“Um jogador perde sempre. Perde dinheiro, dignidade e tempo. E, se vence, tece em torno de si uma teia de aranha.”
Proeminente filósofo e médico, além de grande estudioso da Tora, Moses ben-Maimon, mais conhecido como Maimônides, morre em 13 de dezembro de 1204, no Egito, aonde passou grande parte da vida.
Nascido em Córdoba, na Espanha, em 1135, é tido pela tradição rabínica como o único membro do povo judeu a alcançar envergadura semelhante à que possuía o profeta Moisés. É curioso e irônico que tenha boa parte de sua obra proibida pelas cúpulas judaicas. São Tomás de Aquino cita-o com freqüência, o que comprova a forte influência que exerceu sobre o pensamento cristão medieval.
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Ao tomar Aristóteles como referência, o filósofo empreendeu uma nova perspectiva sobre toda a tradição judaica. Em sua “Epístola sobre a apostasia”, deu conselhos aos judeus sobre como agir sob a opressão. Séculos depois, suas premissas permaneceriam uma referência para os “marranos” perseguidos pela Inquisição.
Ele é autor de treze princípios dogmáticos para a fé:
1 – Deus Existe;
2 – Deus é único;
3 – Deus é espiritual e incorpóreo;
4 – Deus é eterno;
5 – A adoração é reservada somente para Deus;
6 – Deus se revelou através de seus profetas;
7 – Moisés foi o primeiro entre os profetas;
8 – Deus entregou suas leis no Monte Sinai;
9 – A Torah é imutável como lei de Deus;
10 – Deus conhece as ações humanas antes delas acontecerem;
11 – Deus recompensa o bem e pune o mal;
12 – O messias vai vir;
13 – Os mortos vão ressucitar.
Em O Guia dos Perplexos, ele busca harmonizar as tensões entre a filosofia e a teologia. Para ele, se as coisas existem (e elas existem conforme comprovamos empiricamente) é obrigatório que exista também um Ser necessário. E isso acontece porque a existência demanda uma causa, e esta causa é o Ser necessário. Deus tem conhecimento de todas as coisas, mesmo das coisas específicas. Mas o fato de Deus possuir conhecimentos acerca de todas as coisas não significa que esse conhecimento, por sua vez, seja múltiplo. As coisas mudam na mesma medida com que seu conhecimento permanece o mesmo. O conhecimento de Deus é único, pois são as coisas que dependem do seu conhecimento, e não o contrário.
Nós não temos como conhecer as coisas através da nossa razão antes que elas se assumam como o que são. Só podemos conhecer as coisas em ato e não as que ainda estão em potência. Assim sendo, Maimônides conclui que não podemos pensar na tese da eternidade, mas podemos sim pensar na tese da criação. Pensar na criação, além de possível, é um pensamento certo, pois as coisas e os seres já estão em ato, já existem.
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O ato de criação foi um ato livre e não um ato necessário. Se o mundo é da forma como o temos, trata-se de uma escolha feita por Deus. O mundo pode até ser diferente, mas então o provaremos como absolutamente desnecessário, e, se ele não é necessário, deixa de ser eterno.
O homem é livre tanto para conhecer o que quiser como para agir da forma que quiser. Mas Deus, através da sua providência, conhece também o futuro das ações humanas. Essas duas coisas – o homem é livre e responsável por seus atos e Deus já tem predeterminado o futuro –, podem parecer contraditórias. Em Maimônides, contudo, elas são conciliáveis.
Em que medida se dá essa conciliação é que não sabemos.
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