da avaliação. “Jamais houve a intenção de gerar questionamentos envolvendo um assunto tão importante e sério como este. A Moma também lamenta por ter colocado seu cliente Kia no centro desta discussão e assume total responsabilidade pela campanha."
Siga o Opera Mundi no Twitter
Conheça nossa página no Facebook
Notas internacionais: eleições no Equador e no Peru - 12 de abril de 2021
Equador e Peru foram às urnas eleger seus novos presidentes, com resultados que surpreenderam
EQUADOR: No Equador, o candidato da direita, Guilherme Lasso, do movimento Criando Oportunidades (CREO), em aliança com o Partido Social Cristão (PSC), venceu o segundo turno das eleições presidenciais com 52,5% dos votos contra 47,50 de Arauz. Havia muita expectativa em torno da candidatura do economista Andrés Arauz, que pontuava na dianteira nas pesquisas durante quase todo o período de campanha do segundo turno que durou dois meses. Nos dias que antecederam o domingo eleitoral (11) as pesquisas já apontavam perda de fôlego de Arauz e subida de Lasso. De todo modo, as pesquisas de boca de urna davam vitória apertada para Arauz. A Cedatos chegou a dar 53,2% a 46,7%.
Lasso é um homem de 65 anos, historicamente vinculado ao setor financeiro, em especial ao Banco de Guayaquil, tendo sido ministro da economia do governo de Jamil Mahuad (1998-2000). Esta é a terceira vez que ele concorre à presidência do Equador (2013, 2017, 2021). Nas eleições anteriores ele ficou em segundo lugar. Um dos fatores que impactou muito no resultado eleitoral foi o fracionamento do movimento indígena. A Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE) decidiu em seu conselho ampliado, no dia 10 de março, pelo voto nulo. No entanto, uma parte das nacionalidades amazônicas divergiram e foram acompanhadas do presidente da Conaie, Jaime Vargas, na declaração de apoio a Arauz. Vargas chegou a dizer em um encontro no dia 3 de abril, em Sucumbíos, que “suas propostas (de Arauz) têm o respaldo absoluto do movimento indígena”. No dia 4 de abril veio a reação do conselho dirigente da Conaie ao dizer que ia “impulsionar o voto nulo” e que “não cai em jogo eleitoral”. A apuração está apontando para um milhão e seiscentos mil votos nulos. O universo de votantes é de 13 milhões. (Com infos de resumenlatinoamericano.org)
PERU: O domingo também foi de eleições no Peru. Uma eleição que era extremamente imprevisível, com 18 candidatos concorrendo, teve um resultado de primeiro turno surpreendente. O candidato Pedro Castillo, professor e sindicalista, do Partido Político Nacional Peru Livre, obteve a maior votação, com 16%. Seguido de três candidatos com pouco mais de 10%: Hernando de Soto (Avança País), Keiko Fujimori (Força Popular), Jonhy Lescano (Ação Popular) e Rafael López Aliaga (Renovação Popular). Veronika Mendoza (Juntos por Peru) pontua com 8,8%. Aquele que apontou por um tempo como primeiro colocado nas pesquisas, o jogador de futebol George Forsyth (Vitória Nacional) está com 6,4%. Esses ainda são dados preliminares da Ipsos Perú para a América Televisión.
Pedro Castillo tem 51 anos e ganhou notoriedade no país ao encabeçar uma prolongada greve nacional do magistério em 2017 e ao longo da campanha nunca pontuou entre os prováveis mais votados nas pesquisas. Uma de suas propostas é trocar a atual Constituição do país convocando uma Assembleia Constituinte. Ele se posicionou nas eleições contra o recorte de gênero no currículo escolar e disse que em um eventual governo seu não se legalizaria o aborto, o casamento homoafetivo e a eutanásia. Pautas polêmicas no país. Propõe ainda 10% do PIB para saúde e educação. As últimas pesquisas apontavam para uma liderança de Lescano. O segundo turno será em 6 de junho e o novo presidente assume em 28 de julho. Os peruanos também votaram ontem (11) para renovar o Congresso, que é unicameral e possui 130 cadeiras. A tendência é de que a votação para o parlamento tenha sido fragmentada e atomizada tal como a presidencial. O Peru vive uma crise institucional prolongada, sendo que dos dez presidentes que o país teve desde os anos 80, sete foram presos nos últimos anos envolvidos em escândalos de corrupção.