Oficiais brasileiros não confiam nas autoridades paraguaias na hora de repassar dados sigilosos sobre o combate à criminalidade na Tríplice Fronteira. É o que informa uma mensagem da embaixada norte-americana vazada pelo Wikileaks, datada de junho de2005. “O Brasil já compartilhou informações com o Paraguai em alguns casos, e as informações foram comprometidas”, diz um documento confidencial da Embaixada dos Estados Unidos em Assunção.
O texto foi escrito por diplomatas norte-americanos após uma reunião com conselheiros políticos da Embaixada do Brasil no Paraguai.
A conversa girou em torno dos esforços que Brasil e Estados Unidos dedicavam, até então, ao combate às atividades criminosas transnacionais, comum na região fronteiriça entre Brasil, Paraguai e Argentina.
Segundo a Embaixada, “o Brasil continua empenhado no combate ao contrabando na fronteira, mas não enxerga muitas evidências de que o Paraguai compartilha o mesmo compromisso”.
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De acordo com o documento, tal avaliação serviu de base para que os diplomatas de Brasil e Estados Unidos concordassem em somar esforços no terreno diplomático para pressionar o governo paraguaio, então comandado pelo presidente Nicanor Duarte Frutos, a intensificar o combate ao crime.
Tríplice Fronteira
A Tríplice Fronteira é famosa por abrigar atividades de contrabando de armas, tráfico de drogas, pirataria, falsificação e lavagem de dinheiro. Para os Estados Unidos, porém, a região guarda uma característica ainda mais preocupante – e controversa.
Washington acredita que alguns membros da numerosa comunidade árabe que vive nas cidades fronteiriças fazem parte de uma rede internacional utilizada para financiar o terrorismo no Oriente Médio.
Por isso, na esteira dos ataques de 11 de Setembro de 2001, o governo George W. Bush ativou um mecanismo chamado Diálogo 3+1 sobre Contra-Terrorismo, que consiste em encontros periódicos entre os Estados Unidos, Brasil, Paraguai e Argentina para discutir a segurança e o controle das movimentações financeiras na Tríplice Fronteira.
Conforme costumam fazer em reuniões diplomáticas, no encontro que mantiveram em 2005, os diplomatas brasileiros negaram que a Tríplice Fronteira seja uma região dedicada ao financiamento do terrorismo, e condenaram as acusações dos Estados Unidos.
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Para o Brasil, ou Washington compartilha informações e evidências de que existe atividade terrorista na Tríplice Fronteira, ou deixa de denunciá-las publicamente.
Entretanto, os conselheiros políticos da Embaixada brasileira em Assunção disseram que o Brasil também se preocupa com os atos ilícitos que ocorrem na Tríplice Fronteira – e requisitaram maior colaboração de Washington para combatê-las.
“O Brasil possui conhecimento mais profundo sobre a região e as pessoas envolvidas, mas os Estados Unidos possuem informação própria e expertise para oferecer.”
Pressão conjunta
Os diplomatas brasileiros também ofereceram ajuda aos Estados Unidos para pressionar o Paraguai a aprovar uma lei contra a lavagem de dinheiro enviada ao Congresso em maio de 2004, ou seja, 16 meses antes da reunião.
Isso porque o Paraguai não havia cumprido com algumas promessas feitas a funcionários da Embaixada dos Estados Unidos em dezembro de 2004. Na ocasião, membros do governo teriam garantido que o congresso aprovaria a lei contra lavagem de dinheiro em alguns meses e que, em seguida, Frutos iria propor outro projeto de lei versando sobre terrorismo.
“Dez meses depois, o Paraguai não tinha feito nada disso, apesar da pressão internacional. O diplomata brasileiro entendeu a frustração dos Estados Unidos com o Paraguai e disse que o Brasil está aberto para fazer mais pressão sobre o país, tanto através do Comitê das Nações Unidas sobre Contra-Terrorismo como do Diálogo 3+1 sobre contra-terrorismo”.
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