Pouco antes de decretar a nacionalização dos hidrocarbonetos bolivianos, em 1º de maio de 2006, o presidente Evo Morales convidou o então governador de São Paulo, Cláudio Lembo, para uma visita oficial a La Paz. Lembo, que atualmente comanda a Secretaria de Negócios Jurídicos do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, teria se preparando para aceitar a gentileza de Morales, mas pensou duas vezes após ler as notícias sobre a estatização e tomar conhecimento das consequências que um fictício corte no suprimento de gás teria sobre a economia paulista.
Ainda assim, teria cogitado fazer uma visita de apenas 24 horas à Bolívia no dia 26 de maio para, “prejudicar” a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na época, o petista concorria à reeleição contra Geraldo Alckmin, predecessor e aliado de Cláudio Lembo no governo de São Paulo. “Ele está tentado a ir para a Bolívia apenas porque, como tem ideias
conservadoras, pode semear a confusão entre esquerdistas e populistas e,
assim, complicar a candidatura de Lula”, diz o documento.
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A história é contada por um funcionário do Consulado dos Estados Unidos em despacho enviado a Washington no dia 11 de maio de 2006, apenas mais um entre as dezenas de comunicados produzidos pela diplomacia norte-americana sobre o reação dos brasileiros à nacionalização dos hidrocarbonetos bolivianos.
Segundo o documento, o convite oficial de Morales veio em agradecimento a vários “pequenos favores” prestados por Lembo à comunidade boliviana em São Paulo. “Isso inclui ter arranjado um transplante de rim para uma criança boliviana e ter trabalhado junto à Prefeitura para abrir uma praça onde imigrantes pudessem realizar feiras de rua e outros eventos.”
“Retalho de política externa”
No documento, o ex-cônsul-geral dos EUA em São Paulo Christopher J. McMullen frisa: o ex-governador foi presidente da Arena, partido que apoiou o regime militar durante a ditadura. “Lembo reconhece, porém, que é improvável que esse retalho de política externa afete o desempenho de Lula nas pesquisas.”
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Os diplomatas norte-americanos aproveitaram para perguntar o que Lembo pensava sobre a nacionalização do gás na Bolívia. Ele afirmou que a medida de Morales não teria qualquer impacto sobre as eleições brasileiras, seja a estadual ou nacional. E continuou, dizendo acreditar que o governo nacionalizou os hidrocarbonetos apenas para “aplacar” a comunidade indígena boliviana.
Economicamente falando, os funcionários do consulado também não notaram grandes preocupações no governador. “Lembo pensa que, embora São Paulo dependa bastante do gás boliviano, um corte no fornecimento acarretaria em 'sério, mas não dramático' impacto para o Estado, que também tem acesso à energia hidrelétrica.”
Procurado pela Agência Pública, Lembo não quis se pronunciar.
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