Os vazamentos promovidos pelo Wikileaks atendem à necessidade e ao direito da sociedade de saber o que seus países fazem no âmbito da diplomacia. Porém, o impacto dessas revelações ainda é incerto, conforme analisaram em debate promovido nesta quarta-feira (06/07) pela Folha de S. Paulo entre o embaixador Roberto Abdenur e Maristela Basso, professora de direito internacional.
Antes do início do debate, o jornalista Fernando Rodrigues apresentou trechos selecionados do vídeo “Collateral Murder”, divulgado pelo Wikileaks em abril de 2010, no qual dois funcionários da agência de notícias Reuters foram mortos em uma operação militar norte-americana no Iraque.
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Maristela afirmou que acontecimentos como os apresentados no vídeo são comuns e que outros fatos tão graves como estes estão acontecendo em outras partes do mundo, inclusive com a intervenção militar estrangeira na Líbia.
Para o embaixador, apesar do interesse público dos documentos publicados, o funcionamento das embaixadas não deve sofrer alterações.”O Wikileaks é um fenômeno de extrema importância, mas não vai mudar a forma como acontece a diplomacia entre os países e nem mesmo a política externa dos Estados Unidos”.
Para Abdenur, os norte-americanos se julgam “indispensáveis” e devido ao poder que possuem, não vão mudar a sua política externa e a postura em relação aos outros países por causa das publicações.
Já Maristela apontou que a médio e longo prazo, os efeitos causados pelos vazamentos devem sim gerar mudanças na forma como os diplomatas atuam. Ela também disse acreditar que a atuação da organização, liderada pelo australiano Julian Assange, serve como inspiração para outras pessoas colaborem para que as instituições públicas sejam fiscalizadas.
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“Nós temos os direito de saber o que ocorre dentro dos governos. É válido questionar se os pactos e os procedimentos que os diplomatas tomam em privado, seriam os mesmos se eles soubessem que outras pessoas iriam ver”, analisou a professora.
Diplomatas despreparados
Maristela afirmou que o que mais a impressionou no Wikileaks, entre os diversos fatos revelados, foi o despreparo, deboche e a falta de decoro das mensagens. “Alguns documentos evidenciam uma nítida irresponsabilidade”, disse.
Abdenur concorda com a professora e explica que isso acontece nos EUA porque, diferente do Brasil que exige a necessidade de aprovação em concursos, vários cargos de médio e baixo escalão da diplomacia norte-americana são preenchidas por indicações políticas. “Vários técnicos e diplomatas recebem a indicação por proximidade política ou por influência que possuem no governo”, comentou o diplomata.
*colaboração Thiago Teixeira
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