Pelo menos 35 pessoas ficaram feridas desde a noite desta quinta-feira (10/11), sendo duas em estado grave, durante confrontos entre manifestantes e forças de segurança no sul e no norte do Peru. O alvo dos protestos, que incluem greves e bloqueio de estradas, são duas mineradoras acusadas de danos ambientais que prejudicam as populações indígenas locais.
Segundo os manifestantes, a atividade de mineração tem afetado a disponibilidade e a qualidade da água em Cajamarca (norte do país) e Andahuaylas (no sul).
Efe
Confrontos entre polícia e manifestantes deixou 27 feridos na noite desta quinta-feira
Na noite anterior em Andahuaylas, os manifestantes enfrentaram a policia e houve um incêndio em um prédio do governo regional de Apurímac. Os ministros de Meio Ambiente e de Agricultura e o vice-ministro de Meio Ambiente, haviam chegado de Lima para negociar com aqueles que demandavam atenção aos efeitos da mineração informal, no entanto, antes de chegarem a um acordo, os ministros se retiraram.
Segundo o informativo La Mula, o vice-ministro José de Echave teve que proteger-se em uma delegacia para não ser agredido.
O representante da Defensoria do Povo em Andahuaylas, Artemio Solano, disse ao Opera Mundi que havia uma aparente calma nesta manhã de sexta-feira. “Estamos orientando a população a ter calma e começamos nosso trabalho humanitário nas delegacias para ver a situação dos detidos”.
Solano confirmou que até a última noite registrou 27 feridos nos hospitais locais e que duas pessoas foram transferidas para Lima devido à gravidade do caso. Por outro lado, Solano informo que o vice-ministro havia firmado a ata e se comprometido a conseguir as assinaturas dos ministros quando regressasse à capital.
Presidente ausente
Em meio aos conflitos, o presidente Ollanta Humala viajou para o Havaí com sua esposa, a primeira dama Nadine Heredia, para participar do encontro da APEC, a cúpula comercial do Pacífico. Na noite de quinta-feira, quando – por meio das redes sociais – na capital se tomava conhecimento das notícias das possíveis mortes em Apurimac, seus críticos cunharam a hashtag #naohapresidente e exigiam que o chefe de Estado retornasse ao país.
Efe
Ollanta Humala foi criticado por viajar ao Havaí em meio aos conflitos por causa da mineração
Em declarações à emissora RPP, o premiê Salomón Lerner Ghitis, assegurou hoje que o governo fará prevalecer o Estado de direito e ordenou o desbloqueio das estradas nos departamentos em que ocorrem os protestos.
Por telefone, o prefeito de Huancarama, Pablo Sante, localizada a 70 km de onde aconteceram os atos de violência de ontem a noite, confirmou ao Opera Mundi que não havia transporte entre Abancay e Andahuaylas. “Estou preocupado porque sei que já há uma coordenação para que a minha região também entre em greve, caso não haja uma solução”, disse Sante.
“Há algumas instalações de mineradoras em Andahuaylas com autorizações que não foram de conhecimento dos agricultores e da população. Além disso, não há uma demarcação territorial da mineração artesanal, há um pouco de desordem do governo regional de Apurímac para solucionar o caso”, observou Sante. “Os projetos estão localizados em fontes de água, e como é uma bacia grande, o rio está se contaminando. Solicitou-se a intervenção do governo regional e do governo nacional e não houve interesse”. A paralisação começou no dia 3 de novembro em Andahuaylas, convocado especialmente pelo Conselho de Usuários de Riego.
Riqueza e pobreza
Paradoxalmente, também houve uma greve ontem em Cajamarca, sede de Yanacocha, a maior mineradora de ouro no país e na América do Sul e também de um novo empreendimento das empresas Newmont e Buenaventura. O projeto Conga, calculam os porta-vozes, irá gerar cerca de 7.000 empregos em uma cabeceira da bacia de Cajamarca, e está avaliado em 4,8 bilhões de dólares.
Além disso, ontem também começou uma greve de 48 horas no departamento de Ancash (no norte) em protesto pela contaminação causada pelas mineradoras Antamina e Huallanca Contonga. Não houve informações de atos violentos nos 16 distritos que acataram à paralisação.
O Peru é o sexto país no ranking de produção de ouro, no entanto, a maioria da população dos três departamentos onde ocorrem os protestos contra as mineradoras é pobre. O diário La República, citando cifras oficiais e de duas ONGs, reportou ontem que em Apurímac, 69,5% da população é pobre, em Cajamarca é 45,5% e em Ancash é 38,9%.
As redes sociais mostraram ontem pela noite um vídeo no qual o presidente Humala, quando era candidato presidencial, prometeu cuidar da água em Cajamarca. “O que é mais importante, a água ou o ouro?”, disse na época, em alusão ao projeto Conga, cujo Relatório de Avaliação de Impacto Ambiental (EIA) foi questionado. O governo anunciou na terça-feira que revisará tal informe, mas a empresa Newmont pediu para não paralisar as operações enquanto isso ocorre.
De acordo com o último Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD, 19,9% da população peruana vive na pobreza multidimensional, ou seja, com más condições de saúde, educação e prejudicados pela degradação ambiental. O Peru é o segundo país da América do Sul com uma maior porcentagem da população nesse quesito, depois da Bolívia, cujo índice de pobreza multidimensional é de 20,5%.
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