O governo da República Democrática do Congo (RDC) deu início à expulsão de todos os cidadãos de Angola que residem no país, tanto legal como ilegalmente. A medida das autoridades de Kinshasa é uma retaliação a Angola, que mandou de volta a RDC milhares de congoleses ilegais, principalmente os que trabalhavam em zonas diamantíferas. Alguns dos congoleses, de acordo com o governo angolano, podem estar envolvidos em redes de tráfico de pedras preciosas.
Os dois governos estão em contato para tentar encontrar uma solução para a crise, que tem origem em deportações forçadas iniciadas por Angola em 2004, um processo que foi acelerado no início deste ano, não só nas províncias diamantíferas (principalmente as de Lundas, Bié, Huambo), como nos centros urbanos.
Segundo números do governo angolano, a medida da RDC atinge, pelo menos, 13 mil angolanos, muitos dos quais vivem há vários anos naquele país.
As autoridades angolanas disseram que não irão retaliar, mas prosseguirão com a expulsão dos ilegais da RDC. Número da agência oficial Angop indicavam que foram deportados 929 cidadãos congoleses só na primeira semana de outubro. Segundo um representante da ONU (Organização das Nações Unidas) para as questões humanitárias, mais de 16 mil congoleses foram expulsos nos últimos dois meses – a entidade também pede que o governo angolano trate com humanidade os congoleses, que muitas vezes sofrem violência. Já a agência Lusa indicava ontem que, desde 2004, mais de cem mil naturais da RDC foram forçados a sair de Angola.
O chefe do estado-maior general das Forças Armadas angolanas, general Francisco Furtado, garantiu que “apenas aqueles que entram no país ilegalmente, com o objetivo de causar prejuízos à economia angolana e à segurança nacional” continuarão a ser expulsos.
Tensão cresce
A crise entre os países já pode ser vista entre as duas populações. Cidadãos angolanos da etnia bakongo estão sendo agredidos por seus conterrâneos, que os confundem com congoleses da RDC, cujas características físicas são idênticas, informou a agência Lusa.
Uma fonte da polícia disse ter sido informado de “algumas situações de desordem” registradas entre estas quinta e sexta-feira em algumas áreas da periferia da capital angolana. Os relatos indicam que cidadãos foram agredidos e tiveram alguns seus pertences furtados na confusão.
Em entrevista à Lusa, Elisa Landu, natural do município do NZeto, pediu às autoridades que encontrem formas de resolver a situação “de forma pacífica e com calma”.
“Minha mãe vive na RDC desde os anos 1960, na província de Matadi, e já recebemos a informação de que ela vai regressar, só não sabemos quando e estamos à espera”, lamentou.
Os bakongo ocupam o noroeste do país, entre o mar e o rio Cuango, nas províncias de Cabinda, Zaire e Uíge. No final do século 15, os bakongo entraram em contato com os portugueses, que tornaram este reino um aliado na expansão africana e no comércio com o interior. Para reforçarem o poder do soberano, ele foi convertido ao catolicismo, enquanto a aristocracia recebeu títulos de nobreza semelhantes aos europeus.
Mais tarde, os portugueses se estabeleceram em Angola, que foi ganhando uma importância progressiva. O reino do Congo perdeu força e interesse e, com o passar do tempo, foram desaparecendo a cultura e a influência cristãs.
Angola e RDC compartilham uma fronteira terrestre de mais de 2 mil quilômetros e, por isso, as características físicas e culturais desses povos não são muito diferentes.
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